terça-feira, 15 de novembro de 2011

Os que contribuiram para a destruição da cultura tercenense

O CINE “SANTO ANTÓNIO” DE TERCENA
  Estávamos no ano de 1976 e Fernando Silva, proprietário do Restaurante Pico do Arieiro em Tercena, era simultaneamente presidente da Grupo Recreativo de Tercena.
  Havia que mudar um pouco as ideias político ou partidárias que circulavam dentro da colectividade devido à existência dos grandes efeitos da revolução “25 de Abril” e como tal era necessário tentar-se a mudança e foi por essas razões que Fernando Silva aceitou o cargo de presidente da direcção.
  Como ideias modernizadas, a direcção pensou em dar um cariz diferente à colectividade e pensou na construção de um cinema, aproveitando a sala que anteriormente tinha servido de escola primária desde 1946 e como agora existia um novo estabelecimento de ensino, era oportuno criar novas estruturas, diferentes e sobretudo que possibilitassem a criação de novos hábitos, e trouxesse, obviamente, melhores e mais receitas para a sua sobrevivência.
 Se bem o pensou bem o fez e então desenvolveu-se um amplo estudo de como tudo deveria ser iniciado e assim aconteceu.
  A sala foi preparada, equipada com cadeiras próprias para o cinema e dentro dela criou-se um balcão onde cabia um bom número de pessoa, já que a plateia bem arrumada possibilitava no conjunto uma lotação de setenta e dois lugares.
   O palco era pequeno mas foi aproveitada toda a largura da sala para colocar o ecran cinematográfico, embora o espaço fosse reduzido para a efectivação de outro tipo de espectáculos.
   Possuía uma porta para o grande corredor e atrás foi criada uma cabine de projecção.
    Os dinheiros foram conseguidos através de festas que se realizaram, com bailes, sessões de fados proporcionadas pelo elenco artístico do Pico do Arieiro e assim se conseguiu comprar as cadeiras numa firma de Santo Estêvão em Benavente, e tudo ficou muito bem montado com a colaboração de alguns amigos, nomeadamente o Duarte Serafim, marceneiro que fez todo o trabalho de carpintaria gratuitamente, sendo inclusivamente uma grande mais valia.
   Foi adquirida uma máquina de projectar de 16 m/m e como naquela época começaram a aparecer os grandes filmes que passavam nos cinemas de Lisboa naquele formato, havia a possibilidade de trazer a Tercena grandes películas, algumas ainda a passarem na capital, o que era na realidade um grande atractivo.
 Podia-se mesmo dizer que era um cinema a funcionar como os de Lisboa, uma vez que os filmes que ali passavam em estreia decorrido um mês e até menos, já se projectavam em Tercena, chamando sempre muita gente à colectividade.
    Lembramos que a estreia do cinema ocorreu em 4 de Janeiro de 1977 com a película protagonizada por Elvis Presley, filme que estava a correr num cinema da capital e por especial deferência da empresa de aluguer permitiu que a copia em 16 m/m passasse igualmente em Tercena, o que foi extraordinário.
 Mas na realidade pelo “Cine Santo António”, nome dado por estar edificado mesmo diante da capela com esse nome, passaram grandes películas, bem referenciadas nos cinemas da capital, como foi “A Batalha das Ardenas”, “A Ponte do Rio Kwai”, “O Golpe” “As Melancólicas” “Rafael sem um adeus”, “Caiu uma garota na minha sopa”, “Os Cavaleiros das Estepes”que fez seis sessões, “Bonnie e Clyde” quatro sessões, entre muitos outros filmes de grande fama e que tinham estado na capital durante meses.
  Em Tercena faziam por vezes três e seis sessões, mas por exemplo a “Ponte do Rio Kwai” que recebeu 34 prémios internacionais com o famoso Alec Guinesse e William Holden atingiu catorze sessões, com espectáculos ao sábado e domingo às 15,30 e 21,30, num total de sete sessões por semana.
  Não era diário, mas o Cine Santo António funcionava às 3ª, 5ª e 6ª feiras, sábados e domingos
   Havia a preocupação de entreter as pessoas e o cinema era apelativo, e levou muita gente nova ao Grupo Recreativo de Tercena, que já não entrava na colectividade desde o 25 de Abril, pois certos indivíduos aproveitaram a euforia da revolução para transformar aquela casa numa segunda sede do Partido Comunista, o que muita gente não gostou deixando de a frequentar.
 O cinema veio alterar um pouco este estado de coisas, dar novos hábitos às pessoas contudo, quando Fernando Silva, deixou a direcção, a primeira coisa que esses senhores fizeram foi destruir o cinema, silenciá-lo, mais por não terem capacidade para o manterem, que por questões políticas, mas uma coisa ficou bem declarada, “O cinema acabou simplesmente por ter sido uma obra de Fernando Silva, que nessa altura era detestado por essa gente apenas por possuir uma grande casa comercial, esquecendo-se todos eles que ela crescera não só pelo dinamismo dos seus proprietários, como pela inovação no âmbito nacional, pois não havia nada igual em Portugal continental, pois servia a desconhecida espetada à moda da Madeira e isso foi fundamental.
   O Pico do Arieiro era o ponto de encontro de gente importante, mas também de gente popular pois todos ali faziam as suas refeições, e foi dessa precisa casa que Fernando Silva e sua esposa “roubaram” muito para dar ao Grupo Recreativo de Tercena, para como produto da venda criarem receitas, assim como festas patrocinadas pelo restaurante.
    Assim se conseguiu arranjar a verba para construir o cinema que encerrou a sua actividade, logo a seguir.
    As cadeiras foram vandalizadas, a ponto de apodrecerem numa arrecadação e mais tarde queimadas e ali nada mais foi feito que se dissesse ser útil à colectividade, uma das razões que muito chocou Fernando Silva, que ali vinha trabalhando desde 1958, em ininterrupto trabalho cénico, mas depois, devido à grande “facada” sofrida, dada pelos comunistas de Tercena abandonou puro e simplesmente a colectividade criando mais tarde a Associação Cultural de Tercena, onde ainda hoje funciona e mantém não só o teatro, como o grupo de folclore.
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