segunda-feira, 30 de abril de 2012

Um dos melhores trabalhos de Fernando Silva

MAIS TRÊS OBRAS QUE MOSTRAM CLARA E FIDEDIGNAMENTE COMO SE ACTUAVA DENTRO DA LENDÁRIA FÁBRICA DA PÓLVORA DE BARCARENA
        Fernando Silva, quinze anos dedicados à Fábrica da Pólvora conhecedor da vida daquela empresa fabril do Estado e mais tarde companhia particular, tornada no maior parque de lazer e cultura do concelho de Oeiras, acabou de escrever o seu último livro sobre a vida naquela empresa.
   Após este último trabalho, Fernando Silva completou a série de três volumes, onde narra em profundidade as principais razões de ter sido sempre uma Fábrica virada para o insucesso, depois de ser adquirida por uma firma belga, a Companhia de Pólvoras e Munições de Barcarena, em Novembro de 1951, histórias ocorridas durante a sua estada enquanto empregado e portanto registo das últimas facetas que a levaram ao definhamento em 1988.
     O trabalho começa primeiro por contar a história trepidante, porque não emocionante de um dos trabalhadores fabris, “Felner Duarte”, cujo ódio a Salazar era tal que o levou à prisão e posteriormente deportado para Timor onde viria a encontrar a morte, assim com mais dois companheiros Júlio do Rego e António Silva que protagonizaram uma das mais importantes aventuras dos anos trinta em Barcarena.
   O segundo volume, “Degredo e Negligência” narra alguns acontecimentos dentro da Fábrica da Pólvora, mais propriamente a vida dos operários polvoristas, seus martírios dentro de um ambiente francamente desumano e degradante e fortemente acompanhado da grande negligência com que se actuava e decidia dentro da Fábrica e por último, “Um Anjo Explosivo”, a vida de um simples escriturário administrativo que tudo fez para ajudar o operariado, acabando por sofrer as consequências da sua dedicação, face a tantas contrariedades que o revoltavam no seu dia a dia.
    Estes três trabalhos aguardam a publicação por parte das entidades autárquicas de Oeiras, por o autor considerar um verdadeiro testemunho do ocorrido naquela empresa fabril, desde os primeiros anos do século XX, não esquecendo o embrião da Fábrica e as histórias adjacentes a ela.
       Os factos descritos, são considerados de grande valor histórico e patrimonial, que devem ser preservados, para mais tarde se poder analisar e avaliar o quão difícil foi viver em Barcarena e sobretudo trabalhar naquele verdadeiro degredo que ceifou a vida a muita gente ao longo da sua vida, através das terríveis explosões, trabalhos que poderão ser analisados por quem por eles tiver interesse, exclusivamente na Biblioteca da Quinta do Filinto em Tercena, a funcionar das 10 às 22 horas.
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sexta-feira, 27 de abril de 2012

Fábrica da Pólvora

PERÍODO DA REAL FÁBRICA DE BARCARENA
NO REINADO DE D. JOÃO V
     A Real Fábrica da Pólvora de Barcarena, foi construída oficialmente no século XVIII, mais propriamente em 1729 no reinado de D. João V, na época onde imperava o “Absolutismo”, onde foram criadas grandes obras em Portugal, como o Aqueduto das Águas Livres em Lisboa e o Convento de Mafra, entre muitas outras importantes obras.
  D. João V, que reinou desde 1 de Janeiro de 1707 a 31 de Julho de 1750, a quem foi atribuído os mais diversos cognomes, como o “Magnânimo”, “o Magnífico”, o “Rei Sol Português” e ainda o “Freirático”, nomes com que foi conhecido, os primeiros pela grande riqueza patrimonial criada no país e o último pelas suas aventuras com as freiras dos conventos, foi quem determinou alterar o regime de fabrico de pólvoras no país, por saber que essa actividade estava a funcionar muito mal, já que vinham sendo atribuídos alvarás de exploração do fabrico desse produto explosivo aos mais diversos empresários, que nessa altura viviam da sua habilidade e arrojo na fabricação dessa perigosa matéria.
    As fábricas ou engenhos como lhe chamavam espalharam-se durante vários anos pelas margens da ribeira de Barcarena, que nasce em Almornos vindo desaguar a Caxias, no Rio Tejo, já dentro do concelho de Oeiras, mas funcionando de forma artesanal, obsoleta e como tal explodiam com frequência não havendo um mínimo de segurança.
    Essas fábricas eram criadas nas margens do ribeiro, aproveitando-se o curso de suas águas que passavam por dentro da Fábrica da Pólvora, o que foi aproveitado para lhe dar vida, pois a força hídrica foi a que imperou durante alguns séculos para colocar em funcionamento toda a maquinaria existente, primeiramente as Ferrarias Del Rey que D. João II criara, um pouco a montante das novas instalações da nova unidade fabril e posteriormente nessa mesma nova fábrica.
  As Ferrarias Del Rey foram construídas no século XV, mais propriamente em 1487 por D. João II, visando já inteligentemente a futura epopeia através dos Oceanos, tendo encerrado em 1695, finais do século XVII, depois de mais de dois séculos de laboração, onde se conceberam e fabricaram as mais diversas armas da época, que serviram na grande epopeia marítima, que mais tarde, D. Manuel II as utilizou na descoberto do mundo, e onde Portugal foi “rei e senhor” através da grande coragem, valentia e arrojo lançando-se por esses mares na descoberta dos mais ricos e importantes territórios espalhados pelo mundo.
  A água era desviada da ribeira de Barcarena para um açude, e canalizada através de uma levada que a transportava até à referida fábrica, e armazenada numa caldeira, existente na fábrica do norte, onde se encontravam as referidas Ferrarias e onde se fabricou o mais diverso material bélico.
   Armas, de defesa, bacamartes, escudos espadas peitoris e tantas outras peças de cariz bélico, foram ali construídas nesses mais de dois séculos, até que foi contratado António Cremer, um suíço entendido na especialidade que construiu uma fábrica segura que se manteve durante muito tempo no espaço onde hoje existe o Museu da Pólvora Negra, já que nos anos cinquenta, no tempo em que governava a Companhia de Pólvoras e Munições de Barcarena (1951-1988), nesse espaço funcionavam os armazéns gerais da respectiva unidade fabril do Estado.
    A Fábrica nova que garantia uma maior segurança aos operários de Barcarena, laborava com um sistema hidráulico não muito complexo, mas funcional, pois toda a água era aproveitada do ribeiro, que em períodos do ano era desviada do seu leite para esse açude existente ainda hoje no lugar do Bico, mas em estado degradante e fazia encher as caldeiras de reserva, que existiam dentro da fábrica.
   As chuvadas que caíam no período de Novembro a Junho eram aproveitadas e como tal desviadas para essas levadas, que, quando enchiam as caldeiras deixavam de receber, sendo encerradas as comportas do açude existentes no Lugar do Bico, mas completamente desmanteladas em ruínas.
    Primeiramente, águas que alimentavam o funcionamento das máquinas nas Ferrarias Del Rey e depois, já na era de Cremer, a nova caldeira construída mesmo ao lado da nova fábrica onde funcionavam as galgas de fabrico das pólvoras.
    A levada trazia a água até à fábrica de baixo e aí as mesmas caíam sobre os engenhos, quais noras ali montadas que faziam girar as engrenagens portadoras de pás que faziam mover os engenhos, então chamados “galgas” e assim se trabalhava dentro desta lendária fábrica que foi a alegria e a tristeza de muita gente, quase toda oriunda da freguesia de Barcarena.
   Recentemente, José Luís Gomes especializado na cultura e historial desta antiga fábrica de explosivos, mostrou aos visitantes assíduos da Fábrica da Pólvora, não só o espaço geográfico da mesma onde foi criada uma exposição denominada “Fio de Memória”, como explanou toda a “reinauguração da Real Fábrica da Pólvora 1729”, e o seu funcionamento através da força hídrica.
   A Fábrica surgiu numa época áurea do pais, onde o monarca D. João V, dotou Portugal, não só de um grande número de igrejas, algumas de grande arquitectura e outras simples capelas, mas que acabaram por ser funcionais como ainda hoje conhecemos a dedicada a Santo António em Tercena, assim como muitas outras obras de grande envergadura, como o convento de Mafra, e o Aqueduto das Águas Livres na capital portuguesa.   
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segunda-feira, 23 de abril de 2012

Crítica à nova produção

A REVISTA À PORTUGUESA DA
 ASSOCIAÇÃO CULTURAL DE TERCENA
 É DE FACTO UM ÊXITO
     A revista à portuguesa estreada na Associação Cultural de Tercena em 30 de Março “Os Filhos da Troika Saloia” após três sessões tem sido alvo de grandes elogios, pois trata-se de um espectáculo actual, moderno, alegre e sobretudo etnográfico.
   Etnográfico porque tem quadros que retratam Tercena no seu passado, como a história que caracterizou o encerramento da capela de Santo António em 1917 em que um grupo de malfeitores tentaram roubar a colecção de azulejos sobre a vida desse santo tão popular no nosso país, mas que um grupo de moradores, pese embora já tivesse sido retirado das paredes do altar uma parte, impediu com determinação.
  A revista, mostra ainda um quadro onde retrata, três das figuras mais castiças nos anos 40 do século passado em Tercena, como foram o “Pedro Siga a Dança” pastor do agricultor João de Peles, sua mulher a “Sebastiana” e ainda o cantoneiro da Câmara Municipal de Oeiras, Clemente Antunes, mais conhecido pelo “Cu Negro”.
    Para além destes quadros mostra ainda uma suposição como teria sido a vida dos primeiros habitantes de “Torgena”, no século XIII, onde uma clã aqui se estabeleceu dando a todo o espaço geográfico onde se integra a actual Tercena, denominada “propriedade dos homens de Torgena” que vivia essencialmente da agricultura.
    Revista que se caracteriza pelo facto de mais de metade do elenco ter sido a primeira vez que pisou o palco e logo alguns dos seus elementos se destacaram, como aconteceu com Ana Valido, Cidália Santos e Patrícia Marques e o grupo de danças formado por crianças.
  O êxito acresce ainda com a actuação dos consagrados, como são Emília Silva e Joaquim Peres, que desde sempre se mostraram com grandes tributos para esta arte dramática, ao lado de Luís Silva, Bebiana Salsinha e Leonel Lourenço que francamente se mostram já com grande presença técnica e dramática, apesar de terem feito ainda poucos espectáculos.
     A grande evolução cénica vai inteirinha para Joana Silva com a sua enorme presença em palco e o improviso adequado e oportuno, sempre necessário neste tipo de espectáculos, Carolina Santos, onde a confirmação do seu valor multifacetado é uma facto indesmentível e Frederico Monteiro, com a sua singeleza, mas dotado de excelente humor e vontade de singrar, não esquecendo a colaboração de Sara Monteiro que interpreta um extraordinário papel de velha em fase terminal, um momento dramático de grande significado e que quase todos os idosos se obrigam a passar por ele.
   Os demais são figuras que completam o elenco e que o valorizam acabando por dar o seu melhor contributo, num espectáculo onde Fernando Silva tentou fazer o seu melhor, adaptando os elementos que reunia, o que não foi nada fácil, mas prescindindo da espectaculosidade cenográfica, tão vulgar neste tipo de teatro, por não possuir, infelizmente, ninguém que executasse os cenários necessários, o que acaba por ser uma enorme carência, apenas ultrapassada pela qualidade de algumas interpretações.
   Um espectáculo que conta ainda com a criatividade musical de Hugo Botica, apoiada pelo acompanhamento ao vivo, executado por Jorge Mendes e seu órgão electrónico, acabando tudo por contribuir para um sucesso de casas cheias, onde em apenas três sessões realizadas a colectividade já registou uma presença de 212 espectadores, dentro de uma sala que comporta apenas setenta pessoas.
  No espectáculo da 26ª Mostra de Teatro de Oeiras, a sala estava atulhada com cem pessoas presentes, estando quase metade da lotação de pé, por não possuir lugar sentado, e ninguém se atreveu a sair dela.
   Dizia a responsável por estas iniciativas promovidas pela Câmara Municipal de Oeiras que “o aumento de público nos espectáculos da Mostra de Teatro deste ano, deve-se ao facto da crise inibir muita gente de assistir aos grandes espectáculos de teatro profissional de Lisboa, por falta de verbas, e optar por estes apresentados pelos amadores e principalmente desta iniciativa que são gratuitos”.
    A verdade é que, para além desse facto, que na realidade ultrapassou todas as perspectivas, os outros dois também tiveram lotações numerosas, o que obriga a colectividade a pensar em novas sessões, mas infelizmente só as realizando quando os amadores encontrarem disponibilidades, estando dependente dos serviços que cada um desempenha e isso é de momento o grande inconveniente e elo inibidor da não se apresentarem mais sessões seguidas.
      De qualquer forma a colectividade está a planear outras datas que por certo irão ser igualmente bem lotadas de público, porque na realidade a peça “Os Filhos da Troika Saloia”, é um espectáculo digno de se ver, não só pela actualidade que apresenta, a crítica constante à incomodativa “Troika” que nos assolou, como pela qualidade, não só do texto, da graciosidade e valia de muitos dos seus intérpretes, portanto aqui deixamos votos para que as pessoas apareçam na Quinta do Filinto porque na realidade vale a pena, tratando-se mesmo de mais um grande êxito, não só de Fernando Silva, que escreveu e encenou este texto, considerado dos melhores concebido ao longo da sua já longa carreira como autor e encenador, como pela boa disposição que o espectáculo produz de princípio a fim e ainda pela grande lição de etnografia que se recebe nesta 21ª produção teatral da Associação Cultural de Tercena.
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