segunda-feira, 7 de maio de 2012

Um desbafo de Fernando Silva

AÇORES A TERRA QUERIDA DE FERNANDO SILVA
mas que tem fechado as portas à sua veia literária

    Não há dúvida que já não vale a pena escrever seja o que for, para que as gerações mais próximas possam um dia vir a saber o que por aqui se passou no passado.
    A leitura hoje está totalmente posta de lado, mas a verdade é que, quem escreve desde tenra idade, como Fernando Silva, que tem registos seus desde os doze anos de idade, sente uma grande angústia, mesmo uma enorme frustração por constatar que os seus trabalhos, alguns reconhecidamente de grande valia etnográfica e até histórica, são colocados à disposição das pessoas e afinal ninguém parece estar interessado em os ler.
   Hoje há apenas uma grande apetência pela leitura desportiva, da política e da choradinha vida dos portugueses, onde figuram os acidentes, os roubos, as violações e agora até muito em moda as notícias “cor de rosa”, com as aventuras e desventuras das nossos artistas, craques da bola, as chamadas “Ronaldices” e pouco mais.
  De resto, as pessoas pouco se interessam até dos grandes escritores que marcaram este país nos últimos séculos, quanto mais por estes curiosos amadores da escrita que tanto se sacrificaram por desenterrar tabus, e atirar cá para fora com as histórias verdadeiras, afinal saber o que se passou aqui e acolá, com os nossos antepassados, gente do povo, seus usos e costumas, suas desventuras e afinal a sua eterna difícil vivência.
   Fernando Silva depois de largos anos dedicado aos assuntos de sua região, dedicou ultimamente uma especial atenção aos Açores e isto por conhecer a maioria das ilhas, algumas até já em pormenor e entender que o que viu, o que constatou ser de grande importância, não só para levar ao conhecimento dos seus conterrâneos continentais, como até aos próprios locais, onde tão pouca literatura local acessível ao povo, se encontra, embora se reconheça que os Açores possuem grandes escritores, como foram de louvar, Vitorino Nemésio ou Natália Correia entre muitos outros.
   Fernando Silva escreveu dez livros sobre os Açores, mas por muito que tenha labutado ainda não conseguiu publicar os seus trabalhos nessa área, à excepção de um, dedicado à Ilha Graciosa, pois encontrou gente naquela terra que o ajudou a ter essa ideia e afinal ter adquirido grande parte da edição, homenagem seja feita ao grande amigo já falecido, Tomás Picanço, então na altura presidente da Junta de Freguesia de Guadalupe que acreditou nele e lhe deu todo o apoio, mas infelizmente pouco tempo durou depois de o conhecer.
  De resto, por muito que tivesse insistido, que falasse com as pessoas fundamentais e influentes, nada mais conseguiu publicar, e existem histórias em alguns trabalhos de grande valia etnográfica, uma vez que se trata de relatos de pessoas idosas da terra, experientes e que viveram uma vida ligada ao mar, à baleia e afinal aos ofícios duros daquelas ilhas, o que é sempre de recordar e louvar os seus sacrifícios.
  Fernando Silva conheceu os Açores pela primeira vez em 2003, ao deslocar-se a S. Miguel, terra que lhe ficou na retina pelas suas extraordinárias belezas e atreveu-se a escrever o seu primeiro trabalho dedicado àquela terra banhada pelo Atlântico a que deu o nome de “S. Miguel – Onde a natureza concebeu a oitava maravilha”.
   Encantado passou no ano seguinte pela ilha Terceira e aí, embora com outras características não menos maravilhosas e sedutoras, escreveu, “Ilha Terceira, um Paraíso de amor trabalho e Folia” e isto por se dizer à boca cheia que os terceirenses apenas pensavam na folia, mas afinal trata-se de um povo trabalhador, e muito afável.
   Em 2005 voltou de novo à Terceira, mas desta vez seduzido pelas narrativas do Espírito Santo e então esteve três semanas naquela terra, para observar ao vivo essas famosas festas iniciadas em Portugal no século XIV, por D. Diniz e rainha Santa Isabel e perdurando apenas nos dias de hoje nessas ilhas maravilhosas.
 Seduzido e mais que apaixonado por essa manifestação de fé, escreveu pormenorizadamente um livro a que deu o nome “Espírito Santo  - Quando a Fé se junta ao paganismo”.
     No ano seguinte esteve nas ilhas do Faial e Pico e ficou rendido e emocionado com o sucedido àquele massacrado povo ilhéu com as consequências do terramoto dos Capelinhos ocorrido em 1957 e igualmente encantado com todo este historial apenso ao que registou na ilha vizinha do Pico e sua importância histórica como Património da Humanidade, tendo escrito um trabalho a que baptizou com o nome de “Da Caldeira aos Capelinhos, não esquecendo as belezas da ilha do Pico”.
    Em 2007 voltou à Terceira mas para fazer ligação com S. Jorge onde foi encontrar uma ilha atraente e com motivos de grande interesse como são as fajãs e a sua veia inspiradora levou-o a narrar o que vira através de um livro a que deu o nome de “S. Jorge – A grande Montanha Verde”.
     Em 2008 voltou a S. Miguel para fazer de trampolim para uma breve visita a Santa Maria e aí encontrou semelhanças com a sua terra continental, pouco desenvolvida em busca de um trilho mais semelhante ao das grandes ilhas açorianas como são S. Miguel e Terceira e escreveu com entusiasmo e sobretudo muita coragem o que sentira no seu interior, dando o nome de “Santa Maria À procura do futuro”
  No ano seguinte voltou aos Açores e seria a sua última viagem ao arquipélago, pois visitou a Graciosa e aí conseguiu arranjar entusiasmo nas pessoas locais para poder editar o livro que escrevera e que ele próprio considerou ser a mais indicada ilha para viver os seus últimos dias de vida, uma verdadeira “Graciosa - Refúgio Paradisíaco”.
     Não voltou mais às ilhas, mas a sua veia literária levou-o a fazer comparações com a Madeira que ele conhecia desde 1968, não só por a ter visitado trinta e sete vezes, como também por ter estado ligado profissionalmente ao jornal “Diário de Notícias” do Funchal para quem trabalhou durante vinte e seis anos.
   As diferenças encontradas eram grandes, mas as suas críticas levaram-no a por de lado a “Pérola do Atlântico”, mas escrevendo “Madeira e Açores o Encanto de Portugal” e nas suas palavras ter dado a preferência aos Açores, pela sua forma ainda semi-selvagem, que tanto o encantou e o obrigou a uma série e de visitas seguidas.
   Depois de ter tomado conhecimento de todas as belezas e o enorme número de histórias passadas com os açorianos, e afinal por ter conhecido tantas famílias e dar-se bem com todas elas, devido ao intercâmbio produzido pelo folclore a que ele pertencia, Fernando Silva, escreveu duas novelas a que deu o nome “O Poder da Fé e da crença,” completamente entregue, também ele, ao fenómeno da fé que o povo mantém no seu divino Espírito Santo, e afinal também os efeitos produzidos naqueles que a mesma acabara por se perder devido às constantes infelicidade sofridas, e afinal as consequências maravilhosas dos chamados milagres, que não são mais nem menos, que puras coincidências mas que tanto efeito psicológico produzem no ser humano.
   Finalmente em 2011 os Açores, embora não visitados desde 2009, ainda continuavam a crepitar no cérebro deste curioso escritor amador, levando-o a manter nas suas nocturnas cogitações, aquele pedaço de terreno, escrevendo “A Escravidão da Vida” contando a história de um jovem que a sua vida quase destruiu, por devaneios, loucuras e jamais ter aproveitado as benéficas recomendações de seus familiares.
  Livros que traduzem os sentimentos daquele povo, as boas e más recordações dos seus intervenientes e afinal a grande ânsia de levar ao conhecimento das pessoas nessas maravilhas encontradas, verdadeiros tesouros que acabaram por ser desenterrados num período de dez anos consecutivos e afinal nunca ninguém lhes ter dado a devida importância, a não ser na Graciosa, talvez a mais pequena das ilhas do arquipélago, mas onde encontrou “Um verdadeiro refúgio paradisíaco”, quase que propício para ele descansar o resto dos seus dias com vida, mas que acabaria por ser apenas pura utopia, sedução excessiva, afinal uma ilusão, porque a vida o fez mudar de ideias e acabar por desistir, já que a sua origem e amor a ela, assim o obrigou.
  Um livro que escreveu em 2009, ano em que visitou a ilha e a afabilidade encontrada no seu povo levou-o a desabafar a sua vida, envolvendo-a com a maravilha da paisagem, sossego, os momentos de alegria, de encanto ali encontrados em apenas cinco dias, mas que lhe deram afinal a conhecer muitos amigos, que sem o conhecerem o apoiaram.
   Jamais poderá esquecer pessoas como foram, o Dr. Jorge Cunha director do Museu da Graciosa que lhe deu o maior apoio para este livro, o referido presidente da Junta de Freguesia de Guadalupe e ainda o antigo presidente da Câmara Municipal de Santa Cruz, José Ramos de Aguiar entre outros que conheceu, o que jamais deixará de lembrar, pois foram eles que fizerem fermentar todo este interesse e mesmo amor que criara pelas encantadoras e sempre misteriosas ilhas açorianas.
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