quinta-feira, 14 de junho de 2012

OS ARRAIAIS DE SANTO ANTÓNIO
 JÁ NÃO SÃO COMO ERAM
  Quando em Tercena se fala em Santo António, vem-nos à memória saudosos tempos em que esse dia era passado com bastante alegria.
      É verdade que não havia procissões, porque a igreja estava fechada, mas aos jovens movimentavam-se e organizavam as suas festas em honra do padroeiro da terra, em moldes modestos é certo, mas vivos, cheios de animação e sobretudo com um cariz social muito importante.
  Nos princípios do século passado havia mesmo um grupo de pessoas lideradas por uma grande carola chamada Estefânia Antunes que organizava as festas de Santo António, pese embora sabedores que a sua igreja estava profanada por alguém se ter apoderado de parte dos azulejos do altar em que mostravam a vida do santo, mas a verdade é que no adro, sempre bem limpo e arranjado, preparava-se a quermesse, o bar e o bailarico não faltava, com a igreja aberta para toda a gente a visitar e nesse dia sem os materiais de construção, palhas e capoeiras de animais como sempre se encontrava depois de ter sido profanada.
 As festas deixaram-se de fazer junto àquele templo construído por D. João V, em 1742, devido ao forte vento que sempre soprava nessa altura e tudo destruía, a ponto de desanimar as pessoas pois o trabalho havido, no dia da festa destruía todas as intenções das organizações e até por vezes retirava gente à festa, por se sentirem incomodadas com o ambiente que a natureza impunha naturalmente.
   Mais tarde, no final dos anos quarenta, voltaram a ser organizadas mas de forma mais simples, pois as crianças mobilizavam-se conjuntamente com os seus pais e no largo da colectividade então já existente organizavam-se os festejos abrilhantados com música da telefonia, não faltando os petiscos e as tão tradicionais fogueiras para a queima das alcachofras.


   Mas as pessoas eram tão unidas que com os lucros da festa compravam coisas para oferecerem à sua colectividade, como aconteceu num ano, uma bandeira, no seguinte um guarda-vento para a entrada da colectividade e no outro uma biblioteca carregada de livros.
  Obra social efectuada por crianças de dez e quinze anos que era sempre louvada pelos autarcas de Oeiras em dia de aniversário.
   Os festejos tiveram alguns anos que não se organizaram mas as direcções mais dinâmicas do Grupo Recreativo de Tercena de quando em quando lembravam-se de organizar os festejos, até que num deles juntaram-se de parceria com a comissão da igreja e a festa já teve um cariz diferente, pois possuía a componente religiosa e a profana, mas as pessoas desentenderam-se e passado dois ou três anos, cada um foi para seu lado.
    Presentemente as festas são organizadas com um cariz mais comercial, pois o Grupo Recreativo de Tercena, apenas pensa nos bailes e tirar proventos dos mesmos, colocando um conjunto a tocar e mesas onde se servem sardinhas, outros petiscos e pouco mais, enquanto que a igreja leva a efeito a sua procissão e organiza um singelo convívio entre os seus paroquianos e por aqui se fica, sem grandes atractivos, sem grandes resultados, sem afinal aquele sentimento social organizativo como antigamente, criar os festejos com verdadeiras intenções lúdicas recreativas e sociais, fazendo divertir o povo mas com os resultados a traduzirem-se por algo de interesse para a sociedade.
 Presentemente até são escolhidas as datas dos festejos, sendo preferencialmente as 6ªs e sábados, quando antigamente os festejos eram efectuados nas vésperas e dias dos santos, ou seja, 12 e 13 Santo António, 23 e 24 S. João e 28 e 29 S. Pedro, e as pessoas compareciam em massa, porque sabiam que de facto era nesses dias que as festas eram obrigatórias e legítimas.
  As pessoas estão desligadas uma das outras e como tal as organizações são destituídas de verdadeiras cabeças, sem os autênticos carolas que sabem organizar uma festa, porque o que interessa são os resultados materialistas, pondo-se de parte a componente mais importante, que sem dúvida é a religiosa, pese embora muitos que organizavam estes festejos nem sequer fossem praticantes do catolicismo, mas colaboravam no sentido de dotar a localidade com uma festa alegre, atractiva e demarcante, em redor do seu patrono, como aliás constatamos em outros locais do país.
 Assim, cada um para seu lado, nada se consegue fazer de grandioso, quando afinal se analisarmos bem as estruturas existentes em Tercena, vamos encontrar organismos competentes com valências e gente capacitada e criativa, dotada de recursos e ideias para se fazer em unidade.
     Todos de mãos dadas poderiam fazer uma grande festa que fizesse inveja aos demais, mas as birras, as divergências, as antipatias e sobretudo as reservas existentes entre algumas pessoas têm contribuído bastante para que de ano para ano estas iniciativas tradicionais da nossa terra se vão perdendo e demais que a localidade cada vez mais se vai enchendo de gentes oriundas de outras culturas e etnias que nada sabem sobre Tercena e suas ancestrais tradições e como tal, pouco se interessem por esse salutares e saudosos eventos que desde sempre aqui se organizaram sendo os santos populares os que mais evidência possuíam.
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