segunda-feira, 23 de abril de 2012

Crítica à nova produção

A REVISTA À PORTUGUESA DA
 ASSOCIAÇÃO CULTURAL DE TERCENA
 É DE FACTO UM ÊXITO
     A revista à portuguesa estreada na Associação Cultural de Tercena em 30 de Março “Os Filhos da Troika Saloia” após três sessões tem sido alvo de grandes elogios, pois trata-se de um espectáculo actual, moderno, alegre e sobretudo etnográfico.
   Etnográfico porque tem quadros que retratam Tercena no seu passado, como a história que caracterizou o encerramento da capela de Santo António em 1917 em que um grupo de malfeitores tentaram roubar a colecção de azulejos sobre a vida desse santo tão popular no nosso país, mas que um grupo de moradores, pese embora já tivesse sido retirado das paredes do altar uma parte, impediu com determinação.
  A revista, mostra ainda um quadro onde retrata, três das figuras mais castiças nos anos 40 do século passado em Tercena, como foram o “Pedro Siga a Dança” pastor do agricultor João de Peles, sua mulher a “Sebastiana” e ainda o cantoneiro da Câmara Municipal de Oeiras, Clemente Antunes, mais conhecido pelo “Cu Negro”.
    Para além destes quadros mostra ainda uma suposição como teria sido a vida dos primeiros habitantes de “Torgena”, no século XIII, onde uma clã aqui se estabeleceu dando a todo o espaço geográfico onde se integra a actual Tercena, denominada “propriedade dos homens de Torgena” que vivia essencialmente da agricultura.
    Revista que se caracteriza pelo facto de mais de metade do elenco ter sido a primeira vez que pisou o palco e logo alguns dos seus elementos se destacaram, como aconteceu com Ana Valido, Cidália Santos e Patrícia Marques e o grupo de danças formado por crianças.
  O êxito acresce ainda com a actuação dos consagrados, como são Emília Silva e Joaquim Peres, que desde sempre se mostraram com grandes tributos para esta arte dramática, ao lado de Luís Silva, Bebiana Salsinha e Leonel Lourenço que francamente se mostram já com grande presença técnica e dramática, apesar de terem feito ainda poucos espectáculos.
     A grande evolução cénica vai inteirinha para Joana Silva com a sua enorme presença em palco e o improviso adequado e oportuno, sempre necessário neste tipo de espectáculos, Carolina Santos, onde a confirmação do seu valor multifacetado é uma facto indesmentível e Frederico Monteiro, com a sua singeleza, mas dotado de excelente humor e vontade de singrar, não esquecendo a colaboração de Sara Monteiro que interpreta um extraordinário papel de velha em fase terminal, um momento dramático de grande significado e que quase todos os idosos se obrigam a passar por ele.
   Os demais são figuras que completam o elenco e que o valorizam acabando por dar o seu melhor contributo, num espectáculo onde Fernando Silva tentou fazer o seu melhor, adaptando os elementos que reunia, o que não foi nada fácil, mas prescindindo da espectaculosidade cenográfica, tão vulgar neste tipo de teatro, por não possuir, infelizmente, ninguém que executasse os cenários necessários, o que acaba por ser uma enorme carência, apenas ultrapassada pela qualidade de algumas interpretações.
   Um espectáculo que conta ainda com a criatividade musical de Hugo Botica, apoiada pelo acompanhamento ao vivo, executado por Jorge Mendes e seu órgão electrónico, acabando tudo por contribuir para um sucesso de casas cheias, onde em apenas três sessões realizadas a colectividade já registou uma presença de 212 espectadores, dentro de uma sala que comporta apenas setenta pessoas.
  No espectáculo da 26ª Mostra de Teatro de Oeiras, a sala estava atulhada com cem pessoas presentes, estando quase metade da lotação de pé, por não possuir lugar sentado, e ninguém se atreveu a sair dela.
   Dizia a responsável por estas iniciativas promovidas pela Câmara Municipal de Oeiras que “o aumento de público nos espectáculos da Mostra de Teatro deste ano, deve-se ao facto da crise inibir muita gente de assistir aos grandes espectáculos de teatro profissional de Lisboa, por falta de verbas, e optar por estes apresentados pelos amadores e principalmente desta iniciativa que são gratuitos”.
    A verdade é que, para além desse facto, que na realidade ultrapassou todas as perspectivas, os outros dois também tiveram lotações numerosas, o que obriga a colectividade a pensar em novas sessões, mas infelizmente só as realizando quando os amadores encontrarem disponibilidades, estando dependente dos serviços que cada um desempenha e isso é de momento o grande inconveniente e elo inibidor da não se apresentarem mais sessões seguidas.
      De qualquer forma a colectividade está a planear outras datas que por certo irão ser igualmente bem lotadas de público, porque na realidade a peça “Os Filhos da Troika Saloia”, é um espectáculo digno de se ver, não só pela actualidade que apresenta, a crítica constante à incomodativa “Troika” que nos assolou, como pela qualidade, não só do texto, da graciosidade e valia de muitos dos seus intérpretes, portanto aqui deixamos votos para que as pessoas apareçam na Quinta do Filinto porque na realidade vale a pena, tratando-se mesmo de mais um grande êxito, não só de Fernando Silva, que escreveu e encenou este texto, considerado dos melhores concebido ao longo da sua já longa carreira como autor e encenador, como pela boa disposição que o espectáculo produz de princípio a fim e ainda pela grande lição de etnografia que se recebe nesta 21ª produção teatral da Associação Cultural de Tercena.
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