segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Recordando o Passado

O CASCO ANTIGO DE TORCENA

    Seguindo a rota de visita do Museu Etnográfico, vamos encontrar o casco antigo de Torcena, casas térreas com mais de cem anos de existência, onde viveram várias famílias ao longo dos anos, que muito dignificaram esta localidade.
  Mesmo junto às granadas colocadas ali posteriormente, calcula-se que por volta dos anos quarenta, aquando das comemorações do quarto centenário da existência da Fábrica da Pólvora, quando foram feitos alguns embelezamentos, nomeadamente a colocação dos painéis de azulejos à entrada do portão sul daquela unidade fabril, trabalho executado pelo pintor Jorge Colaço, vamos encontrar uma série de casas que hoje representam a antiguidade desta terra que já tem registos desde o século XIII, aquando tudo pertencia a comunidade dos “Homens de Torgena”, clã dedicada à agricultura.
  Algumas dessas casas têm recebido beneficiações desde sempre, muitas até já foram trocadas por edifícios modernos, como aconteceu com a casa da mãe da Elvira Loura, e o armazém do Vítor Marques que foram transformados num café e num Pub.
  Todavia ainda vamos encontrar a moradia do Vítor Marques, também antigo funcionário da Fábrica da Pólvora, casado com a ti Palmira e pais da Ivone Pires e do Desidério Marques.
 Mais ao lado, geminada, encontra-se a casa onde viveu a família do Ilídio Figueiredo, casado com a Luísa do Décio, que também era guarda na Fábrica da Pólvora.
     Na rectaguarda está a casa onde viveu a família do Alfredo Pires e outras famílias, até chegarmos ao edifício onde se encontra hoje o restaurante Parreirinha, que antes era uma taberna e carvoaria, um lote de casas que mostram bem a antiguidade deste lugar.
 Mesmo junto ás granadas que dão início à estrada militar dos eucaliptos, de acesso à Fábrica da Pólvora, vamos encontrar casas também muito antigas que de momento se encontram em total ruína, como aquela onde viveu o Manuel Martins, motorista profissional de táxi e a sua esposa Carmina, e ao lado, geminada, viveram outras famílias, uma delas era a do António Sapateiro, mas antes, logo no início do século XX, ainda nos recordamos de ter lá vivido, nesse recanto, com divisões minúsculas a família da Pipa que era lavadeira e seu marido funcionário da Junta de Freguesia, cujo trabalho era acender todos os dias os candeeiros urbanos que funcionavam a petróleo nas ruas da freguesia.
   Num espaço muito mais alargado, pois possuía quintal, vivia o velho General, que apenas era militar pela alcunha que possuía, pois conhecemo-lo sempre como pedreiro, casado com a Rosa Zeferino, pais da Natália que viria mais tarde a casar com o João Boletas natural da Agualva mas jamais deixando esta terra.
    Esse espaço fora sempre muito bem preservado e ainda hoje se encontra alindado e com boas condições de habitabilidade.
  Mesmo em frente do lado oposto da rua empedrada, que esteve muitos anos sem nela passarem carros, devido os portões se encontrarem sempre encerrados existia o quintal do Calmaria que possuía uma mercearia mesmo no largo da Tenda, onde o João Galego, tivera a honra de criar um dos primeiros comércios da terra, vendendo de tudo um pouco.
   Nesse espaço, mesmo colado às granadas que ladeavam o portão de entrada da Fábrica, onde mais tarde o seu filho guardava a sua burra já que possuía, uma carroça para o seu serviço, morou por misericórdia uma família muito pobre cujo patriarca e filhos trabalhavam na Fábrica da Pólvora, mas a matriarca, a Ludovina, governava-se de alguns biscates que fazia, nomeadamente lavar roupas, limpar casas e outros serviços domésticos,
   Um dos filhos por infelicidade, precisamente o Valentim acabaria por morrer afogado na praia da Ericeira e o outro, o Rui desapareceu por completo do lugar que nunca mais ninguém lhe pôs a vista em cima
    A Ludovina e os seus filhos, viviam numa barraca sem as mínimas condições, pois nesse tempo, anos quarenta e cinquenta a vida era demasiado difícil e devido à fraqueza das receitas que auferiam para seu modesto lar, se obrigavam aquele martírio, saindo dali, depois de melhorada a situação especialmente das duas filhas, a Cremilde e a Maria, que após o casamento, abandonaram o local, mas a mulher essa ficou, sendo mais tarde recolhida por uma das raparigas, pois, embora a barraca tivesse de ser demolida, para nesse espaço se construir habitação, a pobre senhora sofria de perturbações mentais.    
  Mesmo junto a essas casas antigas existia a Calçada do Jordão, pois recebeu esse nome devido a meio da artéria viver um senhor com esse nome, mas a estrada empedrada, o que ainda hoje acontece, era muito antiga, pois dizia-se que deveria ter mais de trezentos anos, pois era uma alternativa para o pessoal oficinal atingir a Fábrica de cima.
  Foi sempre uma calçada sem grande movimento, servindo apenas os moradores desse bairro que, aos poucos o velho Jordão foi construindo, casas que ainda hoje existem, mas esse arruamento encontra-se praticamente como nesse remoto tempo, sendo mesmo um dos locais mais antigos de Torcena.
   Mesmo no largo, que desde sempre recebera o nome de 1º de Maio, encontra-se a mercearia do “Lagarto”, cujo edifício está completamente abandonado, degradado e sem qualquer utilidade, e no estado em que se encontra, só depois de executadas avultadas obras, poderá ter alguma utilidade, casa onde se encontra gravado em azulejo, o nome antigo da terra “Torcena”, edifício que ainda se encontra naquele estado por a família não estar muito interessada em recuperá-lo.
  Ao lado dos muros do Quintal do Vítor Marques, hoje transformado num moderno café, encontra-se a casa que pertenceu à Laura do Quirino, onde viveu até aos seus últimos dias de vida, só que em 1933, essa pobre mulher acabaria por ficar viúva devido o chefe de família ter encontrado a morte numa terrível explosão na Fábrica da Pólvora.
    O núcleo antigo da localidade envolvia ainda algumas casas que comunicavam com o caminho da fonte e lavadouro municipal, que seguia para o lugar do Bico, pois toda essa artéria, onde não podiam circular viaturas é também muito antiga.
    Hoje tem o nome de Travessa 5 de Outubro e começa precisamente com a casa do Donões que foi maquinista de caminho de ferro nesse tempo e do outro lado, de uma velha casa que acabaria por ficar mesmo no meio da rua principal, depois do alargamento da Av. Santo António, devido a teimosias dos seus inquilinos, imóvel pertencente a um sargento do Exército, morador em Laveiras, mas nele vivia uma família composta por casal e duas filhas, o Senhor Mateus, a D. Esperança e as suas duas excêntricas filhas, Dinora e Gabriela.
   O núcleo antigo dispersava-se depois até à igreja com uma casa aqui e acolá, terminando mesmo no casal da Azarujinha, a caminho de Massamá, onde vivera a família dos “Guizos”, a uns metros antes, a família do Tapiço e quase ao lado situa-se ainda hoje a linda vivenda “Quinta das Lindas” que pertenceu a um comerciante de tapetes da capital, ocupada durante muitos anos pela família do Jacques Pinto, mas hoje propriedade da Câmara Municipal de Oeiras. 
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