“BANDA DE BARCARENA”
UM VALOR QUE NÃO PODE SER ESQUECIDO
A propósito de um programa musical que passou na televisão, mais propriamente na “TV Memória”, veio-nos à lembrança a velha banda dos Bombeiros de Barcarena que tão bem tocava e tantos êxitos obtivera enquanto funcionara durante os seus 130 anos de existência.
A banda de música que fora o grande embrião daquela Associação Humanitária, nascida de um tão singelo “sol e dó”, acabara por ser a razão de se criar, na sede da freguesia uma corporação de bombeiros devido a ter havido um incêndio no barracão onde se guardavam os instrumentos e estes terem sido consumidos pelo violento fogo.
Inesperadamente, ao assistirmos àquele programa musical, que procuramos nunca alhearmo-nos dele à 4ª feira à noite, constatamos que a Banda de Barcarena fora convidada pelo La Féria para participar no programa que se realizava semanalmente no Teatro Politeama em Lisboa para a RTP, chamado “Cabaret”.
Ao vermos o programa musical, surgiu o actor José Viana a representar um monólogo em que encarnava a figura de um bombeiro voluntário e a saudade apertou ainda mais, ao tomarmos conhecimento de que antigamente até as pessoas importantes colaboravam activamente com as corporações de bombeiros.
António Silva, foi um dos grandes actores, que na qualidade de comandante dos bombeiros da Ajuda, e como todas as noites representava no Teatro Maria Vitória, no Parque Mayer, tinha sempre o telefone ligado à sua corporação, para lhe poder valer caso houvesse algum problema.
Isto era de facto o expoente máximo do amor que as pessoas dedicavam àquela nobre e humanitária causa, o que francamente, nos dias de hoje vai desaparecendo o voluntariado, criando-se o profissionalismo.
José Viana, sempre no seu característico estilo de actor, adorava este tipo de representação e uma vez mais mostrara as suas grandes qualidades artísticas, pois os seus quadros revisteiros, tinham sempre uma componente séria, crítica, não deixando de evidenciar com cuidado a defesa destas actividades que por vezes pareciam andar esquecidas dos mais responsáveis do país, só recordada com impacto quando se pedia aos “ soldados da paz”, a sua dura colaboração para a extinção dos incêndios e não só.
A presença de José Viana, também trouxe à memória o dia em que testou para que Fernando Silva integrasse profissionalmente o elenco do Teatro ABC, e que seu pai, teimosamente, inviabilizou, pois na sua, talvez ainda descontrolada ideia, pretendia seguir a vida artística e tudo fizera para tal, contudo o seu pai, conhecedor da vida e das dificuldades que os actores passavam naquela época, factos que não vislumbrava ainda nesse tempo, acabaria por, de uma forma até, reconheça-se, ordinária, não permitir que o empresário do teatro José Miguel o contratasse para a revista que iria levar à cena naquele espaço do Parque Mayer.
José Viana foi a figura principal da apoteose deste espectáculo, onde curiosamente a Banda de Barcarena participara a convite daquele importante e famoso empresário teatral.
Lembramo-nos de ambos e afinal desses saudosos tempos, e hoje essa mesma importante estrutura musical está quase terminada, embora saibamos que já há alguns meses se encontra suspensa pela direcção da associação barcarenense.
Se há razões ou não para tal, isso transcende-nos, pois só o que nos compete referir é que antes havia sempre o habitual concerto de Natal, que enchia de alegria, não só músicos, como maestro e público que acorria em grande número, e hoje ao notarmos esse grande vazio naquela centenária casa, todas essas lembranças crescem ainda mais, parecendo mesmo não compadecerem os demais que determinaram a suspensão.
Venda Seca um idoso carismático e grande amante da Associação que muito colaborara para o seu progresso e da respectiva Banda de música, tristemente reconheceu que, “a Banda de Barcarena, uma vez que não há músicos de Barcarena está arrumada”.
“A Banda para tocar tem de ter músicos contratados e então tem de se pagar. Barcarena não tem rapazes, pois costumávamo-nos reunir aqui à porta da Junta ou do talho, mas agora não se vê ninguém, por isso e a escola de música acabou já, pois agora o que falta é fechar também a porta dos bombeiros,” comentou aquilo grande e antigo carola dos bombeiros que tanto dera àquela estrutura cultural, social e humanitária quando era novo.
Mas nós repetimos, “haja ou não matéria para tal atitude ter sido tomada, apenas podemos recordar que, uma banda de música terá sempre despesas, não se tratando de uma “mercearia”, ou outro comércio qualquer, que se obriga a dar lucros para poder sobreviver”.
A grande verdade é que a funcionar e assim, caprichosamente a “banda de Barcarena” calou-se e quem sabe se este temporário silêncio não virá a ser o princípio do seu fim ?...
É tudo isto, matéria que, no mínimo, consideramos estranha, não encontra consenso entre os homens, para que a mesma volte ao seu normal, porque para além de ter desgostado os músicos que nela se integravam, o povo barcarenense, também sofre com a sua falta, não aceitando quaisquer razões válidas, mas sim obrigando que essa estrutura funcione porque ela diz muito a toda a gente.
Nela tocaram muitos músicos, hoje já falecidos e isso acaba por ser uma grande ofensa a quem tanto lhe dedicara e sofrera para a conseguir por de pé.
Afinal o fogo deflagrado, no barracão onde a mesma funcionava no século XIX que dera origem à famosa corporação de Barcarena, foi o mesmo que a atingira este ano, só que as queimaduras causadas nessa remota época, nunca sararam e só agora, 130 anos depois poderão causar a sua morte, o que na verdade se lamenta e nos obriga a falar, repetimos, sem na verdade se conhecer ao certo se houve ou não razão para terem sido cancelados, quer os seus ensaios, quer as suas exibições, só sabemos que a Banda de Barcarena, este tempo todo depois, é naturalmente um pouco de todos nós, pois os barcarenense sempre tiveram alguém que fez parte, de uma forma ou de outra, dessa estrutura musical considerada uma das melhores da região.
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