terça-feira, 20 de março de 2012

Barcarena e os seus "Soldados da Paz" centenários

BARCARENA VIVEU SEMPRE À VOLTA DA SUA QUERIDA CORPORAÇÃO DE BOMBEIROS

A localidade de Barcarena, conheceu muito cedo diversas estruturas sociais, devido os seus habitantes possuírem esse desejo, uma vez que, como a maioria trabalhava na Fábrica da Pólvora de Barcarena, sentia-se deveras explorada e como tal, desde sempre travara uma enorme luta contra a ditadura de Oliveira Salazar.
  Foram vários os cidadãos que foram presos por questões políticas e como tal, Barcarena esteve sempre debaixo de olho por parte das autoridades por mostrar esse grande espírito vanguardista e isso não ser normal naquela época, por não existirem noutras localidades do país com as mesmas características.
  Uma farmácia, um montepio, um jornal, um grémio agrícola, um sindicato, entre muitas outras, acabavam por deixar preocupado os governantes e por essas razões era sempre muito bem vigiada pelas autoridades, nomeadamente a Polícia do Estado.
  Um grupo de empregados da Casa da Moeda foi preso e depois a rebelião onde participaram Felner Duarte, Júlio do Rego e António da Silva o “Pirata”, aumentava ainda mais essa desconfiança.
    Ainda devido ao grande labor do seu povo, em 1880, foi criada uma colectividade que mantinha o seu agrupamento musical denominado “Sol & Dó” e foi dessa ideia que surgira a criação de um grupo de bombeiros, por o barracão onde se guardavam os instrumentos ter sido alvo de um violento incêndio e logo veio a ideia de que afinal o que Barcarena necessitava era de uma corporação de bombeiros.
    Recordamos ainda alguns dos fundadores que muito contribuíram para o desenvolvimento da Associação, como Cipriano Augusto, Ramiro de Oliveira, António da Costa Pereira, Manuel Jacinto entre muitos outros. 
    Três anos depois, foi inaugurado um fontanário no largo principal e a festa foi rija com as crianças a fazerem um desfile pela localidade.
 Os Bombeiros passaram a dominar as atenções de toda a população que tudo faziam para manter segura a sua terra e arredores e para isso muito importante foi a dedicação de alguns comandantes, como Francisco Cochicho, Cipriano da Purificação da Silva entre muitos outros.
   Este último saiu do activo em 1988, falecendo em 2009, mas enquanto manteve aquele cargo foi um grande benemérito que muito ajudou a corporação barcarenense com ofertas diversas.
   O desenvolvimento da Associação em várias áreas, aumentou o grande interesse pela colectividade que se mantinha, dando azo a que as actividades culturais desfilassem através das gentes locais e Alípio Seco acabaria por ser um dos grandes maestros da Banda de música que ali se criara.
   Com o decorrer dos anos a Banda Musical foi evoluindo, vários maestros por ela passaram e a mesma continuava a ser uma das melhores da região, contudo, por vezes havia conflitos entre alguns elementos, a direcção ou o comando e de momento até parece haver problemas pois a direcção suspendeu aquele agrupamento famoso, que ao longo deste seu primeiro século de existência só somou êxitos através da sua real potencialidade.
 A verdade é que hoje músicos que actuem gratuitamente vão sendo poucos e esta é uma das razões de algum desentendimento, pois sempre que tem de actuar têm que pagar a músicos e por isso a direcção queixa-se que não está a ser sustentável, e ainda acrescido do facto da Câmara Municipal de Oeiras ter reduzido os subsídios para a actividade cultural.
 Na área teatral, Ramirinho entre muitos outros distinguiu-se e o teatro passou a ser o grande orgulho da terra, pois sempre ali apareceram amadores de grande classe.
    As danças etnográficas foram também uma realidade naquela Associação, onde se distinguiram diversos elementos como o “Batata”, a Natália do “Laranja”, Maria Fonseca entre muitos outros que participavam também, nas mais diversas récitas, e cegadas pelo Carnaval, assim como os animados bailes que o seu cavalinho abrilhantava.
 Na área social os seus “soldados da paz” evoluíram de uma forma tal que hoje são considerados como elementos de grande qualidade, numa das melhores e mais profícuas corporações do concelho de Oeiras, mantendo um grande número de profissionais, um elevado número de viaturas, tendo por isso uma enorme despesa, suportada por alguns subsídios vindos de diversos organismos estatais e dos muitos serviços prestados cobrados à população.
    Mas recordando o início desta Associação de Bombeiros, as dificuldades eram enormes no tempo em que Francisco Cochicho era comandante, onde existia apenas uma ambulância e mesmo assim velha, cada vez que era solicitado os seus serviços tinha de sair da Fábrica da Pólvora um motorista para a conduzir.
  Em 1941, apareceu um carro de combate aos fogos, de grande classe e beleza, a que foi dado o nome de “Persistente”, onde António Pires e outros empregados da Fábrica da Pólvora o construíram, sendo a jóia preciosa daquele corporação, estando ainda guardado na sede da Associação como uma verdadeira relíquia do passado.
   Os bombeiros de Barcarena têm uma grande tradição sendo inclusivamente um valor histórico muito importante que urge ser preservado pelas camadas mais jovens, contando com o apoio, não só das muitas empresas que existem na área da Corporação, como pelos muito associados que possui e dos muitos serviços que presta à população.
      A Associação vai sobrevivendo, mas de momento, nos tempos difíceis que decorrem, aquela estrutura humanitária terá de evidenciar esforços no sentido de serem superadas as dificuldades, porque esta crise imposta pela “Troika” tem trazido enormes problemas, não só aos bombeiros como a todas as colectividades do concelho, devido ao corte drástico de subsídios e sobretudo os dirigidos a estas associações que zelam pela vida das populações, porque sem apoios, não poderão manterem-se com a funcionalidade como se deseja, e afinal como até aqui vinha acontecendo.
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