domingo, 25 de agosto de 2013

A Cultura de um povo

TUDO SE DEVE AO ANCESTRAL SABER E A PARCA CULTURA DESSES REMOTOS TEMPOS
       A freguesia de Barcarena, cresceu desde os primeiros séculos, sempre despida de um certo número de estruturas, onde o povo pudesse demonstrar os seus conhecimentos, a sua cultura, a sua real vontade em dar nas vistas perante outras comunidades, nitidamente mais desenvolvidas
   No campo associativo Barcarena, ainda hoje, não possui grande riqueza, pois só a partir do final do século XIX se começou a delinear e a criar estruturas que servissem o povo por forma a desenvolver os seus conhecimentos e a motivar a população nas áreas, cultural e desportiva.
    Mesmo ainda nos nossos dias, os jovens jamais encontraram espaços para praticar desporto, a não ser o modesto atletismo, onde as estradas da freguesia são as grandes pistas, tendo sido o grande suporte das necessidades e carências nessa área de toda a juventude, pois de resto nem um simples campo de futebol existe, pese embora se tenha solicitado por diversas vezes.
    Barcarena, encontra no seu meio associativo, a mais antiga estrutura, a Associação de Bombeiros Voluntários Progresso Barcarenense, fundada na sede da na freguesia na década de oitenta do século XIX, estrutura que para além da sua componente social e humana de apoio à população, iniciou a difusão das áreas, recreativa e cultural, fundada em 1880, seguindo-se depois o Grupo Recreativo de Tercena, que desenvolveu um papel cultural e desportivo importante desde 1928, colectividade caracterizada pelo seu nascimento, pois foi dentro da capela de Santo António que a mesma deu os seus primeiros passos e amadureceu durante dez anos, passando depois para edifício próprio e recentemente mais dedicada ao desporto, mas sem ter grande implantação pelas razões já apontadas, a falta de espaços desportivos em toda a freguesia, próprios para a prática do desporto.
  “O Grupo”Os Fixes” de Queluz de Baixo, têm mantido uma actividade regular no campo desportivo, pese embora nos primeiros anos de vida fosse, tal qual todas as outras, um grupo vocacionado para a cultura e lazer pois nasceu em 1933 e só há pouco mais de trinta anos se dedicou profundamente ao desporto, sendo talvez o mais conhecido na área desportiva, com modalidades ligadas ao futsal, atletismo, mas pouco mais.
  A SERUL – Sociedade de Educação e Recreio “Os Unidos” de Leceia foi fundada em 1949 e tal qual as outras congéneres, teve uma dedicação especial à cultura e lazer, mas só recentemente se virou mais para o desporto.
 Todas as outras existentes são mais recentes, gozando já de um estatuto moderno, dedicando-se ao desporto como o Valejas Atlético Clube, e o Grupo Desportivo de Barcarena, já que a Associação Cultural de Tercena, a mais recente colectividade concebida em 1990, está totalmente vocacionada à área cultural.
  Neste aspecto, os Bombeiros de Barcarena desenvolveram um profícuo trabalho no campo teatral e foi talvez a colectividade onde terá nascido o gosto pelas danças etnográficas e teatro, pois já no tempo do grande maestro Alípio Seco, um homem forte na associação barcarenense, manteve um trabalho pormenorizado nessa área, sobressaindo-se a arte de representar, de onde saíram grandes mestres do amadorismo, como Ramirinho, Venda Seca, Baltazar Silva, Florêncio Aguiar entre muitos outros.
  “Os Fixes” encontraram também, nos primeiros anos de vida, uma grande actividade dedicada ao teatro e às danças etno-folclóricas, quando a sua sede ainda se situava bem colada ao mítico palácio Restani, hoje em ruínas, edifício antigo, concebido para albergar o médico da corte, quando esta se encontrava no grande palácio de Queluz.
     O Grupo Recreativo de Tercena, foi mesmo exímio na arte de representar, encontrou grandes homens ligados à música e ao teatro, como Jaime da Silva Barcarena, um enorme vulto no campo profissional e a nível nacional, assim como o Mestre Oliveira que foram os iniciadores da famosa orquestra que daí brotou e que perdurou até 1957, sendo mesmo considerada a melhor de toda a Área Metropolitana de Lisboa.
   O teatro encontrou igualmente grande projecção com o trabalho de António e Fernando Martins, pai e filho, Filinto Silva e Joaquim Rodrigues da Silva, tendo-se criado desde 1929 uma grande apetência pelos espectáculos etno-folclóricos, onde João Marques Boletas teve grande impacto, mas acabando no seu reinado a arte de fazer folclore ao jeito saloio de Barcarena, bem diferente do que se conhecia nas redondezas mais do interior.
  Barcarena, dedicou-se muito cedo à etnografia e folclore, contudo as suas actividades nesse campo eram diferentes do que existia em outros locais da região, tendo-se abandonado essa actividade por se interporem outras actividades, e a colectividade de Tercena foi a grande continuadora desse tipo de espectáculos bastante queridos na época, sendo inclusivamente uma modalidade cultural que prevaleceu até ao princípio dos anos cinquenta, terminando praticamente quando surgiu a televisão e veio dar novas ideias e preferências ao povo português.
  Mais tarde, já com Fernando Silva nos seus últimos anos de associativismo, voltou a impor essa actividade, mas nos moldes actuais e surgiu a Associação Cultural de Tercena, que deu início a um grupo de folclore que viria a representar esse passado, tendo inclusivamente recolhido três das antigas cantigas populares dos anos vinte e trinta, junto de pessoas idosas que participaram nesses antigos grupos, encontrando em Doroteia Dias Oliveira, João Marques Boletas e Júlio Gonçalves, os que mais colaboraram com o novo agrupamento.
    Foi graças a estes idosos de boa vontade e ainda de memória bem activa que se conseguiu atingir os ideais com que hoje se trabalha.
  A cultura do povo antigo, os seus ancestrais conhecimentos, transmitidos de geração em geração foi absorvida e desenvolvida com extrema dificuldade até se atingir o alto grau tecnológico com que se vive actualmente, parecendo mesmo aos mais novos que nada se consegue sem esses novos conhecimentos, mas a verdade é que acabaram por ser fundamentais e básicos, diante das muitas ofertas que hoje proliferam em todas as áreas.
    Foi devido ao grande sacrifício desses antigos que se atingiu este desenvolvido patamar e mais surgirá com o avançar dos anos.
  Foi graças ao espírito criativo dessa pobre e inculta gente que tudo fazia à custa dos seus ancestrais conhecimentos, da força dos seus desenvolvidos músculos, aliada aos seus parcos recursos e sabedorias, coadjuvada ainda pela força dos animais que os serviam e bastante facilitavam na movimentação dos materiais, que se atingiu a plenitude de hoje.
     Por isso será sempre necessário evidenciar essas sacrificadas criaturas, lembrá-las às novas gerações, porque se hoje existe todo este mundo tecnológico, toda esta facilidade à força de um simples “clik”, arranjando-se soluções para tudo, onde de tudo se sabe dispensando os ancestrais livros que consumiram milhões de cérebros humanos, se deve à insistência dessas pessoas que foram desenvolvendo pistas, estratagemas que hoje não passam de teorias desvalorizadas, caricatas mesmo, para se atingir os meios, e como tal terão sempre de ser valoradas, por muito desconhecimento que haja desses recuados tempos, estranhos mas fundamentais para o progresso que hoje sustenta o mundo civilizado.
&&&