segunda-feira, 11 de julho de 2011

A família Sinel Cordes de Barcarena

Era a legítima proprietária da
QUINTA DE NOSSA SENHORA DA CONCEIÇÃO

   A Quinta Nossa Senhora da Conceição em Barcarena, é uma das propriedades mais antigas da freguesia e foi mandada construir no século XVII, pela família de Sinel de Cordes, um grupo de cavaleiros flamengos chamados a Portugal por Filipe II para recolherem os impostos.
   O edifício tem uma austeridade medieval, construído em 1641, já depois de finda a dinastia filipina, expulsa de Portugal em 1640, possuindo um portal maneirista da entrada e encimado por um brasão de pedra da família Cordes, constituído por dois leões adossados.
    O interior deste “solar” é ornamentado com belos e raros painéis de azulejo do século XVII e a capela, dedicada a S. João Baptista, tem um altar com embutidos de mármore florentino policromo, obra do famoso arquitecto, João Antunes.
   As paredes são revestidas a azulejos assinados por Gabriel del Barco e datados de 1697.
   Trata-se de um imóvel de valor concelhio, adquirido pela autarquia oeirense, por cerca de dois milhões de euros e entregue agora a uma escola.
  Nele viveu, o benemérito José Sinel de Cordes e a quinta nos últimos anos de vida deste famoso e considerado homem de Barcarena, precisamente no início do século XX, constituiu o celeiro da terra por tudo ali se criar.
  José Sinel Cordes tinha mais um irmão, o famoso General João Sinel de Cordes que vivia em Laveiras na Quinta do Jardim, que foi ministro de António Oliveira Salazar.
   José Sinel Cordes nasceu a 12 de Março de 1857 e em toda a sua vida foi uma pessoa generosa, ajudando os pobres, emprestando, inclusivamente, terrenos seus dentro da própria quinta a moradores para criarem as suas hortas e delas poderem sobreviver, uma vez que a vida nesse tempo era muito difícil para os mais necessitados.
    Possuía um lagar onde produzia o azeite, não só dos seus olivais, como de outras pessoas e no rio tinha uma azenha que, quando os moinhos da freguesia não funcionavam por falta de vento, recorriam ali, para moerem os seus trigos e transformá-los em farinha.
    O seu excesso de bondade era tal, que o levou a criar na quinta um serviço alimentar totalmente gratuito extensível a todos os pobres que ele conhecia na freguesia de Barcarena, gesto que o tornou, não só mais famoso, como muito querido pela população de Barcarena e não só.
   Sinel de Cordes contratou mesmo uma funcionária, a Maria Prancha para tratar dessas refeições, o que fez com que a população o considerasse uma pessoa querida, pelos seus gestos de bondade e solidariedade para com a classe mais desfavorecida.
  Para além desta importante oferta, José Sinel de Cordes ainda determinara dar esmola aos pobres que lhe batessem à porta, uma vez por semana, o que se fazia sempre com uma extraordinária boa disposição por um dos seus caseiros, deixando os desfavorecidos muito reconhecidos com o gesto daquele barcarenense.
  Também no dia de “Pão Por Deus”, o benemérito dava grandes quantidades de frutas e dinheiro aos que ali compareciam e a rapaziada, de saco bem cheio, regressava feliz, porque o ti Zé era boa pessoa e nunca se esquecia das crianças da terra no dia 1 de Novembro.
   José Sinel de Cordes prometeu que, quando morresse pretendia ir descalço para a cova e vestido com as suas piores vestes e assim aconteceu no dia 20 de Março de 1938, tendo sido sepultado no cemitério de Barcarena onde ainda hoje se encontram os seus restos mortais.
    Por todas estas razões depois da sua morte foi criada uma rua com o seu nome, mas após a revolução do “25 de Abril” essa artéria, inexplicavelmente passou a chamar-se Felner Duarte, outra figura de mérito em Barcarena, o que causou grandes protestos, considerado mesmo uma grande injustiça, não porque o novo “dono” da rua, não o merecesse, pelo seu atrevimento e coragem contra o ditador Salazar, pois ambos tinham cabimento na toponímia da freguesia, mas sim pela injustiça do acto, na medida em que a família Sinel de Cordes tinha sido gente exemplar dentro de Barcarena.
  Esta inesperada e reprovada atitude levou muita gente a revoltar-se, porque na realidade ele não merecia tão grande desfeita.
    A Quinta hoje foi cedida a uma instituição particular por parte da Câmara Municipal de Oeiras que adquirira por cerca de dois milhões de euros para fins escolares, sendo a “Oeiras International School” que a está a administrar, mas encontrando-se em obras de restauração e preparação para a sua nova actividade.
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