PERÍODO DA REAL FÁBRICA DE BARCARENA
NO REINADO DE D. JOÃO V
A Real Fábrica da Pólvora de Barcarena, foi construída oficialmente no século XVIII, mais propriamente em 1729 no reinado de D. João V, na época onde imperava o “Absolutismo”, onde foram criadas grandes obras em Portugal, como o Aqueduto das Águas Livres em Lisboa e o Convento de Mafra, entre muitas outras importantes obras.
D. João V, que reinou desde 1 de Janeiro de 1707 a 31 de Julho de 1750, a quem foi atribuído os mais diversos cognomes, como o “Magnânimo”, “o Magnífico”, o “Rei Sol Português” e ainda o “Freirático”, nomes com que foi conhecido, os primeiros pela grande riqueza patrimonial criada no país e o último pelas suas aventuras com as freiras dos conventos, foi quem determinou alterar o regime de fabrico de pólvoras no país, por saber que essa actividade estava a funcionar muito mal, já que vinham sendo atribuídos alvarás de exploração do fabrico desse produto explosivo aos mais diversos empresários, que nessa altura viviam da sua habilidade e arrojo na fabricação dessa perigosa matéria.
As fábricas ou engenhos como lhe chamavam espalharam-se durante vários anos pelas margens da ribeira de Barcarena, que nasce em Almornos vindo desaguar a Caxias, no Rio Tejo, já dentro do concelho de Oeiras, mas funcionando de forma artesanal, obsoleta e como tal explodiam com frequência não havendo um mínimo de segurança.
Essas fábricas eram criadas nas margens do ribeiro, aproveitando-se o curso de suas águas que passavam por dentro da Fábrica da Pólvora, o que foi aproveitado para lhe dar vida, pois a força hídrica foi a que imperou durante alguns séculos para colocar em funcionamento toda a maquinaria existente, primeiramente as Ferrarias Del Rey que D. João II criara, um pouco a montante das novas instalações da nova unidade fabril e posteriormente nessa mesma nova fábrica.
As Ferrarias Del Rey foram construídas no século XV, mais propriamente em 1487 por D. João II, visando já inteligentemente a futura epopeia através dos Oceanos, tendo encerrado em 1695, finais do século XVII, depois de mais de dois séculos de laboração, onde se conceberam e fabricaram as mais diversas armas da época, que serviram na grande epopeia marítima, que mais tarde, D. Manuel II as utilizou na descoberto do mundo, e onde Portugal foi “rei e senhor” através da grande coragem, valentia e arrojo lançando-se por esses mares na descoberta dos mais ricos e importantes territórios espalhados pelo mundo.
A água era desviada da ribeira de Barcarena para um açude, e canalizada através de uma levada que a transportava até à referida fábrica, e armazenada numa caldeira, existente na fábrica do norte, onde se encontravam as referidas Ferrarias e onde se fabricou o mais diverso material bélico.
Armas, de defesa, bacamartes, escudos espadas peitoris e tantas outras peças de cariz bélico, foram ali construídas nesses mais de dois séculos, até que foi contratado António Cremer, um suíço entendido na especialidade que construiu uma fábrica segura que se manteve durante muito tempo no espaço onde hoje existe o Museu da Pólvora Negra, já que nos anos cinquenta, no tempo em que governava a Companhia de Pólvoras e Munições de Barcarena (1951-1988), nesse espaço funcionavam os armazéns gerais da respectiva unidade fabril do Estado.
A Fábrica nova que garantia uma maior segurança aos operários de Barcarena, laborava com um sistema hidráulico não muito complexo, mas funcional, pois toda a água era aproveitada do ribeiro, que em períodos do ano era desviada do seu leite para esse açude existente ainda hoje no lugar do Bico, mas em estado degradante e fazia encher as caldeiras de reserva, que existiam dentro da fábrica.
As chuvadas que caíam no período de Novembro a Junho eram aproveitadas e como tal desviadas para essas levadas, que, quando enchiam as caldeiras deixavam de receber, sendo encerradas as comportas do açude existentes no Lugar do Bico, mas completamente desmanteladas em ruínas.
Primeiramente, águas que alimentavam o funcionamento das máquinas nas Ferrarias Del Rey e depois, já na era de Cremer, a nova caldeira construída mesmo ao lado da nova fábrica onde funcionavam as galgas de fabrico das pólvoras.
A levada trazia a água até à fábrica de baixo e aí as mesmas caíam sobre os engenhos, quais noras ali montadas que faziam girar as engrenagens portadoras de pás que faziam mover os engenhos, então chamados “galgas” e assim se trabalhava dentro desta lendária fábrica que foi a alegria e a tristeza de muita gente, quase toda oriunda da freguesia de Barcarena.
Recentemente, José Luís Gomes especializado na cultura e historial desta antiga fábrica de explosivos, mostrou aos visitantes assíduos da Fábrica da Pólvora, não só o espaço geográfico da mesma onde foi criada uma exposição denominada “Fio de Memória”, como explanou toda a “reinauguração da Real Fábrica da Pólvora 1729”, e o seu funcionamento através da força hídrica.
A Fábrica surgiu numa época áurea do pais, onde o monarca D. João V, dotou Portugal, não só de um grande número de igrejas, algumas de grande arquitectura e outras simples capelas, mas que acabaram por ser funcionais como ainda hoje conhecemos a dedicada a Santo António em Tercena, assim como muitas outras obras de grande envergadura, como o convento de Mafra, e o Aqueduto das Águas Livres na capital portuguesa.
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