sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

As ruas e urbanizações com nomes desconhecidos

NOVA URBANIZAÇÃO DE TERCENA DEVERIA CHAMAR-SE
 BAIRRO “DR. JOAQUIM CABRAL”
      Se a arquitectura do passado está ameaçada, com casas dos séculos XIX e XX em franca degradação, a caírem aos bocados, telhados a ruir e jardins repletos de silvados, a grande verdade é que em outros bairros de Tercena, começam agora a aparecer novas edificações que muito vêm embelezar a terra e caracterizá-la com as suas modernas linhas, a sua arquitectura modernista e de visual bastante agradável.
  Ao cimo da Av. da Juventude, vamos encontrar, precisamente nuns terrenos onde antigamente se encontrava o “Moinho do Cabral”, vizinho do ainda existente “Moinho Encarnado”, estruturas saloias que já não funcionaram durante todo o século XX, com o primeiro a resistir, com as suas desmoronadas e enegrecidas paredes, até finais dos anos noventa, por total abandono, uma nova urbanização que nos atrevemos a baptizá-la por “Bairro Joaquim Cabral”.
       Ali resistiu heróico e altaneiro esse velho moinho, que moeu muitos milhares de alqueires de trigo e que, em tempos funcionou com uma grande dinâmica, já que os terrenos envolventes eram de ondulantes e louros trigais, pertencentes, entre outros proprietários ao agricultor João de Peles e ao famoso médico barcarenense Dr. Joaquim Cabral.
   Essa urbanização está em franco crescimento, com vivendas encantadoras, que não fogem ao mesmo estilo e que, depois de concluída irá valorizar ainda mais Tercena, que aos poucos se vai esquecendo das suas características rurais, passando a uma localidade onde a modernidade começa a imperar.
    Muito tempo parada, com a suas casas típicas térreas, dotadas de quintais onde se criavam animais e logradouros onde as couves e as alfaces cresciam constantemente, hoje já são poucas as existentes, pois as demais têm sido adquiridas por construtores e transformadas em altos edifícios, mais rentáveis, dando força à especulação imobiliária, que, por mais casas que se construam, mais caros vão sendo os seus alugueres, ou preços de venda.
    Certamente será o que está reservado a todas as antigas vivendas que se encontram no bairro da Estação, pois o seu abandono por parte dos proprietários, levarão certamente à demolição geral e nesses espaços, a construção de prédios altos, rentáveis, a exemplo do que aconteceu no bairro contíguo, mesmo diante da estação de caminho de ferro, e francamente, para não destoar muito do que foi feito no outro lado da linha férrea, em Massamá.
  O bairro que nos atrevemos a chamar “Joaquim Cabral”, cresce a passos largos e em breve será mais um espaço dormitório de Tercena, sossegado é certo, mas que virá a ser habitado por gente de grande poder económico, o que contrastará com a pessoa que neste caso, lhe poderá vir a dar o nome, pois o famoso médico de Barcarena, era uma pessoa popular, amiga dos pobres e defensora das classes mais desfavorecidas.
   De qualquer forma, a verdade é que aqueles terrenos estão a ser transformados à força do betão e só esperamos que a Câmara Municipal se lembre de ali introduzir algo que embeleze e caracterize o bairro e porque não uma praceta com um antigo moinho de vento, não só para preservar esse antigo edifício que ali existiu durante mais de um século, como também prestando homenagem a uma zona que foi, sem dúvida um dos grandes celeiros de “Torcena” antiga, não só pelo cultivo do trigo, como também pela pastorícia, já que era ali que pastavam diariamente os imensos rebanhos de ovelhas do agricultor João de Peles.
   O novo bairro tem as suas ruas com nomes de escritores e jornalistas, na sua maioria desconhecidos, que nada dizem à população antiga e muito menos aos seus novos habitantes, pois vamos encontrar a rua Jorge de Vasconcelos que apenas se sabe que foi jornalista e viveu entre 1937 e 1993.
   David Mourão Ferreira também dá nome a uma rua, mas este sim, é bem conhecido de todos nós, como escritor e um dos grandes poetas portugueses. David de Jesus Mourão-Ferreira nasceu a 24 de Fevereiro de 1927 e faleceu a 16 de Junho de 1996. Foi um escritor e poeta lisboeta licenciado em Filologia Românica pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa em 1951, onde mais tarde em 1957 foi professor, tendo-se destacado como um dos grandes poetas contemporâneos do Século XX. Mourão-Ferreira trabalhou para vários periódicos, dos quais se destacam a “Seara Nova” e o “Diário Popular”, para além de ter sido um dos fundadores da revista “Távola Redonda”. Entre 1963 e 1973 foi secretário-geral da Sociedade Portuguesa de Autores. No pós-25 de Abril, foi director do jornal “A Capital” e director-adjunto do “O Dia”. No governo, desempenhou o cargo de Secretário de Estado da Cultura, de 1976 a Janeiro de 1978, e em 1979. Foi por ele assinado, em 1977, o despacho que criou a Companhia Nacional de Bailado. Mourão Ferreira foi autor de alguns programas de televisão de que se destacam "Imagens da Poesia Europeia", para a RTP.
  Já o escritor António Ferreira, não tem qualquer cabimento nos topónimos da localidade pois nasceu em 1528 e faleceu em 1569 e hoje já ninguém sabe afinal quem foi, devido a ter-se passado mais de quatro séculos sobre a sua morte, contudo foi um escritor e humanista português, considerado um dos maiores poetas do classicismo renascentista de língua portuguesa, conhecido como "o Horácio português".
  João dos Reis Gomes dá o nome a uma outra rua, tratando-se de um escritor/professor que viveu entre 1869 e 1950. Nasceu na freguesia da São Pedro, Funchal, a 5 de Janeiro de 1869. Entre 1892 e 1917 pertenceu ao quadro de arma de Artilharia, passando à reserva no posto de major em 31 de Março de 1917. A sua carreira de professor foi iniciada no magistério do ensino secundário em 1900 como professor provisório do Liceu do Funchal. Durante 28 anos prestou serviços nessa instituição na secção das Ciências, cargo que teve de abandonar por incompatibilidade legal como professor efectivo do ensino técnico da Escola Industrial do Funchal. Em Dezembro de 1922 promoveu e orientou as festas do 5º Centenário da Descoberta da Madeira e em Outubro de 1927 organizou a Delegação no Funchal da Sociedade Histórica de Independência de Portugal.
 Foi director do “Heraldo da Madeira” e de 1916 a 1940 do “Diário da Madeira”. Segundo
Luiz Peter Clode, João Reis Gomes “foi o primeiro dramaturgo que em Portugal fundiu a acção do cinema com a do teatro, no último quadro da sua peça histórica: Guiomar Teixeira em que se desenrola ao fundo na tela uma batalha entre cristãos e muçulmanos, comentada no primeiro plano pelos intérpretes que se consideram dentro da fortaleza de Safin”.
    Vamos encontrar ainda a praceta José de Figueiredo que nasceu em 1899 tendo falecido em 1965,mas pouco se sabendo sobre esta figura. Dão-se nomes às ruas e urbanizações que nada dizem à freguesia, nem ao concelho, quando afinal temos por cá gente que teve uma acção meritória, criativa e que muito contribuiu para o desenvolvimento desta terra e acaba por ser ignorada.
   Não sabemos quem atribui estas nomenclaturas às ruas, mas a grande verdade é que antes de serem baptizadas, deveriam ser consultados os responsáveis das autarquias locais para que estes promovessem sessões de recolha, no sentindo de se conseguir saber, junto da sociedade quais as pessoas antigas que merecem figurar na toponímia da localidade onde nasceu, ou viveu parte de sua vida.
     No bairro por cima da Fábrica da Pólvora, esse trabalho foi feito, e muito acertadamente, pois todos aqueles nomes de ruas têm um grande significado para o povo da freguesia porque foram pessoas e locais que muito dignificaram a nossa região.
    Era esse exemplo que deveria ser seguido para as demais urbanizações que aos poucos vão aparecendo na freguesia e esta em Tercena, que consideramos de grande qualidade, deveria na realidade ser baptizada como o Bairro Dr. Joaquim Cabral, porque se tratou de um grande e humano clínico da nossa freguesia.
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