segunda-feira, 20 de junho de 2011

O Lugar do Bico em Tercena

  JÁ EXISTE DESTE O TEMPO DOS VELHOS ENGENHOS DE FAZER PÓLVORA
 Um lugar onde viveram muitas famílias durante o século passado e hoje está resumido a pouca gente, pois, ao que julgamos saber, as suas casas irão ser demolidas por muito antigas e obsoletas se encontrarem, sem as mínimas condições de habitabilidade, sendo os seus moradores, obviamente, transferidos para um novo bairro que irá ser construído um pouco mais adiante.

   O lugar do Bico, pertencente à localidade de Tercena é um dos locais mais antigos desta povoação da freguesia de Barcarena.
    Um lugar onde viveram muitas famílias durante o século passado e hoje está resumido a pouca gente, pois, ao que julgamos saber, as suas casas irão ser demolidas por muito antigas e obsoletas se encontrarem, sem as mínimas condições de habitabilidade, sendo os seus moradores, obviamente, transferidos para um novo bairro que irá ser construído um pouco mais adiante.
    Com esta demolição, pretende a Câmara Municipal de Oeiras dar um outro aspecto ao local, inclusivamente construir uma ponte para que as urbanizações da outra margem já edificadas e toda a área ajardinada possam ser mais visitadas e inclusivamente facilitar a passagem aos seus moradores por forma a servirem-se da povoação de Tercena.
     O Bico ainda exibe, embora em grande estado de degradação, vestígios da vivência que ali se fazia no século XV e seguintes relacionados com os antigos engenhos de fabrico de pólvora, são a prova dessa mesma antiguidade.
  Nesse mesmo local vamos encontrar enterradas na lama, no leito do ribeiro, algumas pias de pedra com que os trabalhadores daquele tempo fabricavam a pólvora que seguia para as possessões ultramarinas da grande epopeia marítima de D. Henrique.
     Existiam à beira do ribeiro engenhos de fabrico de pólvora e ali funcionou um, durante algum tempo e por isso concluímos que algumas das habitações que ali ainda hoje se encontram, remontem a esse tempo, embora tivessem sido reconstruídas e melhoradas através dos tempos.
     Os engenhos funcionavam ali, sob alvará passado pelo reino, só que as condições de trabalho eram muito rudimentares e por isso de quando em quando verificavam-se explosões, pelo que D. João V, vendo o descalabro existente mandou vir da Suiça um famoso técnico, chamado António Cremer para construir uma fábrica de pólvora, que passou a chamar-se Real Fabrica da Pólvora, para que a mesma produzisse os explosivos mas de forma mais segura, o que aconteceu precisamente em 1729.
     Essa primeira fábrica foi edificada no local onde mais tarde, já nos nossos tempos, precisamente em Junho de 1994, a Câmara Municipal de Oeiras criou o Museu da Pólvora Negra.
    Os obsoletos engenhos de fabrico de pólvoras edificados à beira do ribeiro persistiram até ao século XVIII e nelas faleceram muitas pessoas, pois, segundo relatam as velhas histórias que até aos nossos dias chegaram, “quase todos os dias havia explosões e nessas obsoletas oficinas, trabalhavam escravos e condenados à morte e era assim que cumpriam os seus castigos, pois mantinham-se vivos enquanto não se registassem acidentes, perdurando a sua existência, embora condicional, enquanto fossem vivos”.
   Obviamente que não há certezas destas discrições, mas a verdade é que os antigos contavam estas histórias, pois já garantiam que já vinham sendo transmitidas de gerações em gerações e como tal eram credíveis, só que nada consta escrito que assim tivesse acontecido, no entanto a existência de “fabriquetas” à beira do ribeiro, isso ninguém tem dúvidas, já que, para além de haver escritos sobre tal, ainda hoje se podem encontrar esses vestígios no lugar do Bico que bem testemunham a sua existência.
    Curioso é observarmos ainda hoje a forma como se roubava a água à ribeira, para encher as duas grandes caldeiras existentes na fábrica, uma vez que todo o sistema funcionava com a força hídrica, pois quando havia seca, a água tinha de fazer mover todos os engenhos montados e as caldeiras eram uma grande reserva para que não houvesse interrupções no serviço, que ainda hoje podem ser visitadas.
   No leito do ribeiro, precisamente no lugar do Bico, foi criado um sistema, onde uma comporta desviava as águas para uma represa, que através de uma canalização, as levava até a uma das caldeiras, situada a cerca de trezentos metros.
   As comportas eram imediatamente accionadas quando havia “deficit” de água, as caldeiras eram cheias e quando as mesmas atingiam os níveis máximos, voltavam a funcionar, mas desta vez para devolverem de novo a água ao ribeiro.
    Paralelamente a este funcional serviço e ajuda prestada pela própria natureza, existia também um outro circuito hídrico que levava a água desde Massamá à Fábrica da Pólvora, por condutas defendidas por uns edifícios, a que o povo se habituou a chamar “minas” já que através deles o líquido era vigiado constantemente por funcionários especializados, uma vez que a água era potável, servindo, na sua passagem, a população de Tercena, que dela se servia durante todo o ano, só que era insuficiente para o funcionamento dos engenhos da Fábrica da Pólvora.
    O lugar do Bico foi por estas razões sempre um local de referência, pois era dali que partia a força hídrica, desde o século XVIII até a meados do século XX, uma vez que, a partir do momento em que a água já não era necessária para colocar a maquinaria em funcionamento, devido ao aparecimento de sistemas mais sofisticados, inclusivamente, a força diesel e mais tarde a luz eléctrica, aquela estrutura construída no lugar do Bico ficou praticamente ao abandono e a pequena caldeira, entre comportas, a que roubava a água ao ribeiro e que depois a devolvia, serviu de piscina para a juventude tomar banho, mas a degradação foi apoderando-se de todo aquele espaço e agora não passa de um amontoado de ferros e betão, envolvidos em arbustos e lixos, sem qualquer utilidade, por onde as águas passam livremente na sua caminhada desde Almornos, onde o ribeiro se inicia até à sua foz no Tejo em Caxias.
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