quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

A arte dramática em Tercena existe desde 1928

A IMPORTÂNCIA DOS ENCENADORES
NA CONTINUIDADE DO TEATRO TERCENENSE

        Falar hoje da importante e profícua acção dos encenadores que passaram por Tercena, é um dever, uma obrigação, um momento de verdadeira reflexão sobre o futuro da arte de Moliére, para que todos possam conhecer melhor como nasceu o teatro nesta terra e quanto difícil vai ser mantê-lo por muitos mais anos.
     Não podemos esquecer nomes como Américo de Carvalho, o primeiro encenador que o GRT teve, Mestre Moreira, Augusto Martins, Fernando Martins, Libertário da Silva Freire, Filinto Silva que nos anos vinte e trinta, dirigiram teatro em Tercena, onde a capela foi transformada em santuário teatral, ao serviço do associativismo.
    Por exemplo, Américo de Carvalho, Augusto Martins, Fernando Martins, Mestre Moreira, entre outros foram responsáveis por grandes trabalhos, como “A Santa Inquisição”, “Recompensa”, “Migalhas também é pão”, “Dar corda para se enforcar” “O Ladrão de Casaca”, “Jogo de Rua” entre muitas outras peças, para além das habituais récitas de Carnaval que sempre foram a razão da descoberta de novos talentos na difícil arte de encenação.
    Vamos encontrar depois Joaquim Rodrigues da Silva o “Batateira”, que para além de grande amador dramático, era dotado de uma fibra muito especial para dirigir teatro, baseado na sua grande experiência como amador, de salientar o “Escravo” que ele próprio interpretou, ou não tivesse em sua casa o seu irmão, um prodígio na música e nas artes cénicas que deu pelo nome de “Jaime Barcarena”, grande maestro que deu brado como profissional.
 Joaquim Rodrigues da Silva faleceu recentemente e é dele que iremos falar, abordando inclusivamente alguns momentos da sua atribulada vida, mas jamais deixando a actividade teatral.
    Mas outros encenadores passaram por Tercena como Júlio Gonçalves, João Marques Boletas, exímios em dirigir drama, comédia e variedades, Júlio Marques com as suas operetas e teatros de Carnaval, Hermenegildo Cândido, talentoso mas infeliz no seu espectáculo de estreia, “A Justiça” de Ramada Curto, valendo para o fraco êxito na Mostra de Teatro a nível nacional para o Secretariado Nacional de Informação, a sua falta de experiência e a infelicidade de ter escolhido um autor com grande peso no panorama teatral português, porque para além dessas falhas o espectáculo foi excelente.
  António Pereira, algo frustrado nestas andanças de encenação, mais preocupado nas suas intervenções como amador, nunca tentou verdadeiramente a encenação, embora tivesse escrito inúmeros textos, mas mais interessado na interpretação, sendo mesmo considerado o melhor amador que passou por Tercena no século passado.      
    Surgiu depois a época de Fernando Silva, com larga experiência do teatro profissional, pois teve oito anos seguidos que não faltou a nenhum espectáculo que se estreasse na capital e isso deu-lhe vastos conhecimentos como encenador, tendo inclusivamente frequentado um curso prático no teatro da Trindade durante a peça de Hugo Bety “Lutar até de Madrugada”, onde assistiu desde o primeiro ensaio à última representação, com o apoio da sua vizinha a actriz, Isabel de Castro.
    Valorizou-se nas revistas à portuguesa que se representavam no Parque Mayer e foram êxito, a “Primavera em Tercena”, o “Tasse mesmo a ver não Tasse”, “Pernas ao Léu”, “Quem Sobe Sobe” “Haja Alegria”, ”Mas ca Ganda Pinga”, “A Sucata do Pantanal”, “Cuidado com o Pikoku”, “Recordar é Viver” “A Saloiada no Pantanal” “Oh Quem me acaba o Resto”, “Os Amiguinhos da Casa da Pia”, entre muitas outras, levando à cena mais de meia centena de espectáculos, comédias e dramas ao longo dos 25 anos que teve ao serviço do Grupo Recreativo de Tercena, e 17 na Associação Cultural de Tercena, todos de sua autoria, à excepção do “Lutar até de Madrugada”.
   Surge então Mário Raimundo que inicia a sua carreira como encenador nos anos setenta, marcando uma posição de grande destaque, com trabalhos de sua autoria e de António Pereira, mas limitando-se a actos de variedades transformados em improvisadas revistas que bastante força deram à colectividade e muitos amadores novos descobriram, alguns deles a sustentarem ainda hoje o elenco teatral do GRT.
  Nesta época surgiram ainda associados a Mário Raimundo, parcerias com Maria Lalande e Francisco Ferreira que assinaram trabalhos de alguma qualidade.
    Pessoas que sempre lutaram pelo teatro, pese embora todos eles com características bem diferentes, e foram essas diferenças que dignificaram e versatilizaram, o teatro desta terra, fornecendo diversas correntes específicas e criando amadores de grande nível artístico amador, pena foi que a sua grande maioria tivesse abandonado o teatro bastante cedo, como Horácio Queiroz, Sérgio Cunha,  Florêncio Aguiar, Fernando Henrique, Maria dos Santos, José Serafim da Silva, António Segurado, Pedro Cândido entre muitos outros.
   Depois da morte de Merceano Dias, um outro grande amador, resistiram a essa leva dos anos cinquenta e sessenta, os amadores, Emília Silva, Joaquim Peres e Mário Raimundo que ainda hoje, com mais de sessenta anos de idade ainda representam.
     Neste dia em que mundialmente se relembra o teatro, aqui deixamos um forte apelo para que as gerações vindouras e as que neste momento lutam contra a injustiça do grande público se ter divorciado das lides cénicas, fortaleçam a modalidade para que possamos continuar a mostrar a grande tradição do povo desta terra, pois foi o teatro que uniu casais, que fez amizades, que instruiu, dando palavra e conhecimento a analfabetos, experiência a muita gente, com múltiplos exemplos aprendidos em cima do palco que bem serviram para a vida quotidiana de cada um.
    O teatro profissional hoje vive, apenas com o sentido da sobrevivência dos actores, pois esqueceram-se as grandes produções, os clássicos autores e isto também tem a ver com o facto do público parecer mais interessado nos “reality shows” que as televisões apresentam, onde de teatro nada existe, apenas o nudismo, as irreverências, a falta de decência e de cultura dos seus intervenientes, o que não nos parece ser nada agradável para a manutenção e continuação da arte de Moliére no nosso país.
    É isso que prende o público ás televisões e entretanto as companhias de teatro mantém-se sem público, optando por produções baratas, com reduzido número de actores e a trabalharem apenas alguns dias por semana e não na sua totalidade o que define e bem a crise que o Teatro atravessa.
    Neste dia em que o teatro é sempre notícia em todo o mundo, desde os grandes grupos, às mais modestas companhias, aqui deixamos o nosso agradecimento e homenagem sincera aos encenadores de Tercena, que, se não fosse a sua insistência, o seu querer, a sua grande vontade de engrandecer a arte, hoje o teatro passaria despercebido nesta terra, como aliás acontece na maioria das localidades do nosso concelho, efeito que se estende a todo o Portugal.
       Pessoas, como Mário Raimundo, Francisco Ferreira, Maria Lalande, Fernando Silva, Hermenegildo Cândido, António Pereira, Joaquim Rodrigues, Júlio Gonçalves, João Marques Boletas, Júlio Marques, António Martins, Fernando Martins, Mestre Moreira, Libertário da Silva Freire, Filinto Silva, Américo de Carvalho e tantos outros, que honraram com os seus bons, ou maus desempenhos, conseguiram feitos que são hoje a grande honra e orgulho que todos nós exibimos, de sermos a única freguesia do concelho de Oeiras que mais grupos de teatro possui e todos eles em permanente actividade durante todo o ano.
    Que estes homens sejam um grande exemplo, um enorme incentivo, para poderem continuar a manter o teatro por muitos mais anos nesta localidade.
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