MANUEL ANTUNES O “TAPIÇO”
NASCEU EM “TERCENAS” EM 1865
Manuel Antunes vulgarmente conhecido em Torcena pelo “Tapiço”, terá recebido esta alcunha, por possivelmente ter sempre alguma coisa destapada e os amigos, ou familiares o chamarem constantemente, por graça, a atenção desse pormenor, contudo é desconhecida a verdadeira razão deste popular tratamento que tinha um dos muitos agricultores de Tercena do princípio do século passado.
Nascido a 4 de Outubro de 1865 era filho de António Antunes e Josepha Maria, viveu durante muitos anos numas casas situadas na Avenida de Santo António em Tercena, mesmo por detrás da igreja dedicada àquele santo, na localidade pertencente à freguesia de Barcarena.
Foi graças ao aparecimento da sua caderneta militar que se soube que Tercena tinha tido uma outra nomenclatura, pois em 1865, data de nascimento deste cidadão tercenense a terra chamava-se “Tercenas”.
Pelo menos é o que consta na sua caderneta militar, ao tomarmos conhecimento do dia em que assentou praça, a 28 de Fevereiro de 1887 no Regimento de Infantaria, agora situado na Amadora.
Era servente da Fábrica da Pólvora, onde quase toda a sua família trabalhara, pois desde familiares antigos aos que o sucederam, como seus filhos, Maria Augusta e Clemente Antunes, mais tarde, em outras gerações, Filinto Silva, Fernando Silva e outros, todos ali ganharam o seu pão, por se tratar de uma fábrica estável, não sendo muito famosa na remuneração aos seus empregados e ainda temerosa, uma vez que, de quando em quando sucedessem terríveis explosões, que vitimavam familiares e amigos, mas pelo menos proporcionava mais garantias sociais que o simples e também duro trabalho do campo.
Manuel Antunes vivia do seu casal agrícola, pois criava vacas e outros animais, num espaço que mais tarde viria a ser dividido em partes, sendo dadas as suas casas aos filhos que nelas passaram a viver, cada um, constituindo a sua família, à excepção de Fortunato Antunes, que se estabelecera na capital, mais propriamente em Campo de Ourique, com uma mercearia que, recebera o nome da freguesia, “Barcarenense”, isto era mais uma prova do grande amor que todos os naturais da autarquia nessa épocas, dedicavam à sua terra natal.
Manuel Antunes veio permitir que o seu bisneto, Fernando Silva dedicado às recolhas de sua terra, conseguisse descobrir que afinal a localidade onde a família vivia se chamava, na altura do seu nascimento, em 1865, “Tercenas”, pois bem o prova o seu documento militar, mas ignorando-se quando se terá registado essa mudança para “Torcena”, como se verificou, pelo menos tendo perdurado até 1928.
“Tercenas”, em nosso ver está correcto, pois tratava-se de um facto verídico na localidade, pois existiam as tercenas, arsenais do exército que compunham o complexo fabril da Real Fábrica da Pólvora que António Cremer tinha criado em 1729, acabando por o rei D. João V, o “Magnânimo”, deixasse de atribuir alvarás a fabricantes de pólvora de credibilidade medíocre, que tinham os seus engenhos montados ao longo da ribeira de Barcarena e que muito frequentemente explodiam.
Conhecem-se ainda indícios desse tempo no lugar do Bico onde se podem ver, embora agora bastante assoreados pelas constantes cheias, pequenos reservatórios, quais cadinhos gigantes, uma espécie de vasos onde se fundiam metais, mas naquele lugar serviam para misturar os componentes da pólvora.
“Tercenas” terá sido o nome da localidade por alguns anos, e como era vulgar e fácil mudar o nome da terra sem grandes consequências ou trabalheiras burocráticas, Tercenas terá passado a dada altura, a chamar-se simplesmente Torcena.
Já dizia o Mestre Instrutor Francisco Assis Mafra, uma grande sumidade da Fábrica da Pólvora de Barcarena onde trabalhou durante setenta anos, que “torcena” se devia ao facto de se terem fabricado nas antigas Ferrarias del Rey, criadas por D. João II em Barcarena, mesmo ao lado da Fábrica da Pólvora, bacamartes que teriam recebido essa nomenclatura.
A grande verdade é que, por muito que se tivesse procurado esses bacamartes em museus de armaria e em registos da época, tal nunca se veio a descobrir, pelo que essa remota ideia, acabaria por se perder prevalecendo o facto de ter mais realidade as tercenas, por de facto se relacionar com o que de verdade existia naquele local.
Acrescentando à ideia, de que era fácil a mudança de nomenclaturas de localidades naquele tempo, em 1930, uma petição de Lino Pedro da Silva, para ampliação e modificação da sua propriedade naquela localidade, o requerimento entrou na Câmara Municipal de Oeiras com a indicação de “Torcena” em 13 de Novembro de 1930, e quando foi deferida a autorização, veio já com o nome de Tercena, perdurando até aos dias de hoje.
Mas voltando a Manuel Antunes que motivou estas mutações, Tercenas deveria na realidade ser o verdadeiro nome da terra, só que, atendendo a que era uma nomenclatura no plural, terá sido optado por se dar aquele nome, mas no singular, pois a grande verdade é que tercenas, de facto existiam algumas naquele local junto ao ribeiro e não apenas uma, por isso terá sido esta uma das principais razões daquela mudança de nome no início da década de trinta do século passado.
Manuel Antunes viria a falecer e jamais se terá apercebido em vida das razões destas mudanças, assim como outros moradores daquela época e geração e só muito mais tarde quase cem anos após o seu falecimento, o seu bisneto se preocupou com estes pormenores e tentou saber as razões destas alterações toponímicas, mas também ele, embora todo o seu trabalho e preocupação, jamais conseguiu saber a verdade, por nada existir registado em documentos formais e oficiais destas mudanças, como acabaria por suceder com a mudança de Torcena nos anos trinta do século passado, pois muito simplesmente foi retirado o “o” e colocado o “e” e isto por Joaquim Cabril, um distinto médico de Barcarena assim ter proposto em Oeiras e a troca foi fácil e entendida prevalecendo até aos dias de hoje.
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