quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

A sepultura deste padre foi ignorada durante muitos anos no cemitério

PADRE FRANCISCO D’ASSIS DUARTE
FOI PÁROCO DE BARCARENA NO SÉCULO XIX

     No cemitério de Barcarena, existe uma sepultura com o nº 1 que guarda há imensos anos os restos mortais de um antigo padre que foi pároco da freguesia durante trinta e seis anos.
   Trata-se da sepultura de Francisco D’Assis Duarte, que nasceu a 4 de Outubro de 1833 e falecido em 19 de Setembro de 1909,embora na sepultura indique a 20 daquele mês e curiosamente o seu registo de óbito, afirme que a “sepultura era de chumbo e não foi cobrada a importância ao coval por ter sido cedido o respectivo terreno da sepultura, medindo 2,71 mt., pela Exma. Câmara do Concelho de Oeiras, permitindo ainda que se lhe faça qualquer vedação, o que tudo consta no offício da mesma Exma. Câmara nº 342 de 30 do corrente mez e anno”, registo assinado no ano de 1990 pelo guarda, Cypriano Sérgio Augusto.
     O mesmo documento, revela que o reverendo padre de Barcarena, “era filho legítimo de Anastácio Duarte e de Maria Rosa Duarte”.
  Ao longo dos 77 anos que viveu, dedicou mais de três décadas ao serviço da Paróquia de Barcarena, mais propriamente trinta e seis anos, e a sua acção social, cultural e eclesiástica terá sido de tal forma importante que o povo reuniu-se e conseguiu angariar os fundos necessários para mandar construir a sua sepultura que ainda hoje perdura, decorrido mais de um século sobre a sua morte, colocando nela, “Aqui jaz o Rev. Francisco d’Assis  Duarte nasceu a 4 de Outubro de 1833 e falleeceu a 20 de Setembro de 1909 parochiou esta freguezia de S. Pedro de Barcarena durante 36 anos. Gratidão dos habitantes da freguezia”
   É precisamente esta pessoa, dedicada e amante do associativismo, que terá sido um dos grandes carolas da fundação da Associação de Bombeiros Voluntários de Barcarena, pois fala-se muito pouco e quase sempre por relatos de transmissão das sucessivas gerações, que terá havido um padre em Barcarena que, com as suas influências e suas iniciativas fizera parte de várias comissões que viriam resultar na fundação daquela importante associação social e humanitária.
   Sabe-se no entanto que os Bombeiros nasceram do seu “Sol & Dó”, conjunto musical da época e só depois de se ter registado um violento incêndio num espaço onde se guardavam os instrumentos desse mesmo grupo musical, se reconheceu a necessidade urgente de se criar um grupo de bombeiros que acudisse a tragédias como aquela, verificada a ineficácia das pessoas naquele momento do desastre.
 Assim nasceu um grupo de homens e mulheres que a tal obra se dedicara onde, devido a antigas informações, terá aparecido o padre, que era pároco e dava pelo nome de Francisco D’Assis Duarte.
   A ser realidade todas estas nossas recolhas e conhecimentos, seria de todo o interesse criar-se uma rua na freguesia de Barcarena, com o nome deste homem, que, não tem sido por acaso que a sua sepultura se tem conservado no cemitério à mais de um século, mas que na realidade até aos dias de hoje jamais se ouviu um comentário, uma história, uma versão sobre a vida deste padre, que, apenas sabemos ter sido muito importante em Barcarena durante o tempo em que exerceu o seu cargo de pároco, e parente do antigo comandante dos Bombeiros de Barcarena Sérgio Duarte, uma vez que após a sua morte o povo quis preservar os seus restos mortais, como comprova a inscrição que se pode ler na sepultura já gasta pelo peso dos anos passados.
      “A sepultura encontrava-se muito degradada e era formada por um berço em ferro, já muito ferrugento, como se usava antigamente, contudo a Junta de Freguesia de Barcarena, compadeceu-se daquele valor histórico e mandou limpar o local”, confessou Vítor Alves presidente da Junta de Freguesia de Barcarena que mandou fazer o trabalho em 2005 descobrindo então a pedra sepulcral”.
   “Mandamos limpar tudo e a pedra acabou por ficar, destruindo-se o velho berço que existia desde o dia do funeral, e isto por considerarmos um valor histórico da freguesia”.
     “Por se considerar importante a descoberta, cuidamos dela e assim se tem mantido ao longo dos anos, gratuitamente”, informou-nos o presidente da autarquia, confessando ser apenas o que sabia sobre o padre Francisco D’ Assis Duarte.
    Foi baseado nestas remotas e importantes informações e pela realidade que constatamos no cemitério, que nos levou ao conhecimento de que afinal o padre Francisco D’ Assis Duarte era familiar do avô de Sérgio Duarte, primo afastado de seu pai e como tal nos transmitiu alguns conhecimentos que julga saber desse seu parente.
   “Sobre ele, “ – começou por nos dizer Sérgio Duarte, “sei apenas que a minha mãe tinha lá em casa uma imagem dele”.
      “Era um busto muito grande, pintado a carvão, mas francamente já nem sei por onde isso anda”.
     Quisemos saber se a sepultura no cemitério estava a ser paga pela família, mas Sérgio Duarte foi peremptório em afirmar que nunca tal acontecera.
  “Aquilo ou é suportado pela igreja ou então pela Junta de Freguesia de Barcarena, pois não me lembro de alguém da minha família pagar fosse o que fosse pela sepultura”.
    Depois de termos falado com o presidente da Junta de Freguesia viemos a saber que a sepultura tem estado ali sem ninguém nada pagar, mantida graciosamente pela autarquia.
   E fazendo um ligeiro esforço cerebral, por se recordar de histórias contadas pela sua mãe sobre esse parente afastado, contou-nos que era um homem muito amigo da Igreja de S. Pedro.
    “Dizia ela que ele ia comprar os santos aos Jerónimos, ou não sei onde, com dinheiros dele para os colocar ali na igreja” e depois recordou ainda como a mãe descrevia a fisionomia do seu parente.
    “Quando ele ia dar missa à igreja de Leceia, deslocava-se sempre montado num burro”.
    E curiosamente, contou-nos que o seu parente era um homem muito alto, tão alto, que montado no seu burro, batia com os pés no chão.
     “Tão alto, que ele com os pés no chão, ajudava o burro a subir a grande subida que nos conduz de Barcarena a Leceia”.
  E repetindo, terminou, “ele era tão grande, tão alto que punha os pés no chão e ajudava o burro a andar, com ele montado”.
   “Era de facto uma pessoa muito entroncada, embora o busto dele que a minha mãe possuía, fosse um trabalho manual, mas dava para lhe descobrirmos essas características físicas”.
   Também um idoso de Barcarena conhecido de toda a gente pelo Venda Seca e durante muitos anos ligado aos bombeiros, nos falou vagamente desse padre.
    “Eu lembro-me de em tempos se falar no Padre Francisco, mas eu ainda nem sequer era vivo quando ele faleceu”.
     “Se houver qualquer coisa escrito só se pode encontrar no historial dos Bombeiros”, acrescentou o Venda Seca que culminou sugerindo.
    “O Artur Cágado, pai da Lídia, que foi enfermeira aqui nos bombeiros, escreveu a história da Associação, pode ser que se encontre alguma coisa relacionada com o assunto”..
   Assim, com estas preciosas informações, mais nos convencemos de que na realidade, Francisco D’ Assis Duarte, primo afastado de Sérgio Duarte, era mesmo o padre que se consta ter sido um dos fundadores da Associação dos Bombeiros Voluntários de Barcarena, mas nestas nossas recolhas aguardamos por mais informações que completem a biografia deste padre que, merece hoje ser mais lembrado, pela boa acção que desenvolveu na sede da autarquia na segunda metade do século XIX da freguesia de Barcarena ao serviço, não só dos cristãos como do povo de Barcarena.
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domingo, 25 de dezembro de 2011

Inaugurado em 7 de Julho de 1940

PAINEL DE AZULEJOS DA FÁBRICA DA PÓLVORA

  O Painel de azulejos que simboliza a passagem do quarto centenário da Fábrica da Pólvora de Barcarena, (1540-1940), é um dos locais bonitos da Fábrica da Pólvora mesmo junto à entrada do portão sul, que dava acesso ao fabrico de pólvoras.
    Foi inaugurado no dia 7 de Julho desse mesmo ano, aquando se organizou a grande festa em que participaram as administrações e funcionários da Fábrica de Barcarena e de Chelas, numa confraternização que teve lugar na Quinta de Nossa Senhora da Conceição em Barcarena, com jogos, almoço e muitas actividades sendo a principal a sessão solene que decorreu nas instalações da Fábrica de Barcarena.
  Essa festa ficou marcada ainda por um acidente, durante um exercício, pois o funcionário de Barcarena, Joaquim Rodrigues da Silva ao lançar uma granada, a mesma explodiu-lhe numa das mãos e teve de ser amputada.
   O autor desse painel foi o pintor Jorge Colaço, considerado na época como um mau pintor, mas a verdade é que aquele trabalho, demonstra-nos com bastante clareza duas épocas importantes da Fábrica da Pólvora, aquando a epopeia marítima desenvolvida pelo cardeal D. Henrique e mais tarde a II Guerra Mundial, onde foram utilizadas as pólvoras de Barcarena      
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segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Como se aprendeu a ler em Tercena

O ensino Primário em Tercena

I Parte


  (Este trabalho foi dividido em duas partes, continuando na próxima semana)
       Tercena, foi sempre uma localidade onde o ensino primário, jamais foi descurado, no entanto, bem poderia ter tido melhores instalações para os seus alunos.
     Logo no início do século XX, o ensino das primeiras letras fora introduzido no pequeno lugar de Torcena e funcionou por iniciativa de diversas pessoas interessadas em que as crianças não crescessem analfabetas como a maioria de seus pais, instalando-se em casas particulares e isto porque, não só o número de alunos era muito reduzido, como também a Câmara Municipal não se mostrava disponível financeiramente para construir uma escola na minúscula localidade.
   No entanto houve uma altura em que os alunos se obrigavam a caminhar diariamente de ida e volta para a escola de Barcarena, único local de ensino.
    Muitos dos alunos eram conduzidos pelo professor Manuel Vaz, que vivia em Tercena, dava ali aulas e então faziam-lhe companhia naquele trajecto de dois quilómetros de ida e volta.
  O Professor Vaz era um verdadeiro exemplo para os alunos, pois para além de ser um grande professor, austero, mas com grandes capacidades intelectuais, dava uma instrução às crianças como ninguém, embora por vezes fosse preciso utilizar a”menina dos cinco olhos” como ele dizia, quando se referia à régua com que dava palmadas aos alunos.
   O Professor Vaz fora aluno, nos seus tempos de criança na Casa Pia, onde se obrigara a estar internado, mas o seu grande amor pelos estudos, levou-o a singrar de uma forma tal, que acabaria por se formar e mais tarde ser professor nessa mesma instituição.
    Foi aí que veio até Barcarena, onde criou igualmente uma forma de estudo, exemplar, tornando-se notória a sua acção, pois para além das suas qualidades como professor, acrescia ainda o facto das suas boas atitudes humanas.
 O professor, promovia sorteios, de bolos e lembranças que comprava de seu próprio dinheiro, entre os pais dos alunos, rifas que os alunos se obrigavam a vender, para promover excursões didácticas e muitas foram as que ele organizou com os alunos com a ajuda de sua mulher, a D. Mariazinha.
    Braga, Porto, Viana do Castelo durante seis dias, Jardim Zoológico, Jerónimos, Torre de Belém, entre muitos outros locais para lhes mostrar nos próprios locais aquilo que lhes ensinava, por isso ficou demarcado como o melhor professor que passara por Tercena e Barcarena nos anos trinta e quarenta.
  Morava em Tercena e criou ainda na Escola Primária do Grupo Recreativo de Tercena, um curso de alfabetização, dedicado aos operários da Fábrica da Pólvora, onde eu acabei por ser o seu ajudante, já que andava nessa altura na quarta classe e isso ajudou-me bastante a reforçar os meus conhecimentos naquele último ano de escolaridade obrigatória.
   Tinha de haver um certo voluntariado por parte dos professores, num período em que em Tercena não havia escola e devido a essa grande carência e a enorme inoperância por parte da autarquia de não oferecer uma escola digna ao lugar de Torcena que de dia para dia ia crescendo, um grupo de pessoas bem colocado na vida, sob o comando do famoso bancário e benemérito Álvaro de Vilela, morador no bairro da Estação de caminho de Ferro, onde a elite tercenense habitava, criou o “Grémio Escolar de Torcena”, logo no início da segunda década do século XX.
     O Grémio tinha grande dualidade de serviços, pois não só servia de casa de espectáculos, como o ponto de encontro dessa gente, efectuando-se magnas reuniões entre os seus sócios, reservado quase em exclusivo a estes e seus amigos, para a mostra e realização de eventos ligados, na sua grande maioria, à cultura.
       Todas essas pessoas que faziam parte da instituição estavam bem colocadas na vida, com bons empregos e faziam questão de concentrar ali as crianças que pretendiam aprender a ler, e neste capítulo, já era extensivo a todas que vivessem na periferia do lugar, admitindo por isso, filhos de pais trabalhadores moradores em S. Marcos, Torcena, Massamá e até de outros lugares mais distantes.
     Fora uma grande instituição, pois os sócios mantinham os professores com uma grande ajuda, obviamente, vinda quase por inteiro, da casa bancária e a sua administração, era assegurada por aqueles senhores que, devido à diferença social, pertencente nitidamente a outro extracto da sociedade, não mantinham um bom relacionamento com os habitantes de Torcena, gente de trabalho, pese embora estudassem lá os seus filhos.
    Talvez por estas desinteligências, que de quando em quando causavam grandes atritos e divisões entre várias famílias da terra, pois muitos asseguravam que havia uma certa discriminação, por se tratar de gente de trabalho, com dificuldades, criou-se um local onde as crianças de Torcena pudessem aprender a ler e escrever sem necessidade de recorrerem ao Grémio Escolar, sobretudo as que mais necessitassem, cujos pais se encontrassem mais renitentes com a escola da Estação.
     Devido a esta questão, foi escolhido na década de trinta, um espaço que passou a funcionar como escola provisória, primeiro num primeiro andar existente quase ao lado da taberna do “António da Rosa”, mesmo no final da Av. de Santo António, ladeando com o “Canto” do “ti” João de Peles e depois, mesmo no centro dessa artéria, continuando a ser uma escola improvisada, por a Câmara Municipal apenas manter as oficiais de Queluz de Baixo, e Barcarena e o Grémio ser uma instituição privada.
     Os restantes lugares da freguesia, por serem muito pequenos, não possuíam escolas oficiais, funcionando apenas reduzidos Postos Escolares, agregados a escolas oficializadas, neste caso, Tercena, dependia de Barcarena.
     Nesta conformidade, existia em Tercena um Posto Escolar, cuja professora era a esposa de Crisóstomo Gonçalves, funcionário superior da Fábrica da Pólvora de Barcarena, que aproveitando a oportunidade, colocou em Tercena a sua esposa a D. Alice Gonçalves que morava numa das habitações pertencentes àquela unidade fabril, ao lado do Mestre João Gonçalves, a escassos metros dos serviços administrativos, acabando por ficar para ambos uma vida muito mais económica por viverem junto ao local de emprego.
   Mais tarde foi colocada nessa escola a professora Maria Helena de Carvalho Veloso, e foi no período desta professora que o Posto Escolar, que funcionava sob o apoio da autarquia, se transferiu para outro local da localidade.
    Falava-se insistentemente que iria ser construída uma Escola em Tercena, porque o número de alunos aumentava de ano para ano e isto, porque após a Guerra Civil de Espanha, foram colocados muitos funcionários na Fábrica da Pólvora e a população do lugar aumentara consideravelmente, número que tendia a um substancial crescimento demográfico, devido ao facto de estar eminente um novo conflito mundial, como acabara por acontecer com o deflagrar da II Guerra Mundial precisamente no ano em que terminara o conflito interno espanhol.
    Assim, na primeira metade da década de quarenta, o Grupo Recreativo de Tercena, que tinha acabado de construir a sua sede social, encontrou o benemérito Álvaro Vilela a manifestar grande vontade de criar na terra uma extensão de Bombeiros, tomando em consideração o quartel já existente em Barcarena e dando colocação a um grande número excedente de material de incêndios que possuía na sua Quinta de “Santo António”, no Bairro da Estação.
   Chegou a haver na sua própria residência, uma escola de bombeiros, tendo em vista o que ele pensava adaptar no colégio interno “Orfanato de Santa Isabel” em Albarraque, instituição apoiada a cem por cento pelo Banco Espírito Santo, mas depois de instalados todos os serviços, aquele material excedera e como estava a mais na sua quinta de Tercena, resolveu doá-lo à colectividade que acabava de construir a sua sede social e inclusivamente preparada também, não só para a vertente cultural e recreativa, como para fins humanitários e sociais.
     Assim, o edifício sede do Grupo Recreativo de Tercena foi construído a pensar nessa mesma extensão, contudo as polémicas com os Bombeiros de Barcarena foram de tal ordem fortes e contínuas que o benemérito, administrador do Banco, acabou por desistir, por não querer desavenças com os bombeiros da freguesia, por francamente também os apoiar.
    A renitente direcção dos Bombeiros entendia que aquela extensão viria enfraquecer a sua corporação, por esta ter sido sugerida pelo grande benemérito e depois de consolidada, este abandonar Barcarena e ficar apenas dedicado a Tercena e isso causava grandes discussões, criando-se mesmo uma enorme rivalidade entre o povo de ambas as localidades, que perdurou até quase aos nossos dias.
  Uma vez que o benemérito desistia da ideia por não querer problemas entre as duas colectividades, a ampla sala do Grupo Recreativo de Tercena que ficara preparada para receber obras finais, tendo em vista o quartel de bombeiros, criada inclusivamente para recolha e aparcamento das respectivas viaturas e serviços, foi aproveitada para se instalar o tão necessário e prometido “Posto Escolar de Tercena”.
    A Câmara Municipal de Oeiras aprovou a ideia e em Outubro de 1946, a escola, sita na Av. de Santo António, deixou ali de funcionar passando para a sede do GRT, cujas instalações eram modelares e com mobiliário novo e sobretudo moderno.
     As velhas instalações escolares, que há muito andavam a ser cobiçadas por pessoas que entretanto procuravam Tercena para nela habitarem, acabaram por ser ocupadas, por uma família pobre e com gente em dificuldade, conhecida pela “Tia Águeda do Marú”, uma pobre mãe que vivia com dois filhos deficientes, o Afonso e o Marú.
    Mais tarde, com a morte destes, a casa foi alugada à família “Mira” e posteriormente ainda a outras pessoas, mas jamais sofrendo qualquer alteração até aos dias de hoje.
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Fim da 1ª Parte





O mais recente trabalho de Fernando Silva em pintura

A EXPOSIÇÃO DE PINTURA “PRETO NO BRANCO”
 De Fernando Silva, marcou não só os seus cinquenta e cinco anos como autor dramático, e cenógrafo, como assinalou ainda o quinto aniversário do Museu Etnográfico de Tercena

    Fernando Silva sempre teve uma certa inclinação para o desenho e pintura e mesmo sem nunca ter frequentado qualquer curso de artes, tentou sempre ser criativo, pintando, não só alguns quadros que guarda no seu museu, como cenários aplicados na sua maioria, em espectáculos que levou à cena no Grupo Recreativo de Tercena e posteriormente na Associação Cultural de Tercena. 
  O autor não esquece as suas pinturas aquando era muito novo com dez e quinze anos, que sempre guardou religiosamente, contudo quando se casou e mudou os seus haveres para a sua nova casa, sua mãe, descurou um pouco a arte e o conservadorismo de seu filho, a quem negou sempre a continuidade a sério e atirou para o lixo uma pasta com mais de vinte pinturas a óleo e desenhos, o que lhe causara grande tristeza pois ele guardara todo aquele seu espólio, para poder mais tarde mostrar aos mais novos, a forma como principiar uma actividade, muito útil para se obter uma melhor compreensão sobre a evolução de uma pessoa.
   Os seus trabalhos são de qualidade medíocre, bem o reconhece, mas foram sempre importantes para que ele pudesse atingir alguns objectivos, como aconteceu com a arte dramática.
   Eram muitas vezes os seus cenários ou aqueles que via em outros espectáculos que o inspiravam a novos trabalhos e assim tem acontecido ao longo da sua vida.
   Neste momento, cinquenta e cinco anos depois de se ter estreado como encenador teatral, Fernando Silva orgulha-se de mostrar no seu museu mais de seis dezenas de pinturas, que o marcaram desde sempre e têm sido com elas que aconselha os seus visitantes mais jovens, para o facto de tudo possuir um princípio.
    E assim mostrando os seus primeiros trabalhos, até atingir os últimos, a evolução deste artista amador, tem sido muito grande, acabando mesmo por afirmar diante da natural curiosidade das crianças que “uma casa não se começa pelo telhado”, nem sequer “um militar inicia a sua carreira como general, mas sim como soldado”.
   Neste momento e depois de ter passado épocas largas sem pintar, Fernando Silva exibe com orgulho a sua exposição, “Preto no Branco”, uma colecção de trinta e cinco quadros desenhados e cobertos a tinta da China no formato de A3, que bem evidenciam a sua grande apetência por este tipo de pintura, uma vez que em 1982, última vez que utilizou esta técnica, foi bem sucedido, criando três quadros sobre a praia de Armação de Pêra que guarda religiosamente e que se encontram em excelente estado de conservação, sendo inclusivamente, um deles, a capa de um dos seus livros.
   Os seus trabalhos estendem-se por diversas épocas desde 1973 até aos dias de hoje, mas sempre com grandes intervalos entre umas e outras, não esquecendo o período de jovem quando começou a gostar desta arte, mas longe da escolaridade especializada, por seu pai não possuir meios para o colocar na Escola António Arroio, como constantemente era aconselhado pelos seus mestres escolares.
   Estes trinta e cinco trabalhos, retratam precisamente locais, não só da sua terra, como por onde o autor passou e se apaixonou com aquilo que visitou, tanta vez as coisas mais singelas da natureza, mas que acabaram por serem evidentes na sensibilidade do autor.
     Pinturas especialmente recordando as ilhas açorianas, como o Pico, Faial, Terceira, S. Jorge e Espanha, assim como um grande número, mostrando locais do concelho de Oeiras, onde a freguesia onde nasceu não podia faltar.
    A sua última colecção, efectuada em 1997, dedicada aos casais agrícolas de Barcarena, foi apresentada não só na Quinta do Filinto em Tercena, como numa mostra levada a cabo na Fabrica da Pólvora onde esteve durante algum tempo, sendo também a primeira e única até aos dias de hoje que as pinturas a óleo foram vendidas, o que, francamente constitui sempre um grande problema para ele, pois considera qualquer sua obra como um verdadeiro filho e como tal de difícil doação, ou inclusivamente venda, o que irá acontecer durante esta exposição onde todos os quadros irão ser postos à venda.
    A exposição foi inaugurada a 25 de Novembro, efeméride que marcou a comemoração dos cinco anos do Museu Etnográfico de Tercena, mantendo-a patente ao público até finais do mês de Dezembro de 2011, e poderá ser visitada na sala multiusos da Quinta do Filinto das 10 às 22 horas, no entanto este trabalho poderá ainda ser mostrado em outros locais desde que hajam interessados em divulgá-lo.

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domingo, 11 de dezembro de 2011

Suspensa uma estrutura cultural com 130 anos

“BANDA DE BARCARENA”
 UM VALOR QUE NÃO PODE SER ESQUECIDO

      A propósito de um programa musical que passou na televisão, mais propriamente na “TV Memória”, veio-nos à lembrança a velha banda dos Bombeiros de Barcarena que tão bem tocava e tantos êxitos obtivera enquanto funcionara durante os seus 130 anos de existência.
    A banda de música que fora o grande embrião daquela Associação Humanitária, nascida de um tão singelo “sol e dó”, acabara por ser a razão de se criar, na sede da freguesia uma corporação de bombeiros devido a ter havido um incêndio no barracão onde se guardavam os instrumentos e estes terem sido consumidos pelo violento fogo.
      Inesperadamente, ao assistirmos àquele programa musical, que procuramos nunca alhearmo-nos dele à 4ª feira à noite, constatamos que a Banda de Barcarena fora convidada pelo La Féria para participar no programa que se realizava semanalmente no Teatro Politeama em Lisboa para a RTP, chamado “Cabaret”.
     Ao vermos o programa musical, surgiu o actor José Viana a representar um monólogo em que encarnava a figura de um bombeiro voluntário e a saudade apertou ainda mais, ao tomarmos conhecimento de que antigamente até as pessoas importantes colaboravam activamente com as corporações de bombeiros.
  António Silva, foi um dos grandes actores, que na qualidade de comandante dos bombeiros da Ajuda, e como todas as noites representava no Teatro Maria Vitória, no Parque Mayer, tinha sempre o telefone ligado à sua corporação, para lhe poder valer caso houvesse algum problema.
     Isto era de facto o expoente máximo do amor que as pessoas dedicavam àquela nobre e humanitária causa, o que francamente, nos dias de hoje vai desaparecendo o voluntariado, criando-se o profissionalismo.
   José Viana, sempre no seu característico estilo de actor, adorava este tipo de representação e uma vez mais mostrara as suas grandes qualidades artísticas, pois os seus quadros revisteiros, tinham sempre uma componente séria, crítica, não deixando de evidenciar com cuidado a defesa destas actividades que por vezes pareciam andar esquecidas dos mais responsáveis do país, só recordada com impacto quando se pedia aos “ soldados da paz”, a sua dura colaboração para a extinção dos incêndios e não só.
     A presença de José Viana, também trouxe à memória o dia em que testou para que Fernando Silva integrasse profissionalmente o elenco do Teatro ABC, e que seu pai, teimosamente, inviabilizou, pois na sua, talvez ainda descontrolada ideia, pretendia seguir a vida artística e tudo fizera para tal, contudo o seu pai, conhecedor da vida e das dificuldades que os actores passavam naquela época, factos que não vislumbrava ainda nesse tempo, acabaria por, de uma forma até, reconheça-se, ordinária, não permitir que o empresário do teatro José Miguel o contratasse para a revista que iria levar à cena naquele espaço do Parque Mayer.
    José Viana foi a figura principal da apoteose deste espectáculo, onde curiosamente a Banda de Barcarena participara a convite daquele importante e famoso empresário teatral.
    Lembramo-nos de ambos e afinal desses saudosos tempos, e hoje essa mesma importante estrutura musical está quase terminada, embora saibamos que já há alguns meses se encontra suspensa pela direcção da associação barcarenense.
    Se há razões ou não para tal, isso transcende-nos, pois só o que nos compete referir é que antes havia sempre o habitual concerto de Natal, que enchia de alegria, não só músicos, como maestro e público que acorria em grande número, e hoje ao notarmos esse grande vazio naquela centenária casa, todas essas lembranças crescem ainda mais, parecendo mesmo não compadecerem os demais que determinaram a suspensão.
    Venda Seca um idoso carismático e grande amante da Associação que muito colaborara para o seu progresso e da respectiva Banda de música, tristemente reconheceu que, “a Banda de Barcarena, uma vez que não há músicos de Barcarena está arrumada”.
   “A Banda para tocar tem de ter músicos contratados e então tem de se pagar. Barcarena não tem rapazes, pois costumávamo-nos reunir aqui à porta da Junta ou do talho, mas agora não se vê ninguém, por isso e a escola de música acabou já, pois agora o que falta é fechar também a porta dos bombeiros,” comentou aquilo grande e antigo carola dos bombeiros que tanto dera àquela estrutura cultural, social e humanitária quando era novo.
    Mas nós repetimos, “haja ou não matéria para tal atitude ter sido tomada, apenas podemos recordar que, uma banda de música terá sempre despesas, não se tratando de uma “mercearia”, ou outro comércio qualquer, que se obriga a dar lucros para poder sobreviver”.
    A grande verdade é que a funcionar e assim, caprichosamente a “banda de Barcarena” calou-se e quem sabe se este temporário silêncio não virá a ser o princípio do seu fim ?...
    É tudo isto, matéria que, no mínimo, consideramos estranha, não encontra consenso entre os homens, para que a mesma volte ao seu normal, porque para além de ter desgostado os músicos que nela se integravam, o povo barcarenense, também sofre com a sua falta, não aceitando quaisquer razões válidas, mas sim obrigando que essa estrutura funcione porque ela diz muito a toda a gente.
     Nela tocaram muitos músicos, hoje já falecidos e isso acaba por ser uma grande ofensa a quem tanto lhe dedicara e sofrera para a conseguir por de pé.
    Afinal o fogo deflagrado, no barracão onde a mesma funcionava no século XIX que dera origem à famosa corporação de Barcarena, foi o mesmo que a atingira este ano, só que as queimaduras causadas nessa remota época, nunca sararam e só agora, 130 anos depois poderão causar a sua morte, o que na verdade se lamenta e nos obriga a falar, repetimos, sem na verdade se conhecer ao certo se houve ou não razão para terem sido cancelados, quer os seus ensaios, quer as suas exibições, só sabemos que a Banda de Barcarena, este tempo todo depois, é naturalmente um pouco de todos nós, pois os barcarenense sempre tiveram alguém que fez parte, de uma forma ou de outra, dessa estrutura musical considerada uma das melhores da região.
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sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Tercena deveria chamar-se "Tercenas" e nunca Torcena

MANUEL ANTUNES O “TAPIÇO”
                      NASCEU EM “TERCENAS” EM 1865      
       Manuel Antunes vulgarmente conhecido em Torcena pelo “Tapiço”, terá recebido esta alcunha, por possivelmente ter sempre alguma coisa destapada e os amigos, ou familiares o chamarem constantemente, por graça, a atenção desse pormenor, contudo é desconhecida a verdadeira razão deste popular tratamento que tinha um dos muitos agricultores de Tercena do princípio do século passado.
   Nascido a 4 de Outubro de 1865 era filho de António Antunes e Josepha Maria, viveu durante muitos anos numas casas situadas na Avenida de Santo António em Tercena, mesmo por detrás da igreja dedicada àquele santo, na localidade pertencente à freguesia de Barcarena.
  Foi graças ao aparecimento da sua caderneta militar que  se soube  que  Tercena tinha tido uma outra nomenclatura, pois  em 1865, data de nascimento deste cidadão tercenense a terra chamava-se “Tercenas”.
   Pelo menos é o que consta na sua caderneta militar, ao tomarmos conhecimento do dia em que assentou praça, a 28 de Fevereiro de 1887 no Regimento de Infantaria, agora situado na Amadora.
   Era servente da Fábrica da Pólvora, onde quase toda a sua família trabalhara, pois desde familiares antigos aos que o sucederam, como seus filhos, Maria Augusta e Clemente Antunes, mais tarde, em outras gerações, Filinto Silva, Fernando Silva e outros, todos ali ganharam o seu pão, por se tratar de uma fábrica estável, não sendo muito famosa na remuneração aos seus empregados e ainda temerosa, uma vez que, de quando em quando sucedessem terríveis explosões, que vitimavam familiares e amigos, mas pelo menos proporcionava mais garantias sociais que o simples e também duro trabalho do campo.
    Manuel Antunes vivia do seu casal agrícola, pois criava vacas e outros animais, num espaço que mais tarde viria a ser dividido em partes, sendo dadas as suas casas aos filhos que nelas passaram a viver, cada um, constituindo a sua família, à excepção de Fortunato Antunes, que se estabelecera na capital, mais propriamente em Campo de Ourique, com uma mercearia que, recebera o nome da freguesia, “Barcarenense”, isto era mais uma prova do grande amor que todos os naturais da autarquia nessa épocas, dedicavam à sua terra natal.
    Manuel Antunes veio permitir que o seu bisneto, Fernando Silva dedicado às recolhas de sua terra, conseguisse descobrir que afinal a localidade onde a família vivia se chamava, na altura do seu nascimento, em 1865, “Tercenas”, pois bem o prova o seu documento militar, mas ignorando-se quando se terá registado essa mudança para “Torcena”, como se verificou, pelo menos tendo perdurado até 1928.
   “Tercenas”, em nosso ver está correcto, pois tratava-se de um facto verídico na localidade, pois existiam as tercenas, arsenais do exército que compunham o complexo fabril da Real Fábrica da Pólvora que António Cremer tinha criado em 1729, acabando por o rei D. João V, o “Magnânimo”, deixasse de atribuir alvarás a fabricantes de pólvora de credibilidade medíocre, que tinham os seus engenhos montados ao longo da ribeira de Barcarena e que muito frequentemente explodiam.
    Conhecem-se ainda indícios desse tempo no lugar do Bico onde se podem ver, embora agora bastante assoreados pelas constantes cheias, pequenos reservatórios, quais cadinhos gigantes, uma espécie de vasos onde se fundiam metais, mas naquele lugar serviam para misturar os componentes da pólvora.
    “Tercenas” terá sido o nome da localidade por alguns anos, e como era vulgar e fácil mudar o nome da terra sem grandes consequências ou trabalheiras burocráticas, Tercenas terá passado a dada altura, a chamar-se simplesmente Torcena.
     Já dizia o Mestre Instrutor Francisco Assis Mafra, uma grande sumidade da Fábrica da Pólvora de Barcarena onde trabalhou durante setenta anos, que “torcena” se devia ao facto de se terem fabricado nas antigas Ferrarias del Rey, criadas por D. João II em Barcarena, mesmo ao lado da Fábrica da Pólvora, bacamartes que teriam recebido essa nomenclatura.
    A grande verdade é que, por muito que se tivesse procurado esses bacamartes em museus de armaria e em registos da época, tal nunca se veio a descobrir, pelo que essa remota ideia, acabaria por se perder prevalecendo o facto de ter mais realidade as tercenas, por de facto se relacionar com o que de verdade existia naquele local.
  Acrescentando à ideia, de que era fácil a mudança de nomenclaturas de localidades naquele tempo, em 1930, uma petição de Lino Pedro da Silva, para ampliação e modificação da sua propriedade naquela localidade, o requerimento entrou na Câmara Municipal de Oeiras com a indicação de “Torcena” em 13 de Novembro de 1930, e quando foi deferida a autorização, veio já com o nome de Tercena, perdurando até aos dias de hoje.
    Mas voltando a Manuel Antunes que motivou estas mutações, Tercenas deveria na realidade ser o verdadeiro nome da terra, só que, atendendo a que era uma nomenclatura no plural, terá sido optado por se dar aquele nome, mas no singular, pois a grande verdade é que tercenas, de facto existiam algumas naquele local junto ao ribeiro e não apenas uma, por isso terá sido esta uma das principais razões daquela mudança de nome no início da década de trinta do século passado.
    Manuel Antunes viria a falecer e jamais se terá apercebido em vida das razões destas mudanças, assim como outros moradores daquela época e geração e só muito mais tarde quase cem anos após o seu falecimento, o seu bisneto se preocupou com estes pormenores e tentou saber as razões destas alterações toponímicas, mas também ele, embora todo o seu trabalho e preocupação, jamais conseguiu saber a verdade, por nada existir registado em documentos formais e oficiais destas mudanças, como acabaria por suceder com a mudança de Torcena nos anos trinta do século passado, pois muito simplesmente foi retirado o “o” e colocado o “e” e isto por Joaquim Cabril, um distinto médico de Barcarena assim ter proposto em Oeiras e a troca foi fácil e entendida prevalecendo até aos dias de hoje.



























segunda-feira, 21 de novembro de 2011

A estrada esteve muito tempo encerrada

A ESTRADA DOS EUCALIPTOS E A SEGURANÇA DA FÁBRICA DA PÓLVORA

     As velhas granadas à entrada da estrada particular que servia a Fábrica da Pólvora, foram construídas para identificarem o espaço particular daquela empresa estatal, por onde o trânsito rodoviário que servia à unidade fabril passava e marcava o começo de uma segurança naquela área onde circulavam viaturas e pessoas, mas francamente nunca funcionou com eficácia.
    Os grandes portões de ferro ali existentes agarrados ás granadas construídas em alvenaria, só se abriam para passar as viaturas da empresa, nomeadamente camionetas, pois quase todo o restante tráfico mais ligeiro, passava pela velha estrada das Fontaínhas, contudo viaturas de maior tonelagem não podiam passar naquela apertada curva nas Fontaínhas, local conhecido pela casa da D. Mariana, ou da “Tasca da Bicha Rodilha”, ali existente.
     A curva era muito apertada, pois mesmo os autocarros que faziam a carreira Queluz de Baixo/Caxias tinham alguma dificuldade por isso a empresa escolhera viaturas pequenas, de vinte e dois lugares, que para além de passarem facilmente aquela curva, chegavam bem para o tráfego transportado naquela época.
   Mais tarde, quando as localidades da freguesia se desenvolveram, obviamente que o tráfico aumentou, principalmente nos meses de verão, devido à frequência da população da praia de Caxias.
     A empresa Eduardo Jorge da Venda-Nova, Amadora solicitou à administração da Fábrica da Pólvora uma autorização especial para que os seus autocarros pudessem passar pela estrada particular da Fábrica, que começava no edifício da Secretaria e estendia-se até às velhas granadas, já dentro da localidade de Tercena.
  Contudo os motoristas tinham de abrir e fechar os portões sempre que por ali passavam o que causava algum incómodo, porque natural e teimosamente a proprietária da vivenda existente na curva das Fontaínhas, D. Mariana não autorizava que a sua habitação fosse destruída para que a estrada naquele local fosse alargada.
   As viaturas passaram então a passar por dentro da Fábrica, durante o dia nos seus horários normais e só muito mais tarde, já nos anos sessenta, depois daquela senhora ter falecido, é que a casa foi demolida e a estrada alargada, mas mesmo assim ainda hoje se verifica essa curva acentuada na respectiva estrada das Fontaínhas.
   A estrada dos eucaliptos, como vulgarmente os empregados lhe chamavam, era um local aprazível e isto porque o movimento por ela era muito reduzido, pois para além das camionetas da Fábrica e as carreiras da Empresa Eduardo Jorge que ali passavam, só os moradores no bairro fabril, ou quem viesse a pé de Barcarena para Tercena a utilizavam, por isso o piso mantinha-se sempre bom, já que, quem mais se servia dela eram os funcionários no seu dia a dia a caminho e regresso do trabalho, mas esses não causavam o mínimo desgaste àquela artéria.
    Era bastante arborizada, com palmeiras, eucaliptos e outras árvores, por isso toda ela era envolvida numa permanente sombra o que permitia uma caminhada mais agradável, aos funcionários que a utilizavam diariamente por duas vezes ida e volta.
   A estrada fora construída no princípio do século passado, para dar serventia ao pessoal militar que guardava aquele estabelecimento fabril do Estado e então, na sua extensão, cerca de quinhentos metros, existiam três guaritas construídas em alvenaria.
   Uma logo no seu início, junto ao edifício administrativo onde trabalhavam os empregados de escritório e se concentravam, a direcção e administração da Fábrica, uma segunda mesmo junto à entrada do novo e actual edifício da Universidade Atlântica e uma última ao fim da grande recta, onde curvava para a direita, a escassos metros do termo da estrada.
    Nessas guaritas ficavam dia e noite soldados do quartel de Queluz, que tinham a sua base, na Fábrica da Pólvora, mesmo junto à ponte de ferro que dava acesso à margem sul da ribeira de Barcarena.
    Os soldados estavam ali dia e noite, e dali saíam para fazerem as suas rondas, substituindo os seus camaradas, mas depois da II Guerra Mundial, esse serviço de guarda, deixou de se efectuar, ficando apenas o serviço de guarda, próprio da Fábrica, mas as guaritas continuaram no seu lugar, mas sem qualquer uso, até que, uns anos mais tarde, devido a muitos fazerem delas  retretes,  foram demolidas.
    Esse serviço de vigilância efectuado pelos militares terminou logo após a Fábrica ser vendida a uma empresa privada belga, a Companhia de Pólvoras e Munições de Barcarena, criando um serviço de guarda especial, mas particular.
    A Fábrica teve este importante serviço de guarda durante muitos anos, devido às Guerras Mundiais que estalaram na Europa e os receios de ataques, mas francamente sem qualquer eficácia, porque, se era guardada aquela entrada com tanto rigor e aparato, o ribeiro que passava por dentro da Fábrica, estava completamente descurado, assim como a zona sul da fábrica que dava acesso à carbonização.
  Nesta zona da fábrica existiam muros baixos que de nada serviam, pois quem pretendesse entrar dentro daquele amplo espaço, era muito fácil e depois, a densa arborização no seu interior ainda mais facilidades permitia a quem quisesse ali entrar pois ninguém dava por isso por não haver postos de vigia.
   A vigilância dentro da fábrica foi sempre muito desguarnecida, pois, se no tempo em que os militares cuidavam da vigia daquele espaço ela já era muito deficiente, na época em que foram admitidos guardas particulares para fazerem a sua vigia nocturna, ainda era bem pior.
     Os guardas sem qualquer formação militar, limitavam-se a estar apenas ao portão, e só de duas em duas horas davam uma volta por aquele amplo espaço, mas de nada valia.
      Primeiro, porque nada conseguiam detectar se acaso alguém entrasse dentro da fábrica e depois, as armas obsoletas que usavam a sua acção era nula não lhes permitindo actuar e a grande verdade é que foram várias as vezes que os guardas foram questionados sobre o que fariam se acaso encontrassem alguém estranho dentro da Fábrica e a resposta, não passou de uma gargalhada, acompanhada da seguinte frase.
     “Temos uma espingarda «Mauser», mais velha que a fábrica, nas mãos mas as balas, ficam sempre na casa da guarda e raramente vêm connosco”.
     Havia uma grande confiança nas pessoas e a verdade, reconheça-se, é que foram muito poucas as vezes que foram detectadas pessoas estranhas durante a noite, dentro da Fábrica.
    As que foram encontradas, eram quase sempre pessoas conhecidas que procuravam, caça por ela ali se refugiar, por norma, pombos que dormiam em buracos nas paredes do Pátio do Sol, ou então para roubarem pedaços de metal que por ali ficavam caídos depois das terríveis explosões, de resto alguns guardas  até  garantiam, em jeito de chacota:
    “Estive aqui a trabalhar trinta anos e nunca dei um tiro”.
    “Entrei para a guarda logo no início da Companhia e nunca utilizei a espingarda. Naturalmente se alguma vez necessitasse de o fazer, as armas e as balas estavam ferrugentas”, e estas frases sempre acompanhadas de grandes e estridentes gargalhadas, por isso constatamos que afinal, o serviço de guarda e segurança daquele estabelecimento fabril, nunca foi visto com bons olhos, pese embora o pessoal que ali trabalhou nesse serviço, ao portão e durante o dia, se mostrasse sempre atento e cumpridor dos seus deveres, mas na realidade nunca se passaram casos alarmantes nem que viessem a prejudicar o bom serviço daquela unidade fabril que foi do Estado até 1951, passando a Companhia desde essa data até ao seu encerramento.
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terça-feira, 15 de novembro de 2011

Os que contribuiram para a destruição da cultura tercenense

O CINE “SANTO ANTÓNIO” DE TERCENA
  Estávamos no ano de 1976 e Fernando Silva, proprietário do Restaurante Pico do Arieiro em Tercena, era simultaneamente presidente da Grupo Recreativo de Tercena.
  Havia que mudar um pouco as ideias político ou partidárias que circulavam dentro da colectividade devido à existência dos grandes efeitos da revolução “25 de Abril” e como tal era necessário tentar-se a mudança e foi por essas razões que Fernando Silva aceitou o cargo de presidente da direcção.
  Como ideias modernizadas, a direcção pensou em dar um cariz diferente à colectividade e pensou na construção de um cinema, aproveitando a sala que anteriormente tinha servido de escola primária desde 1946 e como agora existia um novo estabelecimento de ensino, era oportuno criar novas estruturas, diferentes e sobretudo que possibilitassem a criação de novos hábitos, e trouxesse, obviamente, melhores e mais receitas para a sua sobrevivência.
 Se bem o pensou bem o fez e então desenvolveu-se um amplo estudo de como tudo deveria ser iniciado e assim aconteceu.
  A sala foi preparada, equipada com cadeiras próprias para o cinema e dentro dela criou-se um balcão onde cabia um bom número de pessoa, já que a plateia bem arrumada possibilitava no conjunto uma lotação de setenta e dois lugares.
   O palco era pequeno mas foi aproveitada toda a largura da sala para colocar o ecran cinematográfico, embora o espaço fosse reduzido para a efectivação de outro tipo de espectáculos.
   Possuía uma porta para o grande corredor e atrás foi criada uma cabine de projecção.
    Os dinheiros foram conseguidos através de festas que se realizaram, com bailes, sessões de fados proporcionadas pelo elenco artístico do Pico do Arieiro e assim se conseguiu comprar as cadeiras numa firma de Santo Estêvão em Benavente, e tudo ficou muito bem montado com a colaboração de alguns amigos, nomeadamente o Duarte Serafim, marceneiro que fez todo o trabalho de carpintaria gratuitamente, sendo inclusivamente uma grande mais valia.
   Foi adquirida uma máquina de projectar de 16 m/m e como naquela época começaram a aparecer os grandes filmes que passavam nos cinemas de Lisboa naquele formato, havia a possibilidade de trazer a Tercena grandes películas, algumas ainda a passarem na capital, o que era na realidade um grande atractivo.
 Podia-se mesmo dizer que era um cinema a funcionar como os de Lisboa, uma vez que os filmes que ali passavam em estreia decorrido um mês e até menos, já se projectavam em Tercena, chamando sempre muita gente à colectividade.
    Lembramos que a estreia do cinema ocorreu em 4 de Janeiro de 1977 com a película protagonizada por Elvis Presley, filme que estava a correr num cinema da capital e por especial deferência da empresa de aluguer permitiu que a copia em 16 m/m passasse igualmente em Tercena, o que foi extraordinário.
 Mas na realidade pelo “Cine Santo António”, nome dado por estar edificado mesmo diante da capela com esse nome, passaram grandes películas, bem referenciadas nos cinemas da capital, como foi “A Batalha das Ardenas”, “A Ponte do Rio Kwai”, “O Golpe” “As Melancólicas” “Rafael sem um adeus”, “Caiu uma garota na minha sopa”, “Os Cavaleiros das Estepes”que fez seis sessões, “Bonnie e Clyde” quatro sessões, entre muitos outros filmes de grande fama e que tinham estado na capital durante meses.
  Em Tercena faziam por vezes três e seis sessões, mas por exemplo a “Ponte do Rio Kwai” que recebeu 34 prémios internacionais com o famoso Alec Guinesse e William Holden atingiu catorze sessões, com espectáculos ao sábado e domingo às 15,30 e 21,30, num total de sete sessões por semana.
  Não era diário, mas o Cine Santo António funcionava às 3ª, 5ª e 6ª feiras, sábados e domingos
   Havia a preocupação de entreter as pessoas e o cinema era apelativo, e levou muita gente nova ao Grupo Recreativo de Tercena, que já não entrava na colectividade desde o 25 de Abril, pois certos indivíduos aproveitaram a euforia da revolução para transformar aquela casa numa segunda sede do Partido Comunista, o que muita gente não gostou deixando de a frequentar.
 O cinema veio alterar um pouco este estado de coisas, dar novos hábitos às pessoas contudo, quando Fernando Silva, deixou a direcção, a primeira coisa que esses senhores fizeram foi destruir o cinema, silenciá-lo, mais por não terem capacidade para o manterem, que por questões políticas, mas uma coisa ficou bem declarada, “O cinema acabou simplesmente por ter sido uma obra de Fernando Silva, que nessa altura era detestado por essa gente apenas por possuir uma grande casa comercial, esquecendo-se todos eles que ela crescera não só pelo dinamismo dos seus proprietários, como pela inovação no âmbito nacional, pois não havia nada igual em Portugal continental, pois servia a desconhecida espetada à moda da Madeira e isso foi fundamental.
   O Pico do Arieiro era o ponto de encontro de gente importante, mas também de gente popular pois todos ali faziam as suas refeições, e foi dessa precisa casa que Fernando Silva e sua esposa “roubaram” muito para dar ao Grupo Recreativo de Tercena, para como produto da venda criarem receitas, assim como festas patrocinadas pelo restaurante.
    Assim se conseguiu arranjar a verba para construir o cinema que encerrou a sua actividade, logo a seguir.
    As cadeiras foram vandalizadas, a ponto de apodrecerem numa arrecadação e mais tarde queimadas e ali nada mais foi feito que se dissesse ser útil à colectividade, uma das razões que muito chocou Fernando Silva, que ali vinha trabalhando desde 1958, em ininterrupto trabalho cénico, mas depois, devido à grande “facada” sofrida, dada pelos comunistas de Tercena abandonou puro e simplesmente a colectividade criando mais tarde a Associação Cultural de Tercena, onde ainda hoje funciona e mantém não só o teatro, como o grupo de folclore.
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O Pf.Manuel Vaz era um professor austero mas com grande poder de ensino


Último Episódio
ABASTADOS ?...QUEM É QUE DO BAIRRO DA ESTAÇÃO ERA ABASTADO ?...


    A D. Susana Carapeta lembra-se perfeitamente do Professor  Manuel Vaz, pois ainda tem de memória o dia em que foi numa excursão  dirigida por ele à Marinha Grande, das muitas que organizou, sempre no intuito de instruir os seus alunos e de lhes mostrar as grandes fábricas e os grandes pólos económicos do país, atenções de Mestre que hoje praticamente pouco se vê e que naquele tempo já constituía uma das suas grandes  preocupações.
   A D. Susana frequentava a escola do Grémio  da Estação, mas nunca chegou a ser aluna dele e como tal foi integrada no lote de crianças  que ali estudava naquele tempo, para visitar uma  das famosas fábricas de vidros.
     «Não foi meu professor, mas sei que tocava violino muito bem. Eu estava no Grémio, aliás a única escola que na altura havia em Torcena».
    E aproveitou para  nos dizer que as pessoas do Bairro da Estação nessa altura, não eram abastadas, mas sim viviam do produto do seu trabalho, contrariando o depoimento de algumas pessoas neste trabalho.
  «Mas afinal quem eram os abastados aqui do Bairro da Estação?... Ora vinham alunos de todos os lados aqui para a escola. De S. Marcos, Talaíde, Barcarena, Massamá, Tercena e muitas outras localidades, que frequentaram aqui o ensino primário e acabaram por fazer o seu exame da quarta classe».
   A escola era mantida por pessoas residentes no Bairro e não só, como apontou a D. Susana, pois foi graças a esses senhores que as crianças puderam ali aprender e focou alguns desses contribuintes que ajudaram a manter o ensino no Grémio Escolar e obviamente, pagar às professoras, como os senhores, Carapeta, Brás, Vilela, Virgílio Cruz, Neto pai duma professora de piano a D. Argentina Neto, Vieira e muitos outros.
 «Essas pessoas quotizavam-se por forma a que fosse possível ao fim do mês arranjar-se dinheiro para se pagar às professoras que no Grémio Escola davam aulas».
   «A D. Teresa Alão, D. Fernanda de Massamá que ministrava a primeira e segunda  classes e a D. Catarina uma senhora  mulata mas que era uma excelente professora, pois  nós apesar de sermos crianças nunca fizemos qualquer reparo ou comentário ao facto da sua cor de pele».
    A D. Susana fez questão em reafirmar  que as pessoas que viviam na Estação não eram abastadas, e citou  como exemplo o seu pai, que  era apenas oficial do Exército.
  «Eu não considero que ele fosse abastado, embora tivesse alguns valores em Runa deixados pelos seus pais. O Sr. Virgílio Cruz era funcionário da CP e  como tal nunca ouvi dizer que ele fosse abastado. O sr. Brás a mesma coisa e como tal não sei aqui quem é que tivesse sido abastado», contestou a D. Susana a propósito dessa informação veiculada em depoimentos anteriores de outras fontes neste trabalho.
   «Os alunos que aqui estudavam vinham a pé dos mais variados sítios e no Inverno quando chegavam tinham de tirar as botas à porta da escola porque  estavam atolados  em lama e que eu saiba todas essas crianças eram filhas de gente pobre».
     E lembrou-se  depois do Álvaro Vilela o único, em sua perspectiva, que poderia ser considerado abastado, mas mesmo sim garantiu-nos que não sabia como.
  Álvaro Vilela foi director do Banco Espírito Santo em Lisboa, mantinha em Tercena um palacete servido por  diversos criados, todos eles com funções específicas, cozinheira, ama de quartos, carpinteiro,  governanta, que bem conhecemos a Conceição Barbosa e muitos outros, no entanto a D. Susana não reconhece tratar-se de um homem abastado.
  «Não sei porque consideravam o Sr. Vilela como um homem abastado. Apenas por ter sido director do banco?... É preciso  que saibam que esse senhor, se obteve a posição que conseguiu, subiu a pulso, com o esforço do seu trabalho, de horas extraordinárias que fez e como tal chegou ao ponto que chegou.»
   «Todos nós daqui ficamos  muito a dever ao Sr. Vilela, pois foi ele que levou muita gente  daqui e conseguir o seu trabalho no Banco Espírito Santo», salientou aquela senhora. 
 E recordou o seu ex-marido, Coelho Marques que alcançou uma excelente posição  no Banco de Fomento e Exterior de onde está actualmente reformado por mérito próprio, mas jamais sendo um abastado.
  «Ora em face  de tudo isto não vejo quem é que por aqui  tivesse sido abastado».
 E recordou depois o seu avô que foi engenheiro e serviu a Fábrica da Pólvora durante vinte e tal anos como Mestre.
    Chamava-se Aníbal de Azevedo que acabou por merecer o nome de uma rua na cidade da Amadora pois foi através dos seus grandes esforços e dedicação que viera a recebera essa homenagem.
  «Era acérrimo republicano e deputado. Foi  administrador da Câmara Municipal de Sintra acabando mesmo por ser Ministro do Comércio, pois foi notável o seu dedicado trabalho para elevar a freguesia a actual cidade de Amadora».
   «Ao meu avô igualmente se ficou muito a dever pois levou bastantes rapazes daqui para a Casa da Moeda onde esteve durante muito tempo», afirmou convicta de que, apesar de tal não era uma pessoa abastada.
  E a propósito do Sr. Álvaro Vilela, um grande benemérito que viveu em Tercena, muita gente ainda hoje ousa tecer comentários desagradáveis contra as suas atitudes naquele tempo, esquecendo-se  esses indivíduos, que não sabem fazer outra coisa que não seja dizer mal e criticar os outros, que, por exemplo o Grupo Recreativo de Tercena, foi produto do seu esforço, dedicação e do muito dinheiro que  emprestara  aquando da  construção do edifício sede daquela colectividade.
    «Uma verdade indesmentível. É uma grande vergonha, essa falta de reconhecimento de algumas das pessoas da terra, pois ele ajudou toda a gente, inclusivamente os próprios Bombeiros Voluntários de Barcarena, a ponto de ter criado uma secção de bombeiros na sua casa, e proporcionando  muitos exercícios simulacros no seu palacete, no sentido de dotar os «soldados da paz», com maiores aptidões».
   E Tercena hoje não tem um quartel de Bombeiros porque encontrou sempre uma enorme oposição por parte das direcções dos Bombeiros de Barcarena que o levou mesmo a desistir, pois chegou a haver receios de que a criação da secção de Tercena viesse mais tarde superar a Associação de Barcarena, pois ele até deu a sugestão ao conceber-se o  imóvel do Grupo Recreativo de Tercena,  ficar equipado numa ala do edifício, instalações apropriadas  para  o funcionamento dum quartel de bombeiros.
    Essa ideia não foi avante e esse  espaço acabaria depois por ser utilizado para uma escola primária e o material existente repartido por corporações dos arredores, inclusive a que ele fundou no Orfanato Escola Santa Isabel em Albarraque.
   E para terminar esta conversa franca e espontânea, a D. Susana Carapeta confirmou que infelizmente existem sempre rivalidades nas localidades e este caso dos abastados, terá sido uma razão da pequena diferença de mentalidades existente entre as pessoas que nesse tempo viviam no Bairro da Estação e as do lugar, porque ao fim e ao cabo, era a maneira de viver delas que impressionava os vizinhos do lugar de Torcena, porque afinal, abastados, abastados só reconhecemos de facto o  Sr. Álvaro Vilela,  pois os outros viviam do produto honesto dos seus trabalhos, mas mesmo assim, a vida no lugar era tão pobre, tão resumida, as pessoas tão simples quanto ignorantes, que era precisamente isso que os obrigava por vezes a focar essa distinção.
   «Sempre existiram rivalidades, por isso é que existem guerras, e senão vejamos no nosso país que é tão pequeno a guerra que se trava diariamente entre o norte e  o sul. Instalaram-se  doentias rivalidades entre Porto e Lisboa. Nas vilas, nas diversas cidades do país contra as capitais de distrito, e inclusivamente toda a gente sabe da  bastante antiga rivalidade entre Tercena e Barcarena, duas terras que foram sempre tão pequenas e insignificantes em relação ao país, mas infelizmente com azedumes entre as pessoas e as vezes sem razões para tal. É assim, mas nem sempre podemos aceitar as ideias dos outros, porque abastados?....  Quem é que do Bairro da Estação era abastado?...»,  concluiu a D. Susana Carapeta, a propósito das suas lembranças e relacionamentos  sobre o  Professor Manuel Vaz, outra grande amante da terra onde vive há muitos anos e onde tem feito a sua vida, sempre pronta em colaborar nas iniciativas locais no sentido da preservação do bom nome das gentes que aqui sempre viveram e que lutaram, heroicamente por este pedaço de torrão do concelho de Oeiras.

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