quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Barcarena e Tercena estiveram sempre de costas voltadas

A EXTENSÃO DE BOMBEIROS EM TERCENA FOI UMA DAS PRINCIPAIS RAZÕES

    Estávamos no ano de 1928 e a comissão instaladora da nova colectividade de Tercena, pretendia uma sede, só que não a encontrava, pese embora tivessem corrido todo o lugar em busca de um local, mas melhor não encontraram que o pátio do Guizo, onde faziam algumas festas, para angariação de fundos
  Mas mesmo ali, o espaço era reduzido e só servia no período de Verão, porque de inverno tinham de abortar as iniciativas recreativas e culturais que pretendiam efectuar.
   A ideia surgiu de alguém que se lembrou que a capela de Santo António estava parada há já alguns anos e servia muito bem para sede do Grupo Recreativo de Torcena, contudo era uma igreja e não parecia muito provável que fosse autorizado para servir de colectividade e a ideia ficou adormecida, mas na falta de novas sugestões e o grupo já esta formado, a ideia cresceu, tomou corpo, acabando por obter autorização do Governo Civil de Lisboa mediante o pagamento de uma renda mensal de cinquenta escudos, depois de uma comissão ter falado com o Patriarcado de Lisboa.
   Quando Tercena soube da autorização para instalarem ali a sede da colectividade quase ninguém acreditou, mas a grande verdade é que a partir daquele dia o grupo começou a trabalhar dentro daquelas paredes que tinham ficado profanadas desde que em 1917 alguém tentou roubar os azulejos da capela e a deixou mutilada.
 O grupo fundou-se e a promessa feita ao Patriarcado era considerada quase que utópica, manter-se ali em funcionamento durante dez anos e depois sairiam, pois ano menos ano a capela voltaria a funcionar.
   A verdade é que as promessas daqueles jovens pareciam ser soberanas e não deixaram adormecer o aparecimento da nova sede, uma vez que logo naquele ano, aparecia a doação de um terreno, para a construção da sede, mesmo ao lado da capela pois o local não podia ser melhor, com a estrada a passar ali a dois metros.
  Arranjou-se uma comissão de obras e com alguns materiais dados, outros adquiridos a prestações e com a ajuda preciosa não só do povo, como do Administrador do Banco Espírito Santo, Álvaro Vilela, os dinheiros foram aparecendo para que a obra avançasse no sentido de ao cabo de dez anos estar pronta conforme promessa feita ao Patriarcado.
    Foi difícil, mas conseguiu-se, pois no dia 1 de Agosto de 1938, a nova sede estava concluída, mas havia uma das alas, precisamente a direita que estava ainda por terminar, e isto porque o comendador Álvaro Vilela tinha algo em mente que pretendia colocar naquele espaço.
   De um lado servia para se fazerem as festas, o teatro, os bailes e toda a componente lúdica e cultural e no outro, o grande banqueiro pretendia criar uma extensão dos Bombeiros para que Tercena fosse mais um reforço nos períodos maus em que os bombeiros de Barcarena, se viam aflitos com falta de voluntários, e com aquela nova estrutura, poderia muito bem ser uma importante mais valia naquela área social e humanitária.
    A ideia de Álvaro Vilela era sustentada por uma velho e obsoleto material que possuía na sua Quinta da Estação de Caminho de Ferro de Barcarena, que tinha servido de treino aos funcionários do Banco que pretendiam dar uma ajuda aos jovens e crianças que tinham sido instalados no Orfanato Santa Isabel em Albarraque, acabado de ser inaugurado.
  O material era velho mas ainda tinha grande utilidade e como fora adquirido material novo para Albarraque aquele poderia muito bem servir para aquele fim em Tercena.
  A ideia foi bem aceite pelos tercenenses, mas quando em Barcarena se soube desta decisão de Álvaro Vilela, o povo pensou de imediato que aquele banqueiro estava tentando destruir os Bombeiros de Barcarena, que já possuíam sessenta anos de existência, ideia que fora mesmo tomada como uma grande ofensa e destruidora.
  O benemérito homem ao saber de toda esta oposição, crítica e mal estar entre os dois povos da freguesia, colocou-se logo no meio da questão e como tinha sido ele o homem da ideia, logo a desfez, propondo então que, uma vez não se criar a Extensão de Bombeiros seria para uma escola primária, pois também não existia em Tercena essa estrutura, pois a que funcionava em condições precárias estava montada numa casa particular e não reunia as mínimas condições.
  E assim aconteceu, o Grupo Recreativo de Tercena acabou a obra com algumas ajudas da sua Câmara Municipal, reconheça-se que muito poucas, pois só pagaria a luz, a água e o resto seria por conta da colectividade, mas a utilidade de tal estrutura era tão grande que o sacrifício foi até esse ponto e a grande verdade é que a escola, cerca de sete anos depois aparecia substituindo a que existia.
    Mas se tudo isto se resolveu a contento das duas colectividades, a grande verdade é que a celeuma produzida pelo aparecimento da ideia de Tercena vir a ter uma extensão dos Bombeiros de Barcarena, jamais terminou e perdurou durante muitos anos o que ainda hoje se mantém embora de forma muito mais reduzida, mas a rivalidade continuou, muito especialmente acrescida com a realização de teatros, bailes especiais e iniciativas de índole cultural, que Barcarena e Tercena teimavam em criar em grande número e qualidade, ao despique, só que quer uma, quer outra colectividade diziam sempre serem as melhores e isso causar graves problemas entre as famílias das duas localidades.
  A verdade é que a escola surgiu, deu aulas durante alguns anos até a Câmara Municipal criar uma escola nova e os dois povos azedavam-se de quando em quando, mas felizmente hoje, decorridos mais de setenta anos, as pessoas entendem-se de forma harmoniosa, mas mesmo assim, ainda aparecem por vezes algumas quezílias a propósito dos bombeiros, mas na verdade quer uma quer outra, são duas grandes estruturas, cada uma na sua actividade que têm prestado os melhores serviços às duas comunidades, pois os mais novos já passam por cima destas velhas questões enquanto hoje os mais idosos, aqueles que ainda se recordam dessas desavenças, vão infelizmente desaparecendo e a paz promete chegar e na sua totalidade, pois raramente surgem complicações entre as pessoas de ambas as localidades desse tempo que ainda felizmente são vivas.
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