quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

Os quadros a óleo de Fernando Silva

OS QUADROS A ÓLEO LEMBRAM VIDAS E LOCAIS DE OUTROS TEMPOS

       São vários os quadros pintados a óleo existentes no Museu Etnográfico de Tercena, na sua grande maioria de autoria do criador do mesmo, que desde muito novo manifestou algum gosto pela pintura, mas por nem sempre lhe ter chegado a inspiração, pois só de tempos a tempos ele conseguia pintar, nunca se formou nesta actividade pictórica.
  Os quadros existentes são por isso antigos, lembram vidas e locais antigos desta terra, muitos pintados antes dos anos sessenta, outros da década de setenta, sem grande significado, mas focam, logo à partida, o grande gosto e estilo que o seu autor sempre manifestara e também o seu espírito conservador, daí ter criado um certo interesse pela museologia, na medida em que nunca pensou em vendê-los, pese embora tivesse sido assediado para tal.
    A pintura para ele, era como que conceber um filho e custava-lhe muito ver sair de sua casa um trabalho seu, com tudo em 1997, Fernando Silva ao fazer uma série de pinturas, todas elas relacionadas com a etnografia de sua terra, pintou uma colecção de casais agrícolas da região, alguns, de momento, já desaparecidos e outros em via de degradação total, que se destinava a ser conservada um dia mais tarde numa sala do museu.
    No momento da exposição ao público, Fernando Silva foi confrontado com os proprietários dos motivos pintados por ele, viu-se na obrigação de vender alguns, que na realidade, não sendo caros, lhe valeram algum dinheiro que deu para o investimento havido com aquela colecção de 21 quadros.
  Na realidade, o dinheiro acabou por desaparecer num ápice, mas a obra, essa, a grande essência do seu trabalho, sumiu-se de suas mãos e isso foi um dos principais factos que levaram o autor a não vender mais nenhuma obra sua, mesmo que ele próprio a tivesse considerado má.
   Assim aparece uma vasta colecção de pinturas de várias épocas, que medeiam desde os anos sessenta até aos nossos dias, mas todas elas merecendo por parte do autor o mesmo carinho, o mesmo respeito, pois ele bem conhecia as diferenças que os separava, que na realidade vão desde o tempo da sua aprendizagem e puro desconhecimento da arte de pintar, aos momentos em que essa fase já tinha desaparecido e alguma técnica era imposta na pintura.
   Colocados em várias salas, são a realidade do seu trabalho  que considera, neste caso, recordações do passado, e porque não afirmar mesmo, serem verdadeiros retalhos de um pintor embora amador, frustrado, que nunca soube bem o que talhar para o seu futuro, se a escrita, se a pintura, mas na realidade ao não ter tomado essa grande e verdadeira decisão, ele considera-se um falhado, porque afinal em nenhuma das artes ele conseguiu singrar.
   Ficaram estas obras sem valor, sem reconhecimento, sem distinção para a posteridade e então quando ele desaparecer deste mundo poderá ser que lhe seja reconhecido algum valor.
   No Museu, por exemplo existe um grande cenário pintado em 1991, a propósito de uma revista teatral levada a cabo na Associação Cultural de Tercena, que, passará a ser uma verdadeira e digna obra de museu, uma vez que a estação de caminho de ferro  foi trocada por outra.
    Não pela qualidade da pintura, ou quaisquer segredos na arte, mas sim por se tratar de um edifício que desapareceu e assim, por esta forma, ficará ali retratado para sempre, uma vez que se trata da estação de caminho de ferro de Barcarena, construída nos últimos anos do século XIX e que, por muitas que tivessem sido as solicitações, ninguém conseguiu evitar a sua demolição.
   O Museu orgulha-se de o exibir, altaneiro numa das suas paredes e o seu autor, vaidoso porque se trata de um testemunho importante do progresso demográfico desta localidade da linha de Sintra, que viu partir dela com destinos variados, milhares de passageiros e depois, por não ter havido compaixão por estas antiguidades e preciosidades do passado, ficará aquele verídico testemunho que Fernando Silva muito se orgulha de ter pintado.
   Neste espaço museológico ainda vamos encontrar algumas pinturas de flores, legado por um grande amigo tercenense falecido em 1996, aquando, de visita a Portugal por se encontrar emigrado nos Estados Unidos, faleceu num acidente de viação.
  João Luís Carrega, tinha oferecido a Fernando Silva todos aqueles exemplares, por saber que a sua família não era muito apreciadora e quis malogradamente que o destino lhe roubasse a vida meio ano depois, nessa maldita visita que fizera à sua terra, Tercena.
  Não só pela qualidade dos trabalhos, mas também pelas razões já apontadas, se trata de uma recordação de um amigo, de um tercenense infeliz e testemunho de uma morte inesperada.
As pinturas encontradas no Museu, são bem identificativas do estilo de seus autores e marcam locais, muitos já desaparecidos e só por isso, serão dignos de figurarem no Museu Etnográfico de Tercena, de que o seu criador muito se orgulha de ter concebido e que se encontram expostas  podendo  ser visitadas a qualquer  hora do dia em Tercena na Quinta do Filinto.
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