quarta-feira, 16 de março de 2011

A insensibilidade dos humanos

FERNANDO SILVA
 E A FORÇA QUE VEM DO BRASIL
  
    É inesquecível a viagem feita ao Amazonas em Abril de 2000 por Fernando Silva, integrado numa embaixada da Junta de Freguesia de Barcarena, pois para além de visitar toda a Amazónia do Pará, granjeou grandes amigos, como o historiador e filho do Marajó, José Pereira Varella.
  Essa viagem que teve o propósito de cimentar a geminação entre as duas “Barcarena’s”, do Pará e de Portugal, acabaria por cair por terra pouco depois, por nítido desinteresse, quiçá de ambas as partes, pese embora os portugueses ainda tentassem reactivá-la, contudo, a mudança de governo da Prefeitura de Barcarena do Pará, e obviamente a retirada dos seus antigos vereadores, fez desvanecer o projecto.
  Contudo essa viagem ainda proporcionaria uma outra que se concretizou no ano seguinte, onde o Rancho Folclórico “As Macanitas” se incluiu na embaixada portuguesa, mostrando e divulgando por diversos locais o seu folclore, os usos e costumes dos saloios barcarenenses, não deixando de referir e lembrar as histórias e aventuras de Francisco Xavier de Mendonça Furtado, irmão do Marquês de Pombal que entre muitas outras coisas, teve o arrojo de trocar o nome de muitas das localidades do Marajó, dando-lhes nomes de terras portugueses, numa inexplicável reforma toponímica do Pará.
    Francisco Xavier, nascido em 1700, e falecido em 1779 foi administrador colonial na qualidade de Governador Geral da Capitania do Grão Pará de 1751 a 1759 e também irmão de Paulo António de Carvalho e Mendonça, teve uma acção que não agradou aos brasileiros, ao mudar o nome das localidades nativas por nomes de terras portuguesas, precisamente um ano antes de abandonar o cargo que ocupava.
  Precisamente em 1758, no contexto histórico da expulsão dos Jesuítas de Portugal e colónias a mando do poderoso Marquês de Pombal, onde no Marajó, diversas aldeias das missões foram obrigadas a trocar de nome como, Maruanazes, hoje Soure, Joanes, passando a Monforte, aldeia da Conceição, actualmente Salvaterra, Aruans trocada por Chaves, aldeia das Mangabeiras, denominada actualmente por Lugar de Ponta de Pedras, Aricará, conhecida agora por Melgaço, Arucaru, hoje Portel, Araticum pela mais significativa, respeitante ao nosso concelho, precisamente Oeiras, entre muitas outras, o governador da Capitania, verificava com desagrado que a sua atitude não tinha sido bem recepcionada pelos locais, mas a sua força, o poder que lhe fora transmitido pelo irmão, então Ministro do Rei D. José, deixava a decisão completamente consumada.
    Foram duas viagens que deixaram os portugueses que ali se deslocaram bem marcados, não só pela forma entusiástica como foram recebidos e tratados, como pelo cuidado havido na sua segurança, cônscios de que, aquele grupo de visitantes vindos do outro lado do mar, teria de regressar sem beliscaduras e nisso não há ninguém daquelas duas embaixada que se possa esquecer.
  Afinal as promessas, os desejos, tudo quanto se planeara num agradável, profícuo e interessante intercâmbio, acabariam por morrer na casca, devido a uma nítida falta de vontade política e foi pena, porque muito se beneficiaria de parte a parte.
   Passados mais de dez anos, apenas se fala da boa intenção havida, de algumas gratas recordações, ficando apenas desse interessante e salutar convívio, a amizade entre dois homens que muito têm dedicado os seus tempos livres a suas terras, precisamente, José Varella no Marajó e Fernando Silva em Barcarena de Oeiras.
  Frequentemente são trocados textos relativos às actividades dos dois povos, histórias, pesquisas disto e daquilo e apenas só isto, quando muito mais poderia se fazer de grande interesse para as duas regiões, afinal para os dois países.
    É salutar lermos, decorrida uma década, comentários vindos do Brasil em que José Varella reconhece e dá ênface, e isso muito se lhe agradece, à dedicação de Fernando Silva, que jamais esqueceu essa amizade arranjada no outro lado do oceano.
    “Fernando Silva é um folclorista e historiador de Barcarena de Portugal que ama e conhece a nossa Amazónia paraense, amigo fiel ele não esquece de mandar-me amostras de seu incessante labor que muito gostaria de compartilhar com todos os membros do FPCP”, indicando obviamente “blogues” que narram histórias interessantíssimas da sua terra, e que acabam por ser lidas e apreciadas, trabalhos notáveis, de um rigor literário, elaborados por esse grande mestre e historiador que, em toda a sua vida, tem dedicado à grande ilha do Marajó.
   Esse reconhecimento é um bálsamo para o historiador amador e regional de Barcarena – Oeiras que não só se tem dedicado à sua região, como ainda se atreve a ir a outros lados, conversar com outras gentes, conhecer outras culturas do seu país, como tem acontecido há mais de uma década com os Açores, há mais de quarenta anos com a Madeira e recentemente com a aldeia medieval de Monsaraz, que no Brasil, precisamente no Marajó, também Francisco Xavier Mendonça Furtado obrigou injustamente, pela mesma forma das demais apontadas, rebaptizar deixando de se chamar Aldeia do Caya, passando então a possuir a nomenclatura da existente no Alentejo, do concelho de Reguengos de Monsaraz.
  São todas estas referências, estas amizades que une os dois dedicados historiadores, que confirma o interesse literário, e a vontade de desnudar todas essas histórias, muitas cobertas já, por uma forte camada de poeira, deixado pelo passar dos séculos, mas que se não fosse este interesse, nunca se viria a conhecer estes valores, quando no nosso país, na nossa terra, as sumidades, os homens do poder, que determinam e teriam a obrigação de referenciar com relativo ênfase, os autores destas descobertas, quais preciosidades patrimoniais, esquecem puro e simplesmente quem tem dado a conhecer as histórias do passado destas regiões de ambos os países.
     Uma grande falta de reconhecimento, que tem sido apontada, frequentemente, pelo menos no concelho de Oeiras, pelo próprio Fernando Silva, facto tão demarcante que o leva por vezes ao desânimo, à frustração, a ponto de perguntar a si próprio, “porque razão eu ainda me dedico a estas coisas se ninguém me dá valor nem importância ?”.
    “Sacrifiquei o meu bem-estar materialmente para me dedicar à minha terra e afinal, o que eu escrevo está na gaveta, ninguém lê. Nem “blogues”, nem “sites”, nem sequer o modesto jornal.”
  Será que vale a pena continuar ?
   O desânimo, obviamente, surge, só que de repente aparecem notícias vindas do Brasil, José Varella é um verdadeiro admirador de Fernando Silva e eis que nova luz surge ao fundo do túnel, os dedos voltam ao teclado do computador e assim tem sido ao longo destes últimos anos e só esperamos que assim continue até à hora do juízo final que já não deve tardar muito.
  Será que depois então é que se reconhece este ser que há mais de cinquenta anos se dedica com entusiasmo e verdadeira devoção à sua terra, às suas histórias, ao seu engrandecimento ?
    É bem possível que sim. Só que depois será tarde. Muito tarde mesmo, porque o autor de tudo isso já não existe. Já desapareceu e não poderá dizer, como seria seu desejo, obrigado pelo vosso justo reconhecimento!...
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