segunda-feira, 21 de novembro de 2011

A estrada esteve muito tempo encerrada

A ESTRADA DOS EUCALIPTOS E A SEGURANÇA DA FÁBRICA DA PÓLVORA

     As velhas granadas à entrada da estrada particular que servia a Fábrica da Pólvora, foram construídas para identificarem o espaço particular daquela empresa estatal, por onde o trânsito rodoviário que servia à unidade fabril passava e marcava o começo de uma segurança naquela área onde circulavam viaturas e pessoas, mas francamente nunca funcionou com eficácia.
    Os grandes portões de ferro ali existentes agarrados ás granadas construídas em alvenaria, só se abriam para passar as viaturas da empresa, nomeadamente camionetas, pois quase todo o restante tráfico mais ligeiro, passava pela velha estrada das Fontaínhas, contudo viaturas de maior tonelagem não podiam passar naquela apertada curva nas Fontaínhas, local conhecido pela casa da D. Mariana, ou da “Tasca da Bicha Rodilha”, ali existente.
     A curva era muito apertada, pois mesmo os autocarros que faziam a carreira Queluz de Baixo/Caxias tinham alguma dificuldade por isso a empresa escolhera viaturas pequenas, de vinte e dois lugares, que para além de passarem facilmente aquela curva, chegavam bem para o tráfego transportado naquela época.
   Mais tarde, quando as localidades da freguesia se desenvolveram, obviamente que o tráfico aumentou, principalmente nos meses de verão, devido à frequência da população da praia de Caxias.
     A empresa Eduardo Jorge da Venda-Nova, Amadora solicitou à administração da Fábrica da Pólvora uma autorização especial para que os seus autocarros pudessem passar pela estrada particular da Fábrica, que começava no edifício da Secretaria e estendia-se até às velhas granadas, já dentro da localidade de Tercena.
  Contudo os motoristas tinham de abrir e fechar os portões sempre que por ali passavam o que causava algum incómodo, porque natural e teimosamente a proprietária da vivenda existente na curva das Fontaínhas, D. Mariana não autorizava que a sua habitação fosse destruída para que a estrada naquele local fosse alargada.
   As viaturas passaram então a passar por dentro da Fábrica, durante o dia nos seus horários normais e só muito mais tarde, já nos anos sessenta, depois daquela senhora ter falecido, é que a casa foi demolida e a estrada alargada, mas mesmo assim ainda hoje se verifica essa curva acentuada na respectiva estrada das Fontaínhas.
   A estrada dos eucaliptos, como vulgarmente os empregados lhe chamavam, era um local aprazível e isto porque o movimento por ela era muito reduzido, pois para além das camionetas da Fábrica e as carreiras da Empresa Eduardo Jorge que ali passavam, só os moradores no bairro fabril, ou quem viesse a pé de Barcarena para Tercena a utilizavam, por isso o piso mantinha-se sempre bom, já que, quem mais se servia dela eram os funcionários no seu dia a dia a caminho e regresso do trabalho, mas esses não causavam o mínimo desgaste àquela artéria.
    Era bastante arborizada, com palmeiras, eucaliptos e outras árvores, por isso toda ela era envolvida numa permanente sombra o que permitia uma caminhada mais agradável, aos funcionários que a utilizavam diariamente por duas vezes ida e volta.
   A estrada fora construída no princípio do século passado, para dar serventia ao pessoal militar que guardava aquele estabelecimento fabril do Estado e então, na sua extensão, cerca de quinhentos metros, existiam três guaritas construídas em alvenaria.
   Uma logo no seu início, junto ao edifício administrativo onde trabalhavam os empregados de escritório e se concentravam, a direcção e administração da Fábrica, uma segunda mesmo junto à entrada do novo e actual edifício da Universidade Atlântica e uma última ao fim da grande recta, onde curvava para a direita, a escassos metros do termo da estrada.
    Nessas guaritas ficavam dia e noite soldados do quartel de Queluz, que tinham a sua base, na Fábrica da Pólvora, mesmo junto à ponte de ferro que dava acesso à margem sul da ribeira de Barcarena.
    Os soldados estavam ali dia e noite, e dali saíam para fazerem as suas rondas, substituindo os seus camaradas, mas depois da II Guerra Mundial, esse serviço de guarda, deixou de se efectuar, ficando apenas o serviço de guarda, próprio da Fábrica, mas as guaritas continuaram no seu lugar, mas sem qualquer uso, até que, uns anos mais tarde, devido a muitos fazerem delas  retretes,  foram demolidas.
    Esse serviço de vigilância efectuado pelos militares terminou logo após a Fábrica ser vendida a uma empresa privada belga, a Companhia de Pólvoras e Munições de Barcarena, criando um serviço de guarda especial, mas particular.
    A Fábrica teve este importante serviço de guarda durante muitos anos, devido às Guerras Mundiais que estalaram na Europa e os receios de ataques, mas francamente sem qualquer eficácia, porque, se era guardada aquela entrada com tanto rigor e aparato, o ribeiro que passava por dentro da Fábrica, estava completamente descurado, assim como a zona sul da fábrica que dava acesso à carbonização.
  Nesta zona da fábrica existiam muros baixos que de nada serviam, pois quem pretendesse entrar dentro daquele amplo espaço, era muito fácil e depois, a densa arborização no seu interior ainda mais facilidades permitia a quem quisesse ali entrar pois ninguém dava por isso por não haver postos de vigia.
   A vigilância dentro da fábrica foi sempre muito desguarnecida, pois, se no tempo em que os militares cuidavam da vigia daquele espaço ela já era muito deficiente, na época em que foram admitidos guardas particulares para fazerem a sua vigia nocturna, ainda era bem pior.
     Os guardas sem qualquer formação militar, limitavam-se a estar apenas ao portão, e só de duas em duas horas davam uma volta por aquele amplo espaço, mas de nada valia.
      Primeiro, porque nada conseguiam detectar se acaso alguém entrasse dentro da fábrica e depois, as armas obsoletas que usavam a sua acção era nula não lhes permitindo actuar e a grande verdade é que foram várias as vezes que os guardas foram questionados sobre o que fariam se acaso encontrassem alguém estranho dentro da Fábrica e a resposta, não passou de uma gargalhada, acompanhada da seguinte frase.
     “Temos uma espingarda «Mauser», mais velha que a fábrica, nas mãos mas as balas, ficam sempre na casa da guarda e raramente vêm connosco”.
     Havia uma grande confiança nas pessoas e a verdade, reconheça-se, é que foram muito poucas as vezes que foram detectadas pessoas estranhas durante a noite, dentro da Fábrica.
    As que foram encontradas, eram quase sempre pessoas conhecidas que procuravam, caça por ela ali se refugiar, por norma, pombos que dormiam em buracos nas paredes do Pátio do Sol, ou então para roubarem pedaços de metal que por ali ficavam caídos depois das terríveis explosões, de resto alguns guardas  até  garantiam, em jeito de chacota:
    “Estive aqui a trabalhar trinta anos e nunca dei um tiro”.
    “Entrei para a guarda logo no início da Companhia e nunca utilizei a espingarda. Naturalmente se alguma vez necessitasse de o fazer, as armas e as balas estavam ferrugentas”, e estas frases sempre acompanhadas de grandes e estridentes gargalhadas, por isso constatamos que afinal, o serviço de guarda e segurança daquele estabelecimento fabril, nunca foi visto com bons olhos, pese embora o pessoal que ali trabalhou nesse serviço, ao portão e durante o dia, se mostrasse sempre atento e cumpridor dos seus deveres, mas na realidade nunca se passaram casos alarmantes nem que viessem a prejudicar o bom serviço daquela unidade fabril que foi do Estado até 1951, passando a Companhia desde essa data até ao seu encerramento.
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terça-feira, 15 de novembro de 2011

Os que contribuiram para a destruição da cultura tercenense

O CINE “SANTO ANTÓNIO” DE TERCENA
  Estávamos no ano de 1976 e Fernando Silva, proprietário do Restaurante Pico do Arieiro em Tercena, era simultaneamente presidente da Grupo Recreativo de Tercena.
  Havia que mudar um pouco as ideias político ou partidárias que circulavam dentro da colectividade devido à existência dos grandes efeitos da revolução “25 de Abril” e como tal era necessário tentar-se a mudança e foi por essas razões que Fernando Silva aceitou o cargo de presidente da direcção.
  Como ideias modernizadas, a direcção pensou em dar um cariz diferente à colectividade e pensou na construção de um cinema, aproveitando a sala que anteriormente tinha servido de escola primária desde 1946 e como agora existia um novo estabelecimento de ensino, era oportuno criar novas estruturas, diferentes e sobretudo que possibilitassem a criação de novos hábitos, e trouxesse, obviamente, melhores e mais receitas para a sua sobrevivência.
 Se bem o pensou bem o fez e então desenvolveu-se um amplo estudo de como tudo deveria ser iniciado e assim aconteceu.
  A sala foi preparada, equipada com cadeiras próprias para o cinema e dentro dela criou-se um balcão onde cabia um bom número de pessoa, já que a plateia bem arrumada possibilitava no conjunto uma lotação de setenta e dois lugares.
   O palco era pequeno mas foi aproveitada toda a largura da sala para colocar o ecran cinematográfico, embora o espaço fosse reduzido para a efectivação de outro tipo de espectáculos.
   Possuía uma porta para o grande corredor e atrás foi criada uma cabine de projecção.
    Os dinheiros foram conseguidos através de festas que se realizaram, com bailes, sessões de fados proporcionadas pelo elenco artístico do Pico do Arieiro e assim se conseguiu comprar as cadeiras numa firma de Santo Estêvão em Benavente, e tudo ficou muito bem montado com a colaboração de alguns amigos, nomeadamente o Duarte Serafim, marceneiro que fez todo o trabalho de carpintaria gratuitamente, sendo inclusivamente uma grande mais valia.
   Foi adquirida uma máquina de projectar de 16 m/m e como naquela época começaram a aparecer os grandes filmes que passavam nos cinemas de Lisboa naquele formato, havia a possibilidade de trazer a Tercena grandes películas, algumas ainda a passarem na capital, o que era na realidade um grande atractivo.
 Podia-se mesmo dizer que era um cinema a funcionar como os de Lisboa, uma vez que os filmes que ali passavam em estreia decorrido um mês e até menos, já se projectavam em Tercena, chamando sempre muita gente à colectividade.
    Lembramos que a estreia do cinema ocorreu em 4 de Janeiro de 1977 com a película protagonizada por Elvis Presley, filme que estava a correr num cinema da capital e por especial deferência da empresa de aluguer permitiu que a copia em 16 m/m passasse igualmente em Tercena, o que foi extraordinário.
 Mas na realidade pelo “Cine Santo António”, nome dado por estar edificado mesmo diante da capela com esse nome, passaram grandes películas, bem referenciadas nos cinemas da capital, como foi “A Batalha das Ardenas”, “A Ponte do Rio Kwai”, “O Golpe” “As Melancólicas” “Rafael sem um adeus”, “Caiu uma garota na minha sopa”, “Os Cavaleiros das Estepes”que fez seis sessões, “Bonnie e Clyde” quatro sessões, entre muitos outros filmes de grande fama e que tinham estado na capital durante meses.
  Em Tercena faziam por vezes três e seis sessões, mas por exemplo a “Ponte do Rio Kwai” que recebeu 34 prémios internacionais com o famoso Alec Guinesse e William Holden atingiu catorze sessões, com espectáculos ao sábado e domingo às 15,30 e 21,30, num total de sete sessões por semana.
  Não era diário, mas o Cine Santo António funcionava às 3ª, 5ª e 6ª feiras, sábados e domingos
   Havia a preocupação de entreter as pessoas e o cinema era apelativo, e levou muita gente nova ao Grupo Recreativo de Tercena, que já não entrava na colectividade desde o 25 de Abril, pois certos indivíduos aproveitaram a euforia da revolução para transformar aquela casa numa segunda sede do Partido Comunista, o que muita gente não gostou deixando de a frequentar.
 O cinema veio alterar um pouco este estado de coisas, dar novos hábitos às pessoas contudo, quando Fernando Silva, deixou a direcção, a primeira coisa que esses senhores fizeram foi destruir o cinema, silenciá-lo, mais por não terem capacidade para o manterem, que por questões políticas, mas uma coisa ficou bem declarada, “O cinema acabou simplesmente por ter sido uma obra de Fernando Silva, que nessa altura era detestado por essa gente apenas por possuir uma grande casa comercial, esquecendo-se todos eles que ela crescera não só pelo dinamismo dos seus proprietários, como pela inovação no âmbito nacional, pois não havia nada igual em Portugal continental, pois servia a desconhecida espetada à moda da Madeira e isso foi fundamental.
   O Pico do Arieiro era o ponto de encontro de gente importante, mas também de gente popular pois todos ali faziam as suas refeições, e foi dessa precisa casa que Fernando Silva e sua esposa “roubaram” muito para dar ao Grupo Recreativo de Tercena, para como produto da venda criarem receitas, assim como festas patrocinadas pelo restaurante.
    Assim se conseguiu arranjar a verba para construir o cinema que encerrou a sua actividade, logo a seguir.
    As cadeiras foram vandalizadas, a ponto de apodrecerem numa arrecadação e mais tarde queimadas e ali nada mais foi feito que se dissesse ser útil à colectividade, uma das razões que muito chocou Fernando Silva, que ali vinha trabalhando desde 1958, em ininterrupto trabalho cénico, mas depois, devido à grande “facada” sofrida, dada pelos comunistas de Tercena abandonou puro e simplesmente a colectividade criando mais tarde a Associação Cultural de Tercena, onde ainda hoje funciona e mantém não só o teatro, como o grupo de folclore.
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O Pf.Manuel Vaz era um professor austero mas com grande poder de ensino


Último Episódio
ABASTADOS ?...QUEM É QUE DO BAIRRO DA ESTAÇÃO ERA ABASTADO ?...


    A D. Susana Carapeta lembra-se perfeitamente do Professor  Manuel Vaz, pois ainda tem de memória o dia em que foi numa excursão  dirigida por ele à Marinha Grande, das muitas que organizou, sempre no intuito de instruir os seus alunos e de lhes mostrar as grandes fábricas e os grandes pólos económicos do país, atenções de Mestre que hoje praticamente pouco se vê e que naquele tempo já constituía uma das suas grandes  preocupações.
   A D. Susana frequentava a escola do Grémio  da Estação, mas nunca chegou a ser aluna dele e como tal foi integrada no lote de crianças  que ali estudava naquele tempo, para visitar uma  das famosas fábricas de vidros.
     «Não foi meu professor, mas sei que tocava violino muito bem. Eu estava no Grémio, aliás a única escola que na altura havia em Torcena».
    E aproveitou para  nos dizer que as pessoas do Bairro da Estação nessa altura, não eram abastadas, mas sim viviam do produto do seu trabalho, contrariando o depoimento de algumas pessoas neste trabalho.
  «Mas afinal quem eram os abastados aqui do Bairro da Estação?... Ora vinham alunos de todos os lados aqui para a escola. De S. Marcos, Talaíde, Barcarena, Massamá, Tercena e muitas outras localidades, que frequentaram aqui o ensino primário e acabaram por fazer o seu exame da quarta classe».
   A escola era mantida por pessoas residentes no Bairro e não só, como apontou a D. Susana, pois foi graças a esses senhores que as crianças puderam ali aprender e focou alguns desses contribuintes que ajudaram a manter o ensino no Grémio Escolar e obviamente, pagar às professoras, como os senhores, Carapeta, Brás, Vilela, Virgílio Cruz, Neto pai duma professora de piano a D. Argentina Neto, Vieira e muitos outros.
 «Essas pessoas quotizavam-se por forma a que fosse possível ao fim do mês arranjar-se dinheiro para se pagar às professoras que no Grémio Escola davam aulas».
   «A D. Teresa Alão, D. Fernanda de Massamá que ministrava a primeira e segunda  classes e a D. Catarina uma senhora  mulata mas que era uma excelente professora, pois  nós apesar de sermos crianças nunca fizemos qualquer reparo ou comentário ao facto da sua cor de pele».
    A D. Susana fez questão em reafirmar  que as pessoas que viviam na Estação não eram abastadas, e citou  como exemplo o seu pai, que  era apenas oficial do Exército.
  «Eu não considero que ele fosse abastado, embora tivesse alguns valores em Runa deixados pelos seus pais. O Sr. Virgílio Cruz era funcionário da CP e  como tal nunca ouvi dizer que ele fosse abastado. O sr. Brás a mesma coisa e como tal não sei aqui quem é que tivesse sido abastado», contestou a D. Susana a propósito dessa informação veiculada em depoimentos anteriores de outras fontes neste trabalho.
   «Os alunos que aqui estudavam vinham a pé dos mais variados sítios e no Inverno quando chegavam tinham de tirar as botas à porta da escola porque  estavam atolados  em lama e que eu saiba todas essas crianças eram filhas de gente pobre».
     E lembrou-se  depois do Álvaro Vilela o único, em sua perspectiva, que poderia ser considerado abastado, mas mesmo sim garantiu-nos que não sabia como.
  Álvaro Vilela foi director do Banco Espírito Santo em Lisboa, mantinha em Tercena um palacete servido por  diversos criados, todos eles com funções específicas, cozinheira, ama de quartos, carpinteiro,  governanta, que bem conhecemos a Conceição Barbosa e muitos outros, no entanto a D. Susana não reconhece tratar-se de um homem abastado.
  «Não sei porque consideravam o Sr. Vilela como um homem abastado. Apenas por ter sido director do banco?... É preciso  que saibam que esse senhor, se obteve a posição que conseguiu, subiu a pulso, com o esforço do seu trabalho, de horas extraordinárias que fez e como tal chegou ao ponto que chegou.»
   «Todos nós daqui ficamos  muito a dever ao Sr. Vilela, pois foi ele que levou muita gente  daqui e conseguir o seu trabalho no Banco Espírito Santo», salientou aquela senhora. 
 E recordou o seu ex-marido, Coelho Marques que alcançou uma excelente posição  no Banco de Fomento e Exterior de onde está actualmente reformado por mérito próprio, mas jamais sendo um abastado.
  «Ora em face  de tudo isto não vejo quem é que por aqui  tivesse sido abastado».
 E recordou depois o seu avô que foi engenheiro e serviu a Fábrica da Pólvora durante vinte e tal anos como Mestre.
    Chamava-se Aníbal de Azevedo que acabou por merecer o nome de uma rua na cidade da Amadora pois foi através dos seus grandes esforços e dedicação que viera a recebera essa homenagem.
  «Era acérrimo republicano e deputado. Foi  administrador da Câmara Municipal de Sintra acabando mesmo por ser Ministro do Comércio, pois foi notável o seu dedicado trabalho para elevar a freguesia a actual cidade de Amadora».
   «Ao meu avô igualmente se ficou muito a dever pois levou bastantes rapazes daqui para a Casa da Moeda onde esteve durante muito tempo», afirmou convicta de que, apesar de tal não era uma pessoa abastada.
  E a propósito do Sr. Álvaro Vilela, um grande benemérito que viveu em Tercena, muita gente ainda hoje ousa tecer comentários desagradáveis contra as suas atitudes naquele tempo, esquecendo-se  esses indivíduos, que não sabem fazer outra coisa que não seja dizer mal e criticar os outros, que, por exemplo o Grupo Recreativo de Tercena, foi produto do seu esforço, dedicação e do muito dinheiro que  emprestara  aquando da  construção do edifício sede daquela colectividade.
    «Uma verdade indesmentível. É uma grande vergonha, essa falta de reconhecimento de algumas das pessoas da terra, pois ele ajudou toda a gente, inclusivamente os próprios Bombeiros Voluntários de Barcarena, a ponto de ter criado uma secção de bombeiros na sua casa, e proporcionando  muitos exercícios simulacros no seu palacete, no sentido de dotar os «soldados da paz», com maiores aptidões».
   E Tercena hoje não tem um quartel de Bombeiros porque encontrou sempre uma enorme oposição por parte das direcções dos Bombeiros de Barcarena que o levou mesmo a desistir, pois chegou a haver receios de que a criação da secção de Tercena viesse mais tarde superar a Associação de Barcarena, pois ele até deu a sugestão ao conceber-se o  imóvel do Grupo Recreativo de Tercena,  ficar equipado numa ala do edifício, instalações apropriadas  para  o funcionamento dum quartel de bombeiros.
    Essa ideia não foi avante e esse  espaço acabaria depois por ser utilizado para uma escola primária e o material existente repartido por corporações dos arredores, inclusive a que ele fundou no Orfanato Escola Santa Isabel em Albarraque.
   E para terminar esta conversa franca e espontânea, a D. Susana Carapeta confirmou que infelizmente existem sempre rivalidades nas localidades e este caso dos abastados, terá sido uma razão da pequena diferença de mentalidades existente entre as pessoas que nesse tempo viviam no Bairro da Estação e as do lugar, porque ao fim e ao cabo, era a maneira de viver delas que impressionava os vizinhos do lugar de Torcena, porque afinal, abastados, abastados só reconhecemos de facto o  Sr. Álvaro Vilela,  pois os outros viviam do produto honesto dos seus trabalhos, mas mesmo assim, a vida no lugar era tão pobre, tão resumida, as pessoas tão simples quanto ignorantes, que era precisamente isso que os obrigava por vezes a focar essa distinção.
   «Sempre existiram rivalidades, por isso é que existem guerras, e senão vejamos no nosso país que é tão pequeno a guerra que se trava diariamente entre o norte e  o sul. Instalaram-se  doentias rivalidades entre Porto e Lisboa. Nas vilas, nas diversas cidades do país contra as capitais de distrito, e inclusivamente toda a gente sabe da  bastante antiga rivalidade entre Tercena e Barcarena, duas terras que foram sempre tão pequenas e insignificantes em relação ao país, mas infelizmente com azedumes entre as pessoas e as vezes sem razões para tal. É assim, mas nem sempre podemos aceitar as ideias dos outros, porque abastados?....  Quem é que do Bairro da Estação era abastado?...»,  concluiu a D. Susana Carapeta, a propósito das suas lembranças e relacionamentos  sobre o  Professor Manuel Vaz, outra grande amante da terra onde vive há muitos anos e onde tem feito a sua vida, sempre pronta em colaborar nas iniciativas locais no sentido da preservação do bom nome das gentes que aqui sempre viveram e que lutaram, heroicamente por este pedaço de torrão do concelho de Oeiras.

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segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Existe uma "Tercenas" na praia da Vieira de Leiria

“TERCENAS”
É O NOME DE UMA PONTE EXISTENTE NA PRAIA DA VIEIRA NO CONCELHO DA MARINHA GRANDE

   Descobrimos há dias que existe uma ponte chamada “Tercenas”, precisamente no concelho da Marinha Grande, junto à praia da Vieira de Leiria, mandada construir pela ex-Direcção Geral dos Serviços de Hidráulica nos anos setenta do século passado.
   Logo nos despertou a curiosidade de saber imediatamente porque razão aquele nome, uma vez que a localidade do concelho de Oeiras, agora denominada Tercena, se chamou nos anos sessenta do século XIX, “Tercenas”, pois nela nasceram pessoas e entre elas um parente nosso de nome Manuel Antunes.
  A localidade passaria a chamar-se mais tarde, “Torcena” e em  1930, a mesma terra  mudaria uma vez mais de nomenclatura passando a ser conhecida por “Tercena”, ou seja, simplesmente  retirado o “o” e colocado o “e”, e isto por o dicionário indicar o significado da palavra Tercena e ele se assemelhar à actividade industrial que nela funcionava.
   Falamos com diversas entidades do concelho da Marinha Grande, mas ninguém nos forneceu em concreto a origem dessa nomenclatura dada à ponte que atravessa o Rio Lis, curiosamente, agora até se encontrar interdita, por se apresentar em más condições
    Da Câmara Municipal de Marinha Grande, foi-nos dito que a nome tinha esse nome por “existir ali um pequenino lugar com esse nome”, mas nos seus conhecimentos, nada se relacionar com a possível origem, “fábricas de material de guerra, explosivos ou outros”, nem tão pouco se tratar de uma “zona agrícola onde pudessem existir silos cerealíferos”.
   Por sua vez, contactado o “Diário de Leiria” que dá ênfase ao mau estado da referida ponte, o jornalista com quem falamos admite a hipótese de ter havido “um grande movimento agrícola, nessa época”, mas sem ter a certeza do que admitia.
   Por sua vez o presidente da Junta de Freguesia de Vieira, entidade que pertence ao lugar onde se encontra a ponte, garantiu-nos que a sua nomenclatura terá a haver com “a embarcação de madeiras” que ali se fazia em tempos mais recuados.
   “As madeiras eram carregadas naquele local nos barcos no rio Lis que desagua na praia da Vieira, entre outros sítios onde se faziam esses carregamentos e aquele se chamar, precisamente “Tercenas”.
   Insistimos na ideia de poder ter havido em tempos algum depósito de pólvoras, arsenais de guerra ou equivalente, mas o senhor presidente garantiu-nos não ter conhecimento.
   “A ponte não é muito antiga, agora o nome é que é anterior, pois será fácil de saber, só que é necessário pesquisar em arquivos antigos, ou em documentos já com alguns anos”.
   E a ponte das Tercenas em Vieira de Leiria continua interdita ao trânsito, tendo sido “substituída por terra batida”, e nós agarrados à nossa natural curiosidade, continuamos a acreditar que terá sido na realidade por via desse embarque de madeiras que a nomenclatura do local terá surgido, cujo nome é precisamente igual àquele que sabemos ter existido nesta localidade, pelo menos em 1865, ano em que nasceu Manuel Antunes um digno agricultor filho desta terra, que muito nos orgulha.
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Lembranças da Fábrica da Pólvora

A ESTRADA DOS EUCALIPTOS E A SEGURANÇA DA FÁBRICA DA PÓLVORA

     As velhas granadas à entrada da estrada particular que servia a Fábrica da Pólvora, foram construídas para identificarem o espaço particular daquela empresa estatal, por onde o trânsito rodoviário que servia à unidade fabril passava e marcava o começo de uma segurança naquela área onde circulavam viaturas e pessoas, mas francamente nunca funcionou com eficácia.
    Os grandes portões de ferro ali existentes agarrados ás granadas construídas em alvenaria, só se abriam para passar as viaturas da empresa, nomeadamente camionetas, pois quase todo o restante tráfico mais ligeiro, passava pela velha estrada das Fontaínhas, contudo viaturas de maior tonelagem não podiam passar naquela apertada curva nas Fontaínhas, local conhecido pela casa da D. Mariana, ou da “Tasca da Bicha Rodilha”, ali existente.
     A curva era muito apertada, pois mesmo os autocarros que faziam a carreira Queluz de Baixo/Caxias tinham alguma dificuldade por isso a empresa escolhera viaturas pequenas, de vinte e dois lugares, que para além de passarem facilmente aquela curva, chegavam bem para o tráfego transportado naquela época.
   Mais tarde, quando as localidades da freguesia se desenvolveram, obviamente que o tráfico aumentou, principalmente nos meses de verão, devido à frequência da população da praia de Caxias.
     A empresa Eduardo Jorge da Venda-Nova, Amadora solicitou à administração da Fábrica da Pólvora uma autorização especial para que os seus autocarros pudessem passar pela estrada particular da Fábrica, que começava no edifício da Secretaria e estendia-se até às velhas granadas, já dentro da localidade de Tercena.
  Contudo os motoristas tinham de abrir e fechar os portões sempre que por ali passavam o que causava algum incómodo, porque natural e teimosamente a proprietária da vivenda existente na curva das Fontaínhas, D. Mariana não autorizava que a sua habitação fosse destruída para que a estrada naquele local fosse alargada.
   As viaturas passaram então a passar por dentro da Fábrica, durante o dia nos seus horários normais e só muito mais tarde, já nos anos sessenta, depois daquela senhora ter falecido, é que a casa foi demolida e a estrada alargada, mas mesmo assim ainda hoje se verifica essa curva acentuada na respectiva estrada das Fontaínhas.
   A estrada dos eucaliptos, como vulgarmente os empregados lhe chamavam, era um local aprazível e isto porque o movimento por ela era muito reduzido, pois para além das camionetas da Fábrica e as carreiras da Empresa Eduardo Jorge que ali passavam, só os moradores no bairro fabril, ou quem viesse a pé de Barcarena para Tercena a utilizavam, por isso o piso mantinha-se sempre bom, já que, quem mais se servia dela eram os funcionários no seu dia a dia a caminho e regresso do trabalho, mas esses não causavam o mínimo desgaste àquela artéria.
    Era bastante arborizada, com palmeiras, eucaliptos e outras árvores, por isso toda ela era envolvida numa permanente sombra o que permitia uma caminhada mais agradável, aos funcionários que a utilizavam diariamente por duas vezes ida e volta.
   A estrada fora construída no princípio do século passado, para dar serventia ao pessoal militar que guardava aquele estabelecimento fabril do Estado e então, na sua extensão, cerca de quinhentos metros, existiam três guaritas construídas em alvenaria.
   Uma logo no seu início, junto ao edifício administrativo onde trabalhavam os empregados de escritório e se concentravam, a direcção e administração da Fábrica, uma segunda mesmo junto à entrada do novo e actual edifício da Universidade Atlântica e uma última ao fim da grande recta, onde curvava para a direita, a escassos metros do termo da estrada.
    Nessas guaritas ficavam dia e noite soldados do quartel de Queluz, que tinham a sua base, na Fábrica da Pólvora, mesmo junto à ponte de ferro que dava acesso à margem sul da ribeira de Barcarena.
    Os soldados estavam ali dia e noite, e dali saíam para fazerem as suas rondas, substituindo os seus camaradas, mas depois da II Guerra Mundial, esse serviço de guarda, deixou de se efectuar, ficando apenas o serviço de guarda, próprio da Fábrica, mas as guaritas continuaram no seu lugar, mas sem qualquer uso, até que, uns anos mais tarde, devido a muitos fazerem delas  retretes,  foram demolidas.
    Esse serviço de vigilância efectuado pelos militares terminou logo após a Fábrica ser vendida a uma empresa privada belga, a Companhia de Pólvoras e Munições de Barcarena, criando um serviço de guarda especial, mas particular.
    A Fábrica teve este importante serviço de guarda durante muitos anos, devido às Guerras Mundiais que estalaram na Europa e os receios de ataques, mas francamente sem qualquer eficácia, porque, se era guardada aquela entrada com tanto rigor e aparato, o ribeiro que passava por dentro da Fábrica, estava completamente descurado, assim como a zona sul da fábrica que dava acesso à carbonização.
  Nesta zona da fábrica existiam muros baixos que de nada serviam, pois quem pretendesse entrar dentro daquele amplo espaço, era muito fácil e depois, a densa arborização no seu interior ainda mais facilidades permitia a quem quisesse ali entrar pois ninguém dava por isso por não haver postos de vigia.
   A vigilância dentro da fábrica foi sempre muito desguarnecida, pois, se no tempo em que os militares cuidavam da vigia daquele espaço ela já era muito deficiente, na época em que foram admitidos guardas particulares para fazerem a sua vigia nocturna, ainda era bem pior.
     Os guardas sem qualquer formação militar, limitavam-se a estar apenas ao portão, e só de duas em duas horas davam uma volta por aquele amplo espaço, mas de nada valia.
      Primeiro, porque nada conseguiam detectar se acaso alguém entrasse dentro da fábrica e depois, as armas obsoletas que usavam a sua acção era nula não lhes permitindo actuar e a grande verdade é que foram várias as vezes que os guardas foram questionados sobre o que fariam se acaso encontrassem alguém estranho dentro da Fábrica e a resposta, não passou de uma gargalhada, acompanhada da seguinte frase.
     “Temos uma espingarda «Mauser», mais velha que a fábrica, nas mãos mas as balas, ficam sempre na casa da guarda e raramente vêm connosco”.
     Havia uma grande confiança nas pessoas e a verdade, reconheça-se, é que foram muito poucas as vezes que foram detectadas pessoas estranhas durante a noite, dentro da Fábrica.
    As que foram encontradas, eram quase sempre pessoas conhecidas que procuravam, caça por ela ali se refugiar, por norma, pombos que dormiam em buracos nas paredes do Pátio do Sol, ou então para roubarem pedaços de metal que por ali ficavam caídos depois das terríveis explosões, de resto alguns guardas  até  garantiam, em jeito de chacota:
    “Estive aqui a trabalhar trinta anos e nunca dei um tiro”.
    “Entrei para a guarda logo no início da Companhia e nunca utilizei a espingarda. Naturalmente se alguma vez necessitasse de o fazer, as armas e as balas estavam ferrugentas”, e estas frases sempre acompanhadas de grandes e estridentes gargalhadas, por isso constatamos que afinal, o serviço de guarda e segurança daquele estabelecimento fabril, nunca foi visto com bons olhos, pese embora o pessoal que ali trabalhou nesse serviço, ao portão e durante o dia, se mostrasse sempre atento e cumpridor dos seus deveres, mas na realidade nunca se passaram casos alarmantes nem que viessem a prejudicar o bom serviço daquela unidade fabril que foi do Estado até 1951, passando a Companhia desde essa data até ao seu encerramento.
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quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Barcarena e Tercena estiveram sempre de costas voltadas

A EXTENSÃO DE BOMBEIROS EM TERCENA FOI UMA DAS PRINCIPAIS RAZÕES

    Estávamos no ano de 1928 e a comissão instaladora da nova colectividade de Tercena, pretendia uma sede, só que não a encontrava, pese embora tivessem corrido todo o lugar em busca de um local, mas melhor não encontraram que o pátio do Guizo, onde faziam algumas festas, para angariação de fundos
  Mas mesmo ali, o espaço era reduzido e só servia no período de Verão, porque de inverno tinham de abortar as iniciativas recreativas e culturais que pretendiam efectuar.
   A ideia surgiu de alguém que se lembrou que a capela de Santo António estava parada há já alguns anos e servia muito bem para sede do Grupo Recreativo de Torcena, contudo era uma igreja e não parecia muito provável que fosse autorizado para servir de colectividade e a ideia ficou adormecida, mas na falta de novas sugestões e o grupo já esta formado, a ideia cresceu, tomou corpo, acabando por obter autorização do Governo Civil de Lisboa mediante o pagamento de uma renda mensal de cinquenta escudos, depois de uma comissão ter falado com o Patriarcado de Lisboa.
   Quando Tercena soube da autorização para instalarem ali a sede da colectividade quase ninguém acreditou, mas a grande verdade é que a partir daquele dia o grupo começou a trabalhar dentro daquelas paredes que tinham ficado profanadas desde que em 1917 alguém tentou roubar os azulejos da capela e a deixou mutilada.
 O grupo fundou-se e a promessa feita ao Patriarcado era considerada quase que utópica, manter-se ali em funcionamento durante dez anos e depois sairiam, pois ano menos ano a capela voltaria a funcionar.
   A verdade é que as promessas daqueles jovens pareciam ser soberanas e não deixaram adormecer o aparecimento da nova sede, uma vez que logo naquele ano, aparecia a doação de um terreno, para a construção da sede, mesmo ao lado da capela pois o local não podia ser melhor, com a estrada a passar ali a dois metros.
  Arranjou-se uma comissão de obras e com alguns materiais dados, outros adquiridos a prestações e com a ajuda preciosa não só do povo, como do Administrador do Banco Espírito Santo, Álvaro Vilela, os dinheiros foram aparecendo para que a obra avançasse no sentido de ao cabo de dez anos estar pronta conforme promessa feita ao Patriarcado.
    Foi difícil, mas conseguiu-se, pois no dia 1 de Agosto de 1938, a nova sede estava concluída, mas havia uma das alas, precisamente a direita que estava ainda por terminar, e isto porque o comendador Álvaro Vilela tinha algo em mente que pretendia colocar naquele espaço.
   De um lado servia para se fazerem as festas, o teatro, os bailes e toda a componente lúdica e cultural e no outro, o grande banqueiro pretendia criar uma extensão dos Bombeiros para que Tercena fosse mais um reforço nos períodos maus em que os bombeiros de Barcarena, se viam aflitos com falta de voluntários, e com aquela nova estrutura, poderia muito bem ser uma importante mais valia naquela área social e humanitária.
    A ideia de Álvaro Vilela era sustentada por uma velho e obsoleto material que possuía na sua Quinta da Estação de Caminho de Ferro de Barcarena, que tinha servido de treino aos funcionários do Banco que pretendiam dar uma ajuda aos jovens e crianças que tinham sido instalados no Orfanato Santa Isabel em Albarraque, acabado de ser inaugurado.
  O material era velho mas ainda tinha grande utilidade e como fora adquirido material novo para Albarraque aquele poderia muito bem servir para aquele fim em Tercena.
  A ideia foi bem aceite pelos tercenenses, mas quando em Barcarena se soube desta decisão de Álvaro Vilela, o povo pensou de imediato que aquele banqueiro estava tentando destruir os Bombeiros de Barcarena, que já possuíam sessenta anos de existência, ideia que fora mesmo tomada como uma grande ofensa e destruidora.
  O benemérito homem ao saber de toda esta oposição, crítica e mal estar entre os dois povos da freguesia, colocou-se logo no meio da questão e como tinha sido ele o homem da ideia, logo a desfez, propondo então que, uma vez não se criar a Extensão de Bombeiros seria para uma escola primária, pois também não existia em Tercena essa estrutura, pois a que funcionava em condições precárias estava montada numa casa particular e não reunia as mínimas condições.
  E assim aconteceu, o Grupo Recreativo de Tercena acabou a obra com algumas ajudas da sua Câmara Municipal, reconheça-se que muito poucas, pois só pagaria a luz, a água e o resto seria por conta da colectividade, mas a utilidade de tal estrutura era tão grande que o sacrifício foi até esse ponto e a grande verdade é que a escola, cerca de sete anos depois aparecia substituindo a que existia.
    Mas se tudo isto se resolveu a contento das duas colectividades, a grande verdade é que a celeuma produzida pelo aparecimento da ideia de Tercena vir a ter uma extensão dos Bombeiros de Barcarena, jamais terminou e perdurou durante muitos anos o que ainda hoje se mantém embora de forma muito mais reduzida, mas a rivalidade continuou, muito especialmente acrescida com a realização de teatros, bailes especiais e iniciativas de índole cultural, que Barcarena e Tercena teimavam em criar em grande número e qualidade, ao despique, só que quer uma, quer outra colectividade diziam sempre serem as melhores e isso causar graves problemas entre as famílias das duas localidades.
  A verdade é que a escola surgiu, deu aulas durante alguns anos até a Câmara Municipal criar uma escola nova e os dois povos azedavam-se de quando em quando, mas felizmente hoje, decorridos mais de setenta anos, as pessoas entendem-se de forma harmoniosa, mas mesmo assim, ainda aparecem por vezes algumas quezílias a propósito dos bombeiros, mas na verdade quer uma quer outra, são duas grandes estruturas, cada uma na sua actividade que têm prestado os melhores serviços às duas comunidades, pois os mais novos já passam por cima destas velhas questões enquanto hoje os mais idosos, aqueles que ainda se recordam dessas desavenças, vão infelizmente desaparecendo e a paz promete chegar e na sua totalidade, pois raramente surgem complicações entre as pessoas de ambas as localidades desse tempo que ainda felizmente são vivas.
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